sábado, 24 de março de 2012

Primavera, running e tracking

Aparentemente a primavera chegou mais cedo do que todos esperavam em Ithaca, no meu ultimo ano em Cornell. Abril ainda nem comecou e voce jah anda pelo campus e ve as seguintes imagens:



E isso melhora muito o humor coletivo. Um dia, eu abri olhei o Weather e vi algo assim:



Depois de me convencer que nao era um erro e que realmente estavam 22 graus eu resolvi ir correr. Cornell eh naturalmente interessante de se ir correr, mas o que estah deixando as minhas corridas mais interessantes eh o meu atual habito de track a minha posicao no tempo-espaco constantemente. Eu instalei o Google Latitude e ele captura de tantos em tantos minutos a minha posicao - o que adiciona um prazer extra a corrida - nao eh soh estar ao ar livre, correndo em meio do mato, eh depois ter varios info-graficos e analytics interessantes para ficar vendo depois ! A minha primeira foi essa aqui no dia 15  de marco:

Em geral eu gosto de correr nos mesmos lugares, mas a tentacao de gerar graficos diferentes eh maior do que a minha constancia como corredor. Outros dois trajetos nos dia 21 e 24 de marco:



A minha mania de analisar meus trajetos comecou bem antes da primavera: eu comecei a usar a Latitude em Janeiro quando eu estava no Rio e tenho usando ele desde entao. Uma coisa interessante eh ver sua posicao ao longo de um mes inteiro. Em janeiro, onde eu acabei viajando bastante, o mapa ficou particularmente interessante:


Uma coisa que eu particularmente gosto eh q o Latitude me dah uma seria de graficos interessantes. De alguma forma ele aprendeu onde eh minha casa e onde eh meu escritorio e eu consigo plotar o tempo por dia que eu passo em casa, o tempo que eu passo no escritorio e tal... Ele tambem me diz que distancia eu ainda tenho que percorrer para ter andado uma distancia equivalente da Terra a Lua. Naturalmente ele soh sabe isso desde janeiro e esse ano eu definitivamente ainda nao cheguei nem perto. Na minha vida toda, no entanto, temos o seguinte: a distancia da Terra a Lua eh de 384400 km, eu tenho 28 anos, mas vamos contar soh os ultimos 20, digamos. Com 365 dia por ano, eu teria que ter percorrido nos ultimos 20 anos uma media de 52km por dia, o que nao eh nem um pouco razoavel - mesmo contando nao soh a distancia percorrida a pe, mas a distancia percorrida de carro. Quando eu morava no Rio, eu ia todo dia e voltava da minha faculdade: a distancia ida-e-volta dah uns 8km por dia. Colocando mais deslocamentos nos fins de semana e algumas viagens internacionais, acho q consigo uma media de 20km por dia. Nesse sentido, talvez nos proximos 20 anos eu consiga chegar na distancia a Lua.

Uma pergunta que eu nao sei responder eh que eu estou contando viagens no sentido de me deslocar de um ponto para o outro, mas outra pergunta seria, qual eh o meu deslocamento total, no sentido de:
\\textstyle\\int_0^T \\Vert x\'(t) \\Vert dt
desde que eu nasci, onde x(t) eh minha posicao no tempo t. A conta acima nao conta as vezes que eu me desloquei ateh a geladeira e voltei, a distancia que eu percorri de uma sala de aula a outra. Talvez o certo seria decompor meu deslocamento total em duas partes:
[0,T] = I_1 \\cup I_2
onde I1 sao os instantes onde minha velocidade eh pequena (me movendo ateh a geladeira) e I2 sao os instantes onde minha velocidade eh grande (correndo, andando de carro, de aviao, e tal...) e entao eu estimo a velocidade media em I1 como sendo v, e estimo o deslocamento em I2 diretamente. Qualquer hora vou ver se faco esse exercicio mais precisamente. De repente a Lua nao estah assim tao distante.

sábado, 5 de novembro de 2011

Viagem rapida a San Francisco em algumas fotos

Em ordem cronologica, minha viagem com a Carol de Mountain View a SF e de volta. O plano era ficar andando pelo Mission District e depois andar ateh o pier. Estava um dia bem nublado, mas conseguimos pegar o final do Farmers Market e ainda vimos a ocupacao do distrito financeiro de SF. Um dos meus planos era ir ao Weird Fish, mas estava fechado :( Gostei muito do Ritual Coffee e achei umas padarias aleatoriamente que eram interessantes. Consegui comprar mel e queijo no Farmers Market e chegar bem perto de uma ave no cais.





