quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ano com bons filmes

Esse foi um ano de bons filmes, mas tambem foi um ano que eu fui pouco ao cinema, o que somado significa que a proporcao de coisas que eu assisti e gostei muito foi alta. Primeiro, Inception eh excelente e era o filme esperado do ano - sim, foi otimo - eu me diverti muito. Mas gostei tambem muito de outros, como "You'll meet a Tall Dark Stranger" do sempre otimo Woody Allen. Nessa mesma semana eu vi The Town, que eh legal, mas mais por mostrar Boston do que por qualquer outra coisa. E ok, eu estava esperando os blockbusters como Harry Potter. Vi tambem o otimo (mas triste) documentario "Waiting for Superman" - sobre a educacao americana. E sim, eu fico deprimido pensando na educacao brasileira se o estado da educacao americana eh esse. Estando no Brasil, eu assiti varios filmes otimos em seguida:
  • Kick Ass: muito bom, recomendo fortemente
  • Tropa de Elite 2: isso, eu soh vi agora. Gostei muito e achei eles muito inteligente: nao ia ser interessante ter mais um filme do Cap Nascimento batendo em traficantes. A cena dele batendo em politicos eh catartica para a maioria dos brasileiros.
  • Shutter Island: Eh um filme do Martin Scorsese baseado em um livro do Dennis Lehane (se voce gostou de Mystic River, por exemplo, voce vai gostar [bem mais, eu acho] deste filme. Eu tento nao contar historias de filmes, mas desse eh tentador. Mas vou evitar e se voce quiser, pode ler no imdb, mas recomendo fortemente fazer como eu e ver ele sem ler nada. Em portugues acho que ele eh chamado "Ilha do Medo", que eh misleading, porque nao eh um filme de terros e sim um thriller psicologico.
Mais sugestoes de bons filmes?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Fatores de desconto


Pequena (?) Introducao sobre o Silencio desse Blog

A algumas semanas atras, Guilherme comentou sobre o silencio desse blog (ele usou uma expressao envolvendo teias de aranha). No entanto, por varias vezes nesses ultimos meses eu quis escrever posts, mas por uma razao ou por outra eu acabei nao fazendo. Varias coisas que eu queria dizer mereciam um post por elas mesmas, mas acho que ser breve eh melhor do que nao falar, entao eis aih um resumo sobre o que eu pensei em escrever (sim, sao temas recorrentes, como o leitor desse blog espera).

  • Do excelente artigo que eu li na New Yorker chamado "What Good Is Wall Street?". Ele responde perguntas que eu sempre tive: a principal delas eh "Qual eh a finalidade do mercado financeiro?". Quando eu estava na faculdade varias pessoas eram muito atraidas pelo mercado financeiro por duas razoes: (i) parecia usar ferramentas matematicas interessantes e parecia estar precisando de "some geeks bearing formular" e (ii) voce podia ganhar muito dinheiro e rapido. Acho que eu era mais atraido pela primeira razao, mas a maioria das pessoas era por uma combinacao convexa das duas - com maior peso para a razao (ii), eu acho. Mas pouco eu via discutindo sobre "mas porque mercado financeiro?" Eh bem claro pra mim porque engenheiros e medicos sao importantes para a sociedade. Mas porque financas eh importante?

    Como regra geral, uma atividade se sustenta se ela gera valor social. O mercado financeiro tem um valor social muito importante: alocar o dinheiro da forma certa. Existe muito dinheiro por aih e recursos para serem aplicados em atividades produtivas, mas como usar ele? O mercado financeiro conecta as pessoas que tem dinheiro para investir e pessoas que tem ideias boas mas precisam de capital. Mas do que isso, o mercado tem mecanismos para decidir quais atividades vao ser mais socialmente uteis. O mercado tem mecanismos para decidir se vale mais a pena investir, por exemplo, em plantar soja ou em uma fabrica de aco e quanto dinheiro colocar lah. Isso nao eh muito claro, porque isso fica escondido por tras de nomes complicados como stocks, trading, bonds, insurance, options, ...

