sábado, 27 de fevereiro de 2010

Privacidade e Informacao

Essa semana foi particularmente interessante em termos de talks aqui em Cornell - uma talk boa que eu assisti eh do Harry Lewis, professor de computacao de Harvard, sobre privacidade e informacao. Eles filmaram tudo e colocaram a talk online: aqui o link. A talk fala sobre o conflito entre:
  • voce querer compartilhar suas informacoes (no Orkut, Facebook ou Twitter) e com isso ter uma melhor experiencia social: as engines de busca te entendem melhor, voce compartilha com o mundo o que voce sente, ...
  • voce quer se proteger e nao deixar que suas informacoes sejam usadas por alguem mal-intencionado.
Muita informacao sobre a gente estah disponivel no Orkut, Facebook, Picasa, Twitter, ... e muita dessa informacao eh usada de maneira interesante: com base nisso eh que conseguimos achar o conteudo que estamos interessados, que estas empresas conseguem achar anuncios direcionados aos nossos interesses, ... mas como se proteger para que isso nao seja usado de uma forma maliciosa. Um exemplo impressionante e assustador foi o seguinte experimento feito em Stanford [Bailenson et al]: os pesquisadores pediram que os participantes escolhessem entre duas fotos em quem eles preferiam votar: Bush or Kerry. No grupo de controle foram usadas fotos originais dos dois candidatos e o resultado foi 45% pro Bush, 45% pro Kerry e mais 10% indecisos. No segundo grupo, a foto do Kerry era a original, mas a do Bush era um foto morphed com a imagem da pessoa que estava votando. No terceiro o mesmo, so que mantendo a foto do Bush original e fazendo o morph do Kerry com a pessoa participando do experimento. No segundo grupo,a proporcao do Bush era maior e no terceiro, a proporcao do Kerry era maior. Eh assustador pensar que, dado que nossas fotos sao tao facilmente achadas na internet nao possam fazer isso dentro de uma campanha de marketing, por exemplo. Coisas menos subitas jah fazem: colocar pessoas da mesma etnia que voce, ou da mesma idade, ... Ele dah outros exemplos na talk, mas esse era um dos mais interessantes.

Depois ele comenta de como as pessoas estao dispostas a compartilhar informacao na internet. Existem sites como o blippy.com/ onde voce pode registrar seu cartao de credito e ele gera twitter-like posts com as suas compras (e sim, tem muita gente usando o site) ou o ijustmadelove.com/ onde voce pode compartilhar os lugares onde voce fez sexo, posicoes, ... Em www.wheresgeorge.com/ voce pode compartilhar os numeros de serie das notas de dolar que voce recebe e tentar track o fluxo do seu dinheiro. O otimo episodio do Colbert Report chama isso de "Cognoscor Ergo Sum": sou conhecido logo existo.