 






Esses aih em cima sao o #occupySF .




terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Romance d'A Pedra do Reino


Eu terminei hoje de ler O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, e eh o livro brasileiro que eu tive mais prazer em ler ateh hoje. Eu jah estou lendo a um certo tempo (desde junho), parte porque o livro eh grande e em parte porque a cada dia que passa eu leio mais devagar. E  fiquei triste porque ele acabou - eu estava quase todo dia acordando e lendo um ou dois capitulos no cafe da manha e jah me acostumei em fazer isso (antes eu lia andando de metro).

Eh dificil explicar por que eu gostei tanto - eu jah tinha lido outros livros do Ariano Suassuna e sempre gostei do que li, mas esse eh diferente - ele eh tido como a obra-prima de Suassuna e do Movimento Armorial, que "uma iniciativa artística que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro". Eu lembro do que eu estudei em Literatura na escola e acho uma grande falta nao mencionarem o Movimento Armorial - eu me diverti e aprendi tao mais com esse livro sobre a cultura brasileira do que com todos os livros que eu li na escola.

Vou acabar descrevendo ele mal, mas vou tentar mesmo assim. Eh de certa forma um romance de cavalaria - sobre a Demanda Novelosa do Principe do Cavalo Branco - inspirado nas narrativas magicas dos folhetos populares do Nordeste, mas ao mesmo tempo seguindo os moldes dos grandes romances de cavalaria europeus. Personagens como o Dom Sebastiao, o Desejado, o principe enevoado de Portugal, os profetas do Antigo Testamento, Homero e os Doze Pares de Franca de Carlos Magno, todos eles se misturam nos Sertoes Velhos do Cariri com Cangaceiros, Zumbi, Antonio Conselheiro, a Coluna Prestes e o Movimento Integralista. Eh o retrato mais bonito que eu li ateh hoje do Brasil - misturando nosso passado "iberico e fidalgo" com o nosso sangue "negro e tapuia" e nos fazendo assim "sertanejos e castanhos". A dualidade estah sempre lah, de um lado os comunistas e outro os integralistas, de um lado o governo e Antonio Conselheiro, a prosa e a poesia, ... e essa continua tensao eh que faz o romance tao gostoso. Mas nao se engane: pelo que eu falei ateh agora, voce pode estar pensando que se trata de um livro intelectual e dificil - muito pelo contrario, ele eh uma historia divertida, das dificeis de parar de ler, magico e narrado em estilo popular, como se fosse um folheto. De fato, cada capitulo eh chamado de folheto, estes organizados em 5 livros. Ele comeca com algo como:
  • FOLHETO I : Pequeno Cantar Acadêmico a Modo de Introdução
  • FOLHETO II : O Caso da Estranha Cavalgada
  • FOLHETO III : A Aventura da Emboscada Sertaneja
  • FOLHETO IV : O Caso do Fazendeiro Degolado
  • ...
Em determinado nivel, bem mais profundo, ele eh um romance erudito e sofisticado - mas isso estah oculto por tras de uma historia magica e sertaneja.

Terminando o livro, eu li essa entrevista com o Ariano Suassuna, que recomendo muito. Eh uma entrevista de 1990, quando Collor ainda era presidente do Brasil. A entrevista dah uma certa nostalgia do Brasil que eu vivia quando tinha 6 ou 7 anos, que eu estava comecando a entender. Na entrevista Suassuna critica Collor (2 anos antes de sabermos de tudo), a tropicalia, diz que nao gosta de Caetano Veloso, fala mal do marxismo e se diz um monarquista de esquerda. Ao mesmo tempo fala do seu amor ao teatro e ao circo, do Movimento Armorial, do seu pai e das suas lembrancas ruins da revolucao de 1930, ... eh uma bela entrevista. Depois de ter livro A Pedra do Reino, eu acho que eu consigo apreciar ela bem e ver que tudo faz muito sentido - mas talvez a entrevista faca menos sentido, antes de ler esse ou algum dos outros livros dele - onde todos esses elementos acima aparecem de uma forma ou de outra.