    Ou seja, financas gera dinheiro porque prove um servico muito util, que eh gerar eficiencia no mercado. Isso eh bem explicado no artigo da New Yorker (eles fazem um trabalho muito melhor do que eu estou fazendo aqui) e ele discute tambem se os novos instrumentos - bem mais esotericos que financas andam usando hoje ainda servem a esse proposito de gerar bem-estar-social e explica coisas como subprime mortgages, high-frequency trading, ...
  • Meu mapa de restaurantes em Boston e meu mapa de restaurantes em NYC foram (bastante) expandidos. Em particular eu enfim comi pato laqueado em Chinatown (tres vezes - mas nao no mesmo dia, deixando isso bem claro) e eh impressionante.
  • Dos varios livros que tenho comecado a ler mas nao terminei - alias esse semestre foi cheio deles - a maior parte deles sao muito bons livros, mas pela mesma razao de que tenho escrito pouco nesse blog, tenho tambem lido menos - ou pelo menos de uma forma mais erratica: comecei a ler Voices of Marrakesh (otimo! tem varios pequenos relatos de viagem), Snow Country, High-Fidelity, Surely You Are Joking Mr Feynman (muito bom, esse eu praticamente terminei), ... A maioria deles eh composto de pequenas historias - entao ler uma parte eh interessante por si soh.
  • Da minha crescente paixao (vicio?) por cafe e de como eu tenho aprendido a operar uma maquina de cafe semi-automatica (ok, ok, nao eh nada muito dificil - pelo contrario, eh bem facil) e do fato de eu estar batalhando comigo mesmo e minhas financas para comprar eu mesmo uma maquina de cafe para minha casa.
  • Tenho passeios interessantes pela Wikipedia, por exemplo quando acordei com o nome Wheel of Fortune na cabeca e entao passei por paginas como: Wheel of Fortune (taro card) --> Rota Fortunae --> Monk's Tale --> The Canterbury Tales (e isso tudo me lembra o fabuloso The Castle of Crossed Destinies - e nao sei como ser mais enfatico em recomendar esse livro)
  • Da minha impressao de Las Vegas e do deserto em Nevada. Ou do que eu achei de Seattle ou ainda mais sobre minha impresao sobre a colecao de arte oriental do Museu de Princeton. Mas vou me furtar de todos esses topicos. No entanto talvez volte a eles no futuro.

  • e claro, meu assunto preferido do momento. Mas como eh melhor ser classico do que ser polemico, vou falar de outro assunto: fatores de desconto (abaixo). Brevemente: acho que o Guardian e o NYT fazem um trabalho muito melhor que eu de falar sobre os leaks. Eh sempre legal ler os cables do Brasil. Ultima nota antes de seguir em frente: me deixa de certa forma chateado ver que a imprensa mundial estah dando atencao aos cable e a imprensa brasilera nao estah nem aih - posso estar errado, mas nao vi praticamente nada sobre o Wikileaks affair no Globo, Veja, ...

Fatores de Desconto

Bom, o objetivo de quando eu comecei a escrever era falar de Fatores de Desconto. Isso pertence a classe de coisas que eu ouco falar varias vezes, entendo, mas de repente alguem me explica denovo de uma forma que faz todo sentido e entao eu entendo o real significado. Fatores de desconto estao relacionados com algo muito caro a todos nos: tomar decisoes sobre o que vamos fazer da nossa vida. Em geral nos temos sempre o trade-off entre escolher coisas que vao ser boas para nos hoje (tomar sorvete, ir a praia, ...) e coisas que vao ser boas para nos no futuro (estudar, fazer dieta, ...). O mesmo voce pode pensar em termos de achar um emprego ou trabalhar num topico de pesquisa: arrumar um emprego com um bom salario agora mas sem muitas perspectivas de crescimento ou um emprego com um salario nao tao bom, mas com possibilidades dele aumentar. Eh comum em lojas voce escolher entre pagar a vista uma coisa ou pagar um pouco mais, mas parcelar. E nos temos que escolher esse trade-off entre o eu-presente e o eu-futuro.