Eu sou bem mais descuidado com minhas informacoes online dos que varias pessoas que eu conheco, mas mesmo assim eh facil ficar assustado com o que se pode saber sobre sua vida colocando seu nome no Google. Por outro lado, fico fascinado com a grande quantidade de informacao na web e com todos os usos interessantes que podiamos fazer disso. O governo americano estah publicando seus dados - www.data.gov/ , voce pode acessar as crencas e previsoes das pessoas sobre o futuro em Prediction Markets, para nao falar em todos os mercados reais.
  • Long Tail: Ateh algum tempo, se voce queria fazer um anuncio num grande jornal, radio ou televisao, voce tinha que ter certeza que o seu publico alvo era grande parte da audiencia, caso contrario nao valeria o custo. O mesmo vale para programas de radio, televisao, ... Com a internet eh possivel gerar conteudo que eh direcionado a partes pequenas da populacao e ainda lucrar: a Google consegue exibir anuncios direcionados para cada pessoa, enquanto uma livraria grande nao pode se dar ao luxo de manter no estoque de uma de suas filiais um livro que provavelmente uma infima parte da populacao vai comprar, isso eh mais do que natural para a Amazon.
  • Crowdsourcing: A internet tem o poder incrivel de colocar varias pessoas trabalhando para criar um produto comunitario - o exemplo mais bem sucedido desse conceito eh a Wikipedia: eh o primeiro recurso que eu uso para tentar descobrir alguma coisa e eh um produto comunitario. Aqui tem uma lista de projetos explorando Crowdsourcing. Crowdsourcing eh relacionado com o conceito de Wisdom of the Fools (algo como Sabedoria dos Idiotas), que diz que agregando varias fontes imprecisas de informacao nos podemos construir uma fonte bastante confiavel. Nenhum dos editores da Wikipedia em particular eh uma autoridade que tem como garantir que as informacoes lah estejam 100% certas: o que garante isso eh a iteracao social. Eh esperado que os erros, imprecisoes, ineficiencias, sejam corrigidor naturalmente pela mao invisivel do mercado.
  • Low barrier-to-entry: A 30 ou 40 anos atras era complicado uma pessoa se tornar famosa da noite pro dia sem estar amparada pela midia principal (televisao, jornais) e era complicado tentar competir com empresas bem estabelecidas. Hoje eh comum pessoas ficarem famosas com um video do YouTube ou um garoto russo de 17 anos criar um servico que em um curto periodo de tempo chega a 20,000 usuarios. O chatroulette, criado pelo garoto de 17 anos, tem um conceito bastante interessante: ao mesmo tempo que eh uma ferramenta social (eh um chat, after all) ele eh totalmente anonimo - sem logins, sem username - e totalmente na contra-mao dos outros sites, sem criar vinculos (o objetivo do Twitter, Facebook, Orkut, ... eh a iteracao social criando um vinculo de amizade, de forma que voce esteja sempre acessivel para a pessoa com quem voce quer falar).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Temple Grandin

Ainda sobre a Temple Grandin, de quem eu falei no post anterior, hoje eu vi o filme sobre a vida dela no Cornell Cinema e teve uma Q&A session logo depois que foi bem interessante. O filme eh uma das historias mais bonitas que eu vi nos ultimos tempos e, a menos de pequenas liberdades cinematograficas, eh uma historia real. No dia anterior teve uma talk dela sobre Animal Behavior and Welfare - se nao me engano na escola de Animal Science - mesmo tendo partes da talk sobre assuntos que me interessavam menos e dos quais eu entendia pouco - como gado, cavalos, ... - a maior parte da talk foi sobre comportamente humano/animais e sobre a mente humana e sobre as nossas dificuldades em entender o modo dos animais pensarem e se comportarem. A talk foi gravada - eu procurei, mas nao achei, mas de toda forma, uma talk dela que acabou de ser uploaded no TED:

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre o Poder da Diversidade

Acho que se eu nao fosse um teorico de computacao (matematico, economista ou nenhuma dessas areas afins) eu gostaria de ser neurologista - pelo menos eh o que eu penso quando eu leio os livros do Oliver Sacks (aqui uma talk dele se vc nao conhece). Eu li nas ferias o Antropologo de Marte e ontem comecei a ler Musicophilia. Quem me conhece pode achar estranho eu estar lendo um livro sobre musica, mas na verdade musica embora seja o fio condutor do livro nao parece ser o principal tema: o personagem principal eh o cerebro, suas capacidades, o talento inato e o que voce pode desenvolver, como eh a nossa percepcao e que fenomenos sociais/fisicos/neurologicos fazem com que apreciemos musica e outros tipos de arte, ... pelo que li ateh agora voce bem poderia substituir musica por, digamos, matematica ou futebol e muito do que eh falado continuaria fazendo muito sentido.