A Pedra do Reino faria parte de uma obra maior, uma trilogia chamada "A Maravilhosa Desventura de Quaderna, o Decifrador, e a Demanda Novelosa do Reino do Sertao" do qual a Pedra do Reino seria a primeira parte. A Pedra do Reino eh um romance muito bem acabado, que sozinho eh uma das historias mais impressionantes que eu jah li. Mas dois outros livros estavam prometidos no caminho da trilogia:
  • II — HISTÓRIA D’O REI DEGOLADO NAS CATINGAS DO SERTÃO.
  • III — O ROMANCE DE SINÉSIO, O ALUMIOSO, PRÍNCIPE DA BANDEIRA DO DIVINO DO SERTÃO
e infelizmente eles nunca vieram a ser publicados. A Pedra do Reino eh um romance muito cuidadosamente escrito e cada parte dele parece muito bem pensada. Ele disse que demorou 12 anos para escrever. A Pedra do Reino eh de 1971. Em 1976, a primeira parte do Rei Degolado foi publicada - com o subtitulo de "Ao sol da Onça Caetana". Infelizmente hoje em dia nao existe uma edicao atual e eu nao consegui achar nada na internet alem de sebos vendendo ela por precos absurdos. Depois de 76 nao houve mais continuacao. O que de certa forma me deixa triste, porque eu gostaria de continuar lendo, mas por outro lado eu entendo. A Pedra do Reino em si eh uma obra fantastica e nao precisa de um complemento. Mas que seria bom ler os outros dois volumes se eles existissem seria!

Aqui a capa do Rei Degolado que eu consegui achar na internet:


terça-feira, 10 de maio de 2011

Panorama da Cidade Antiga

Hoje foi dia da Independencia de Israel, e mesmo eu fugindo das comemoracoes (acho que deve ser porque eu fugi bastante do 7 de setembro quando era aluno do IME) eu fui andar pela Old City de Jerusalem e achei a Cidadela do Rei Davi aberta e de graca -- ela eh um museu com um ingresso para entrar -- mas como acontece nos feriados, ela estava simplesmente aberta. A cidadela faz parte de um complexo de defesa construido parte pelos otomanos e parte pelos bizantinos que fica logo na entrada da Old City, do lado do Jaffa Gate, que eh a porta que dah na estrada que no passado levava a Jaffa (hoje Tel Aviv-Yafo). Subir na citadela dah uma vista impressionante da cidade.

Eu passei um certo tempo tirando fotos lah em cima e resolvi fazer um panorama. Chegando em casa, eu aprendi a usar o Hugin - um excelente photo sticher que eh multi-plataforma. No comeco eu achei meio dificil. De fato a interface dele nao eh muito auto-explicativa. Mas depois de ler um tutorial pequeno no proprio site, eu entendi o poder dele e fiquei fascinado com o que ele podia fazer e com a qualidade do resultado no final.

Como eu disse eu fiz o panorama do ponto mais alto da cidadela olhando para a Cidade Antiga. O seguinte mapa tme o lugar onde eu estava e meu campo de visao, assim como os principais destaques da paisagem:


E o panorama aih abaixo, com a legenda dos lugares:


Aqui alguns links -- ainda as mesmas fotos de celular grudadas com o hugin, mas
Eu tirei umas fotos mais para o sul tambem - mas nao consegui incluir no panorama, o que eh uma pena, por nao poder ter na mesma foto a bela Dormition Abbey, onde Nossa Senhora dormiu o Santo Sono.

domingo, 8 de maio de 2011

Alfajores

Eu concordo que a busca diligente eh uma forma bastante honesta de se entender o mundo, mas eh fato de que as vezes as verdades da vida sao aprendidas pelo mais puro acaso. Isso aconteceu hoje a tarde na padaria aqui em Jerusalem. Eu pedi um doce que estava exposto no balcao. Ele tinha um nome em Hebrew que eu nao entendi. Chegando em casa, minha surpresa (!) eh que era um alfajor. Eu voltei e verifiquei se era uma padaria argentina. Nao era!