Isso eh em geral modelado como um jogo: suponha que todo dia jogamos um determinado jogo nos tempo t=0,2,..., T e que as decisoes que tomamos hoje afetam o futuro. Mas cada dia ganhamos ou perdemos algo e o balanco eh u[t].  Quando tomamos uma decisao agora (no tempo zero), o que estamos tentando maximizar. Um modelo interessate eh pensar que estamos tentando maximizar nossos ganhos com um balanco δ em [0,1], ou seja:
Quanto maior eh o valor de δ, mais voce pensa no futuro. O extremo seria uma pessoa com δ=1, para quem o valor de uma coisa daqui a 10 anos eh o mesmo valor disso hoje. O outro extremo δ=0 eh uma crianca pequena, que se importa com o que ela vai ganhar agora e nao com o que ela vai ganhar amanha. Ou seja, quem tem δ=1 estah preocupado em maximizar u[0] + ... + u[T] e quem tem δ=0 quer maximizar somente u[0]. Em geral nao somos de uma forma nem de outra e sim um meio termo: pensamos de certa forma no futuro, mas se nos eh dado um dolar, preferimos ganhar esse dolar hoje do que esse dolar amanha. Por que se eh 1 dolar da mesma forma? Bom, nos esperamos nao morrer, mas existe uma certa probabilidade pequena de que voce nao esteja mais aqui amanha. Se vc acredita que vai morrer (ou, para fazer a explicacao menos tragica, viajar, parar de se importar com dinheiro, ...) com probabilidade 1-δ entao o valor de um dolar hoje eh 1, mas ganhar esse valor amanha eh somente δ.

Tipicamente, usamos valores de δ menores que "um menos a probabilidade de morrer hoje". Na verdade, existem outras razoes voce pode preferir o dinheiro hoje: por exemplo, se voce receber um dolar hoje, voce pode investir ele e amanha voce vai ter algo como 1/δ, entao o seu valor de ganha um dolar amanha eh somente δ.

Mas nao somente isso: se um amigo chega e diz que vai te pagar 2.01 dolars amanha ou 2.00 dolars hoje, eu geralmente prefiro a opcao de ganhar 2.00 dolars hoje. Por que? Eu em geral nao vou pegar aquele 0.01 e investir na mesma hora - ele vai ficar no meu bolso. Mas eu sempre penso que: "ele pode esquecer de me pagar, eu vou esquecer de cobrar..." e esse fator de desconto cuida dessa pequena probabilidade. No entanto se a opcao era pagar 10 dolares hoje e 15 dolares amanha, talvez a coisa mudasse. Fazendo pequenos experimentos assim, voce pode avaliar quanto vale o seu fator de desconto.

Uma outra razao pela qual eu tenho pensado cada vez mais em fatores de desconto eh a seguinte: as vezes voce vai a uma loja e pode comprar uma coisa por um preco x, ou ganhar um desconto e comprar uma coisa por (1-ε)x. Mas o preco de (1-ε)x te forca a ir na internet e fazer algo, ou voltar na loja mais tarde e pegar os produtos mais tarde (isso aconteceu ontem na verdade - fui fazer umas comprar de Natal e a vendedora me falou que me dava 20% de desconto se eu voltasse pra pegar os produtos soh na quinta). Aih o fator de desconto entra por outra razao: voce pensa algo como: eu tenho algo melhor para fazer com o meu tempo do que voltar aqui e acho que a diferenca compensa. Nesse caso o fator de desconto entra porque voce tem outras opcoes: um melhor investimento para o seu tempo ou seu dinheiro.