Uma coisa que atraiu minha atencao de volta ao Oliver Sacks eh que essa semana vem a Cornell a Temple Grandin, professora da Colorado State University para a estreia local de um filme sobre a vida dela e uma talk logo em seguida. Temple eh um dos principais casos relatados no Antropologo de Marte - alias, ela que dah nome ao livro. Temple eh autista - e ao contrario do que voce pode pensar se voce nao conhece bem a definicao de autismo - muito inteligente, doutora e uma das maiores especialistas em comportamento animal. Embora me arriscando a dar uma definicao errada (e eu recomendo o livro de Sacks pra eu explicacao mais precisa) o autismo eh caracterizado pela dificuldade de relacionamento e de se entender regras complexas de relacoes sociais. No caso de Temple, a dificuldade de decodificar relacoes sociais de alto-nivel veio junto com um incrivel entendimento dos sentimentos simples e primitivos - que faziam com que ela se sentisse muito conectada aos sentimentos dos animais - e daih o tema principal da pesquisa dela (hoje em dia 1/3 das instacoes de gado nos Estados Unidos sao feitas a partir de designs dela). Mas deixo os detalhes para o livro de Sacks e pro filme e acho que vou falar por que achei essa historia tao interessante.


Embora seja obvio e seja algo popular nos filmes politicamente corretos, mas que eu passei a pensar de uma forma totalmente diferente eh: nos somos pessoas diferentes. O fato de sermos unicos nao eh soh um fato social/cultural - isso eh tambem um fato neurologico. Varias coisas que tomamos como universais nao o sao na verdade. Eu varias vezes me pego irritado com alguem e pensando algo como: "eu nunca agiria dessa forma, independente do que acontecesse" ou "como fulado pode fazer isso ou aquilo comigo - ele nao entende como eu me sinto". A resposta eh: pode ser que de fato ele nao entenda como voce se sente. As pessoas tem graus diferentes de empatia com determinadas coisas: seja sensibilidade para apreciar artes plasticas, para apreciar artes, para sentir empatia, para se sensibilizar com isso ou aquilo, ... e muitas vezes nao entendemos isso. Os relatos neurologicos dos livros do Sacks se concentram em casos extramos, como o autismo no caso do "Antropologo de Marte" e, por exemplo, a amusia, em "Musicophilia". Mas nada disso acontece como zero ou um - mas em diferentes graus de uma forma  sutil e com as pessoas a nossa volta. Um exemplo muito comum eh voce olhar para duas pessoas que estao se sentindo tristes e para uma voce se sensibilizar e para outra voce simplesmente achar que eh frescura - simplesmente porque voce tem mais dificuldade de sentir empatia no segundo caso.

Lendo o paragrafo acima voce pode pensar: que chato que eu nao tenho tal  habilidade como tal pessoa - seja ela musica, matematica, futebol, empatia, ... Eu acho que nesse sentido o exemplo da Temple eh bonito: a falta de uma coisa deu a ela uma percepcao maior de outras - e o livro de Sacks estah cheio de exemplos assim: pessoas cegar que desenvolvem um talento extraordinario para a musica, dificuldade em criar empatia mas facilidade em capturar imagens ou dificuldade de raciocinio mas uma memoria prodigiosa. De novo, o que ele relata sao casos extremos - mas isso acontece em menor grau no dia a dia e uma coisa que achei muito interessante nesse sentido foi um post do Terry Tao no buzz. Nesse post, ele comenta que o poder de determinados ramos na matematica estah em abstrair ou ignorar determinados aspectos do problema: analise, por exemplo, ignora quantidades exatas e foca em ordens de magnitude, algebra ignora como objetos sao construidos e se concentra nas propriedades que os objetos tem q nas operacoes que podem ser feitas neles, .... O interessante disso eh que varias areas da ciencia podem ser vistas dessa forma: concentrar em um aspecto do problema e ignorar outros. Nossa diversidade neurologica faz com que olhemos para os problemas de uma forma unica - e uma solucao interessante pode vir nao do que voce consegue ver, mas do que voce consegue ignorar.