Como eh suspeito de todas as palavras comecando em al, se trata de um doce originalmente arabe - chamado الفاخر. Aparentemente ele chegou na Espanha quando ela foi conquistada pelos arabes - Al-Andalus. Sobre a etmologia (via Wikipedia):
"... alfajor, would be an andalusism for the castellanism alajú, derived from the Arabic word الفاخر, [al- fakhur], which is not known, neither found in América, where andalusians introduced it as alfajor, from the arabic word alfahua that means honeycomb..."
 E se espalhou pela America do Sul - sendo bastante modificado, no entanto - mas nao tanto que me permitiu identifica-lo na padaria. Ainda:
"Due to the popularity of this food they already were in the warehouses of the first ships of the Spaniards on their way to America. The earliest references to its presence in Latin America referred to Venezuela and Peru, where they were given as ration to the Spanish troops."

terça-feira, 3 de maio de 2011

Semana Santa em Israel

Semana passada foi Semana Santa e passar em Jerusalem (القُدس) foi uma experiencia bastante interessante. A semana corresponde ao Passover (Pessach) judeu - que comemora quando o povo hebreu saiu do Egito, comandado por Moises. O nome Passover se refere (de acordo com a Wikipedia) a ultima praga do Egito, quando os primogenitos egipcios foram mortos. Os hebreus marcaram as suas casas com sangue de carneiro para que o espirito passasse direto (pass over) e nao matasse os seus primogenitos. Logo depois disso o farao libertou-os para que eles pudessem voltar a Israel e na pressa da saida, eles nao esperaram o pao fermentar - e por essa razao nessa semana nao se consegue comprar pao em Israel. O que se come eh uma versao nao fermentada chamada matzo. Um detalhe curioso eh que a Ultima Ceia de Cristo foi uma Ceia de Pesach (Passover Dinner) - e portanto faz sentido que os dois acontecam na mesma epoca.

Mas a parte mais interessante foi ir as cerimonias da Semana Santa no lugar onde elas de fato ocorreram - ou pelo menos no lugar que a tradicao atribui como sendo o lugar onde os fatos biblicos ocorreram. A maioria desses lugares sao hoje Igrejas catolicas ortodoxas - a Igreja do Oriente, que se separou da Igreja Catolica do Ocidente (a Igreja Romana) em 1054. No sabado - uma semana e um dia antes da Pascoa - fui a al-Eizariya (mas talvez voce conheca pelo nome biblico de Bethania) onde Jesus ressucitou Lazaro. No sabado existe uma cerimonia na Igreja que fica na casa onde as irmas de Lazaro (Maria e Marta) moravam e uma procissao ateh a sua tumba. Gostei tambem de ir pela primeira vez no West Bank.

Depois foi Domingo de Ramos e eu achei super dificil achar uma missa em ingles para assistir, mas no fim consegui. Depois disso fiquei andando pela Cidade Antiga, onde fica a Via Dolorosa (via crucis). No final da Via Dolorosa, fica a Igreja do Santo Sepulcro, tambem chamada Igreja da Ressurreicao. Santa Helena, padroeira dos arqueologos e mae de Sao Constantino, na sua expedicao a Jerusalem teria achado a cruz onde Cristo foi crucificado e o local exato - conhecido como Golgotha ou o Monte do Calvario. Eh a Igreja da seguinte foto:


A Igreja eh dividida por varias variantes cristaes: a igreja catolica, a igreja do Oriente, a igreja copta, a armenia... entao se veem varios padres/monges. Eh um pouco triste saber que eles ficam constantemente brigando pelo controle da Igreja e isso eh mais ou menos claro. Dentro do Santo Sepulcro fica uma Igreja dentro da Igreja que eh onde Cristo foi enterrado depois de ser crucificado.

No domingo, passando por lah, eu tive a sorte de estar acontecendo uma procissao ortodoxa e acabei vendo mais ou menos de perto Theophilos III, o Patriarca de Jerusalem, que eh um dos quatro patriarcas da Igreja Ortodoxa, junto com o Patriarca de Constantinopla, o Patriarca de Alexandria e o Patriarca da Antioquia.

Durante a semana acabei indo algumas vezes a Old City para varias cerimonias, fui a Galileia... Um dos lugares que gostei muito de ir, e que eh 10 minutos andando da minha casa, eh o Mosteiro da Cruz - onde a tradicao diz que foi plantada a arvore que deu origem a cruz. A historia eh bem mais longa que isso, na verdade: o lugar eh onde Adao foi enterrado. No mesmo lugar, Lot, sobrinho de Abrahao, teria plantado uma arvore - usando como semente tres cajados deixados por anjos - para pedir perdao a Deus por ter  dormido com suas filhas (apos ser embebedado e seduzido) depois do episodio de Sodoma e Gomorra. A mesma arvore foi usada para fazer a cruz onde Cristo foi crucificado. Pelo que eu entendi do que eu li no mosteiro, como a arvore simbolizava a vergonha de Lot, ela causaria mais sofrimento e por isso usaram ela para a cruz.