Eu pensei em terminar esse post falando sobre implicacoes morais da ideia de fatores de desconto - mas acho que nao tenho uma historia muito boa para contar sobre isso. No entanto pensar em termos deles, esclarece muito do que acontece no mundo - quao imediatistas ou nao somos, eh uma funcao do fator de desconto que usamos. De toda forma, eu gostaria de ter mais intuicao sobre isso. Minha lista preliminar de coisas que influenciam o fator sao:
  • sua probabilidade de estar aqui amanha (seja lah onde aqui seja)
  • que outros usos voce tem para o seu dinheiro ou tempo
  • quanto voce se satisfaz em pensar no futuro versus fazer coisas agora
Por exemplo,  quanto mais eu tenho coisas pra fazer e comeco a perceber meu tempo como valioso, menos eu me sinto com vontade de ter pequenas discussoes (como coisas relacionadas a transito - ok, jah parei de dirigir a algum tempo, isso eh outra razao - a um troco no supermercado ou a um probleminha num hotel)...

domingo, 15 de agosto de 2010

Dois Livros sobre Trens e Hippies


Recentemente eu li dois livros sobre trens. Tudo comecou comigo comprando um livro (que nao eh particularmente sobre trens) chamado First Time in Asia. Eu nao costumo ler livros de viagem, mas isso nao eh algo que parece olhando a minha pilha dos ultimos livros lidos. De certa forma, um dos grandes prazeres de viajar eh fazer planos - pelo menos para mim. Nao me entenda errado, eu nao gosto de uma viagem completamente planejada nos minimos detalhes, mas me divirto de certa forma olhando mapas, tracando trajetorias imaginadas (sim, tenho varios mapas do Google Maps - e mais recentemente no StarAlliance Round-the-World), lendo artigos da Wikipedia sobre Angkow Wat e sobre o Monte Fuji e pensar nas combinacoes de trens, avioes e onibus que eu poderia pegar. Mas, ok, estava fazendo isso, quando o guia da Asia me recomendou esse livro de um talk de Paul Theoroux chamado "The Great Railway Bazaar" que conta a viagem do autor desde a Victoria Station em Londres ateh Tokyo de volta somente de trem. A viagem comeca com o Expresso do Oriente (que jah populou a imaginacao de todos que leram Agatha Christie quando jovens) levando ele de Paris ateh Istambul - a Porta do Oriente. E de lah o autor cruza o Ira, Afeganistao, a India, descendo depois para o Sudeste Asiatico para entao subir para o Japao e de lah de volta a Europa pela Transsiberiana. O livro eh um longo relato de viagem, que se passa basicamente em trens - no qual o autor tece comentarios sobre ferrovias, sobre os outros passageiros e os estranhos habitos locais. Irrita muita gente o fato dele ser ironico e nao sempre tratar com muito respeito certas diferencas culturais - isso me incomdou menos do que varias pessoas que escreveram reviews na Amazon. De certa forma, ele me pareceu mais honesto dessa forma - embora pedante as vezes. Eu gostei muito e fiquei a maior parte do livro salivando para fazer uma viagem assim algum dia - embora tal viagem nao seja mias possivel. Esse livro foi escrito na decada de 70 quando Afeganistao e o Paquistao eram bem mais estaveis. Por outro lado, ele cruzou o Vietnan ainda durante a guerra, o que faz uma das partes mais interessantes do livro.

Ainda no mood de ler sobre trens, eu resolvi depois ler o otimo "A Season in Heaven: True Tales from the Road to Kathmandu" - e aqui eu revelo que menti no titulo e isso nao eh um livro sobre trens - mas ainda eh um livro sobre viagens. E antes de mais nada, eh um livro sobre hippies, mais precisamente sobre a Hippie Trail. Acho que eu nao poderia ser mais diferente de um hippie: eu nunca usei drogas, nao gosto do rock, e adoro entrar em discussoes de poltica soh pra defender o capitalismo (se voce jah conversou comigo sobre isso, voce deve saber como eu me divirto argumentando com quem acha o contrario). Mas existe algo nos hippies com que eu de certa forma me identifico - que eh o ideal de estar "on the road" e com o sentimento de liberdade que isso proporciona. E de certa forma, eh sobre isso que fala o livro. Nos anos 60 e 70 muitos jovens na Europa (a geracao hippie) e na America estavam desiludidos com o rumo que o mundo estava tomando e a solucao de muitos foi ir a Asia - e isso pelos mais variados motivos. O livro eh uma colecao de relatos de pessoas que naquela epoca sairam da Inglaterra, Holanda, Franca, dos EUA, ... - alguns buscavam "spiritual enlightment" (na onde dos gurus indianos, Ram Dass e dos Beatles e o famoso guru deles Maharishi Mahesh Yogi), outros simplesmente nao tinham emprego e perspectiva e estavam em busca de aventuras e uma vida barata. Outros relatos diziam que eles estavam simplesmente em busca de "cheap dope and easy sex". Ele conta como muitos se decidiam do dia pra noite, por uma sugestao de um amigo ou algo assim e partiam sem uma nocao clara do que os aguardava. O caminho via Istambul, Afeganistao, Paquistao ateh a India e o Nepal ficou conhecido como a Hippie Trail. Eu li sobre ele nesse blog post que recomendo muito - ele deixou com muito apetite para ler o livro. Recomendo ainda mais os comentarios, em que varias pessoas que fizeram a Hippie Trail a 30,40 anos atras, relembram e discutem as suas experiencias.