Outro lugar interessante, principalmente no contexto da Semana Santa, eh o Monte das Oliveiras, que eh o cenario inicial da Paixao de Cristo - onde ele foi preso. No lugar onde ele sofreu e suou sangue eh hoje a Igreja da Agonia, do lado do Jardim de Gethsemane, na foto abaixo:
Muito proximo, estah a tumba de Nossa Senhora. Pelo que eu li, existe muita divergencia sobre a morte de Nossa Senhora. Na versao que eu conhecia, Nossa Senhora nao tinha morrido e tinha sido assunta aos ceus, por isso Nossa Senhora da Assuncao. De acordo com a tradicao do Cristianismo Ortodoxo, no entanto, Nossa Senhora teria morrido (na verdade, nao exatamente morrido, mas dormido o Santo Sono) e depois de tres dias teria ressucitado, tal como Cristo, e trazida de corpo e alma aos ceus. No mesmo monte fica a Igreja de Santa Maria Madalena - uma Igreja Ortodoxa Russa- uma bela construcao russa:
mas talvez o mais interessante dessa regiao seja a Porta do Juizo Final tambem chamada a Porta da Vida Eterna, a Porta da Misericordia ou o Portao Dourado. Eh a unica porta de Jerusalem que estah permanentemente trancada, de onde se acredita que o Juizo Final vai comecar, por onde Cristo vira ao mundo pela segunda vez, onde os pais de Jesus (Santa Ana e Sao Joaquim) teriam se conhecido e por onde Jesus entrou em Jerusalem no Domingo de Ramos, comecando a Paixao. A porta foi trancada pelo sultao durante o dominio otomano de Jerusalem, que alem de trancar a porta, construiu um cemiterio na frente dela, temendo a vinda do messias e com ela o fim do dominio otomano da cidade. O cemiterio era para que o messias - que ele esperava ser um sacerdote judaico - nao pudesse passar, jah que eles sao proibidos de entrar em cemiterios (ao menos eh isso que a Wikipedia parece dizer).


Mas talvez a cerimonia mais impressionante eh a do Fogo Santo (Holy Fire) que acontece no Sabado antes da Pascoa - eh um milagre anual que eh realizado dentro do Santo Sepulcro, onde o Patriarca de Jerusalem entra no Santo Sepulcro com duas velas e as velas acendem magicamente - o fogo eh entao passado a milhares de fieis esperando com velas ao redor da Igreja e eles passam o fogo adiante e assim vai. O fogo eh levado a varios paises, e de lah para as igrejas e os fieis ortodoxos levam o fogo para os altares nas suas casa. Foi uma aventura interessante ir lah. A cerimonia comecava as 2 da tarde na frente do Santo Sepulcro. Um amigo meu chegou 6 da manha e conseguiu entrar no Santo Sepulcro. Eu cheguei somente as 11 da manha e a cidade estava fechada. Exatamente: nao se conseguia entrar na cidade antiga. Chegamos no Jaffa gate, um dos principais portoes do bairro cristao e vimos varias velhinhas russas segurando velas e chorando e chorando que queriam entrar para chegar perto do Santo Fogo.  Ficamos um tempo tentando entrar, mas vimos que nao havia jeito. Entao tivemos  a ideia de tentar o proximo portao - the Zion Gate. Disseram para gente que todos os portoes estariam fechados, mas decidimos tentar o proximo portao - e talvez o proximo se nao funcionasse, dizendo que iamos para o bairro judeu e nao para o bairro cristao. No proximo portao (Zion Gate) - que eh mais ou menos escondido no muro, deixaram-nos passar sem problemas e entramos na Cidadae Antiga, mas mesmo assim, bem longe do bairro cristao. Andamos no bairro armenio e chegamos em fim ao bairro cristao, que tinha policiais e barreiras por toda parte, tentando controlar os fieis. E entao me senti num filme de espioes tentando chegar ateh o igreja e vencendo as barreiras policiais. A cidade eh um verdadeiro labirinto, cheio de souks (mercados) e com lojas com  varias portas - o que tornava o trabalho da policia bem complicado. Acho que o trabalho deles nao era exatamente barrar as pessoas mas dificultar que elas chegassem perto. Barreiras cheias de gente definitivamente nao deixavam ninguem passar - outras com uma ou duas pessoas, era facil que eles deixassem a gente passar pedindo um pouco. Entrar no bairro cristao foi facil  - na primeira barreira estavam deixando as pessoas passarem do bairro armenio para lah.
depois tentamos o caminho natural para o Santo Sepulcro, via o Muristan e a rua de Santa Helena - que naturalmente estava fechado. Foi interessante ter varias lojinhas e restaurantes do lado, nos oferencendo que pagassemos 200 euros e eles deixassem que passassemos pela porta dos fundos deles para entrar na Muristan. O preco estava muito alto e nao pagamos. M s tentamos seguir em frente. Contornamos e fomos seguindo pelos souks passando pelas barreiras que deixavam-nos passar e tentando contornar as que nao deixavam passar por dentro dos souks. No fim chegamos bem perto - quase do lado do Patriarcado Copta.

Ficamos lah esperando  pelo Santo Fogo - a mais ou menos um bloco do Santo Sepulcro, vendo uma multidao de pessoas, que como nos tinha conseguido vencer a maior parte das barreiras policias (ou estava lah desde muito cedo) com velas,sentados no chao ou ansioso... ateh que vimos varias vozes da direcao da Igreja e imaginamos que o Santo Fogo tinha comecado a se espalhar pelos fieis. De repente, passa um padre ortodoxo correndo e escoltado pela policia com o Santo Fogo, indo levar ele para Belem. As pessoas tentam freneticamente acender suas velas na vela do padre, mas nao conseguem porque a policia nao deixa. Alguns momentos depois, vem varias pessoas descendo do Patriarcado Copta com velas acesas. Foi uma imagem bonita - varios cristaos africanos vestidos de branco e segurando velas (a Igreja Copta eh uma versao africana da Igreja Ortodoxa do Oriente) e ascendem as velas da multidao perto de onde estavamos. As pessoas comecam a ascender as velas umas das outras, rezar e, como a tradicao diz que o Santo Fogo nao queima, colocar suas maos e rosto no fogo - e de fato ele parecia nao queimar .

terça-feira, 26 de abril de 2011

Yrušalaym

Jah estou a quase um mes em Jerusalem (יְרוּשָׁלַיִם‎‎) visitando o Center for the Study of Rationality. Acho que nao tem nenhuma outra cidade no mundo da qual haja mais para se falar do que essa. De acordo com a Wikipedia, ela jah foi destruida 2 vezes, cercada 23 vezes, atacada 52 vezes e capturada 44 vezes. Depois do antigo Reino de Israel (Casa de David), a cidade jah foi assiria, babilonia, macedonia, romana, bizantina, arabe, um reino catolico (quando os Cruzados tomaram Jerusalem por uns 200 anos), voltando a ser arabe, turco-otomana (por quase 500 anos), ateh virar colonia britanica depois da primeira guerra, e depois da formacao do moderno Estado de Israel ela estah dividida entre Israel e Palestina.

Nao eh a toa que a cidade sempre viveu na minha imaginacao - e na da maioria das pessoas - e era considerada o centro do mundo.  Abaixo tem um  mosaico que eu vi andando na Yafo Street:


que eh uma reproducao de "Die Welt als Kleeblatt" do teologo alemao Heinrich Bünting, que alias tem varios outros mapas interessantes, tais como esse, onde a Europa eh representada como uma rainha. Mas voltando as representacoes, Jerusalem tem varios mapas indicando sua natureza dual: ao mesmo tempo o palco da historia divina e eh o cenario de varias guerras e conflitos completamente humanos.



A cidade eh sagrada para as tres principais religioes do ocidente, e lah eh onde tudo comecou: em todos os sentidos. O monte do templo eh o local de onde o Universo se expandiu e de onde Deus tirou o po do qual fez Adao.


Foi no mesmo monte que Abrahao estava prestes sacrificar Isaac (e a pedra do sacrificio estah lah, dentro da mesquita na foto acima - Dome of the Rock). E nesse lugar Maome subiu as ceus na sua Jornada Noturna.