domingo, 27 de junho de 2010

Camarao e a memoria, Copa do Mundo, Trufas e listas

Lembro que sempre que vovo servia camarao ensopadinho com chuchu ela cantava um pedaco dessa musica: "Disseram que voltei americanizada" da Carmen Miranda. Recentemente me deparei com ela por acaso e fiquei feliz com a lembranca e fiquei ouvindo a musica no YouTube e de fato ela eh bem interessante: tem uma letra leve e engracada e fala sobre manter a sua identidade tropical mesmo vivendo na Terra do Tio Sam, o que eh um assunto que me interessa, ainda em epoca de Copa do Mundo. Eu meio que sinto que deveria escrever alguma coisa sobre a Copa do Mundo, mas vai ser breve. Eu de fato assisto futebol de quatro em quatro anos e mesmo assim, soh os jogos do Brasil, mas eu gosto da Copa do Mundo por varias razoes:
  • uma razao pratica eh me juntar com os outros brasileiros num bar e conhecer a comunidade brasileira do MIT/Harvard/BU/...  Acho a festa em torno da Copa divertida.
  • eu fico com um certo orgulho quando varias pessoas dizem que torcem pro Brasil, mesmo sendo um pouco embaracoso quando eles tentam conversar comigo sobre a selecao brasileira e logo percebem que eles sendo iranianos, arabes, americanos ou europeus entendem mais sobre a minha selecao do que eu (outro dia me perguntaram o que eu achava do Ronaldinho nao ter sido convocado e ficaram espantados por eu nao saber que ele nao tinha sido convocado.) Gosto tambem quando saimos do lugar que estamos vendo o jogo com a camisa do Brasil e as pessoas ficam te cumprimentando na rua e acham que voce eh um cara legal soh por ser brasileiro - o que eh uma imagem bem legal que o meu pais tem.
  • Eh interessante a imagem de Copa do Mundo como uma maneira pacifica de se expressar o seu nacionalismo. Por outro lado, nao dah pra esquecer essa "emulacao de guerra". Eu acho legal quando uma ex-colonia enfrente seu ex-colonizador - mas legal ainda quando eles vencem. Dessa forma, acho legais jogos como Brasil x Portugal, EUA x Inglaterra e por aih vai. Jogos que tem um fundo politico sao sempre interessantes como um da Argentina x Inglaterra (na Copa passada ou na anterior, se nao me engano) e outros... Acho que gostaria de a Coreia do Norte se classificasse porque EUA, Coreia do Sul e outros devem estar doidos para jogar contra eles, jah que atacar Pyongyang parece por enquanto fora de questao. Sobre isso, esse video eh engracado.
  • Eu tentei argumentar que o Brasil deveria ganhar a copa por uma questao de Social Welfare. Estava discutindo porque o Brasil deveria ganhar e a Argentina nao: de fato a nossa populacao (200M) eh cinco vezes maior que a populacao da Argentina (40M). Dessa forma, voce vai estar fazendo mais gente feliz. Argumentaram entao que a China deveria ganhar a Copa. O problema eh que nao eh soh uma questao de tamanho da populacao, mas de percentagem da populacao que se importa com futebol - o que eh 99,9% do Brasil - tirando individuos como eu que se chateiam mais quando o queijo que estah na minha geladeira estraga do que quando o Brasil joga mal. Mas eu torco mesmo assim pelo meu time e fico feliz quando ele ganha. Como eu falei, eh uma questao de National Welfare.
Se voce quiser entrar mais nessa questao de National Welfare, voce deveria ver a talk no TED falando sobre medir Gross National Happiness ao inves de Gross National Product, como faz o Reino no Butao. Mas eu vou me evadir desse tema e fazer como eu sempre faco em blog posts e mudar para um tema completamente nao-relacionado, mas antes, jah que falamos do Butao, vou colocar uma foto do ninho do tigre:


Eu tenho meditado um pouco sobre o que me faz feliz e nao sei ainda responder a essa pergunta, mas estou tentando ser mais serio sobre procurar essa resposta. E de certa forma acho que a resposta estah em ser menos greedy em algum sentido, em entender que a felcidade eh um caminho e andar calmamente em direcao aos seus objetivos. Eu vou parar por aqui, porque isso estah ficando uma descricao chata, porque nao estah concreto e tudo isso eh muito vago, mas vou tentar em futuros blog posts dizer algo nesse sentido. Sendo mais concreto e mais especifico, eu tomei uma decisao de nao trabalhar nos fins de semana (ou pelo menos nao muito). Bom, talvez eu reverta isso nos proximos fins de semana - mas por enquanto estah sendo uma experiencia interessante. Vou terminar esse blog post desconexo com duas listas. A primeira eh de coisas que eu fiz hoje e de alguns comentarios:
  • comprei trufas na Teuscher e isso foi agradavel e me deu um numero (ainda que bem pequeno - menos de uma por dia) de trufas para a semana. Acho que nesses pequenos prazeres - como trufas - estah parte do caminho. Mas talvez eu esteja redondamente enganado.
  • Passei a maior parte do dia lendo sobre ferrovias na Asia, principalmente a Trans-Siberiana e sonhando em atravessar a Manchuria de Moscou ateh Beijing (sim, se voce ler sobre a Trans-Siberiana voce vai reconher todas as regioes do jogo de War como Omsk, Vladvostok, ... Eu podia ateh sentir o gosto de Borsch na boca. Por outro lado, fiquei triste em saber que o Expresso do Oriente foi descontinuado jah a varios anos. Eu sonhava andar nele desde que a mais de 10 anos atras eu li o livro da Agatha Christie "Murder on the Orient Express" (alias, highly-recommended como uma introducao a Agatha Christie)
  • Fui correr no Rio Charles e isso eh sempre uma experiencia agradavel.
  • Eu me senti com vontade de tomar Vietnamese Coffee, procurei no Google Maps. Fui lah, mas o cafe nao era como eu esperava. Preciso achar um restaurante realmente vietnamita em Boston. Creio que deve ter varios, no entanto.
  • Li um pedaco de The Pooh Perplex, que eh muito engracado - mas acho que seria mais se eu soubesse mais sobre literatura e critica. The perplex eh uma colecao de essays analisando Winnie-The-Pooh sobre diversas oticas: desconstrutivista, neo-colonialista, freudiana, ... A primeira essay decorre sobre a delegacao do heroismo e da hierarquia social dentro da sociedade em Winnie-the-Pooh. O segundo tenta interpretar o livro como uma luta de classes. Sao parodias muito engracadas das linhas de pensamento para analisar literatura (e arte de uma forma geral).
O fim do post eh uma lista de expressoes desconexas, mas interessantes:
  • o ultimo imperador da China
  • a coroacao da Rainha de Copas
  • o baile da Ilha Fiscal
  • a ultima flor de Ho Chi Minh
  • o inverno em Buenos Aires
  • um rendevouz em Leningrado
  • o dia da marmota
  • a torre de Hanoi
Em geral, como eu sou meio surdo de tom (tone deaf), eu acho complicado gostar de musica. Mas eu gosto de palavras lidas alto e gosto do som das palavras de uma forma geral - o que faz com que eu goste de musicas que tem palavras. Por isso eu gosto de listas de palavras lidas em sequencia, mesmo que nao facam sentido, como essa e essa. Finalizando com uma quote da Susan Sontag:
Every country, including southern countries, has its south: below the equator, it lies north. Hanoi has Saigon, Sao Paulo has Rio, Delhi has Calcutta, Rome has Naples and Naples...

domingo, 20 de junho de 2010

Oolong, Jasmin, Rosas and Tartarugas

Hoje, como parte da minha jornada para me tornar uma pessoa sofisticada, eu fui em uma loja de cha em Boston e comprei Oolong, cha de Jasmin, Rosas, um cha verde japones chamado Sencha. Oolong eh a traducao de "black dragon tea" - cha do Dragao Preto, porque eh uma erva longa, preta e encaracolada. Eu comprei tambem um pacote de "Rooibos Cocomint" - um cha africano doce com hints de coco e chocolate - mais para fazer IceTea, se bem que meu tipo preferido de IceTea eh Thai IceTea, particularmente o que fazem num dos restaurantes tailandeses de Ithaca. Falando ainda em bebidas geladas do oriente, eu gosto muito de Vietnamese Iced Coffee (Ca phe sua da). Essas coisas fariam um sucesso no Brasil - eu recomendo fortemente que os meus amigos empreendedores pensem em uma loja de cha/cafe orientais. Algo que teria cafe turco, as variacoes americanas de latte, os cafes italianos, ice-teas tailandeses e a variedade de chas do Oriente. Mas voltando, eu ainda comprei um pote de cha japones azul:


Nao eh uma ceramica de shino rara do periodo Edo (um dia eu chego lah), mas eu fiquei feliz com meu pote. De toda forma, eu preparei Oolong e tomei ele com esses biscoitos belgas de amendoas aih da foto. [Aos leitores mais sensiveis, eu peco desculpas se o post parece pretensioso. E sim, eh um post isolado e eu nao tenho pretensao de transformar isso num blog de cha.]

Outros fatos dignos de nota: eu estava andando nas imediacoes na casa de cha e descobri estar no bairro brasileiro: sim, tudo estava escrito em portugues. Tinha uma "borracharia" - escrito assim. E todo mundo estava falando portugues. Eu fiquei feliz, entrei num supermercado - e serio, eu estava entrando nas casas Sendas ou no Mundial. E trouxe pra casa um pacote de Serenata de Amor, umas caixas de mocoto e um pedaco de lombo defumado. Era uma supermercado luso-brasileiro - ainda tinham postas enormes de bacalhau salgado como na boa e velha Lisboa. Outros fato:

Estava andando na rua e encontrei essa bela ilustracao do Paradoxo de Zeno (mais particularmente da sua versao conhecida como Aquiles e a Tartaruga):



E falando em tartarugas, eu me lembrei da expressao "It's turtles all the way down" de Russell, que vem dessa bela passagem anedotica extraida (claro) da Wikipedia:
A well-known scientist (some say it was Bertrand Russell) once gave a public lecture on astronomy. He described how the earth orbits around the sun and how the sun, in turn, orbits around the center of a vast collection of stars called our galaxy. At the end of the lecture, a little old lady at the back of the room got up and said: "What you have told us is rubbish. The world is really a flat plate supported on the back of a giant tortoise." The scientist gave a superior smile before replying, "What is the tortoise standing on?" "You're very clever, young man, very clever", said the old lady. "But it's turtles all the way down!"

Mas melhor ilustrada nesse quadrinho do fabuloso LOGICOMIX:

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Diversos: restaurantes, arquitetura, Brasil, out-of-body-experiences, codigos de telefone, ...

  • Eu fiz uma lista de restaurantes que gosto no Rio, mas isso eh um processo em construcao: coloquei os que gosto de ir com meus amigos e dos quais acho a comida particularmente boa. A lista naturalmente privilegia lugares perto de onde eu morei ou estudei (ou seja, nada de Barra, e quem dirah off-Barra na lista). Lugares que eu nunca fui estao, naturalmente fora da lista. Mas estou faminto por sugestoes para a minha proxima viagem para o Rio.
  • Estou trabalhando numa lista de restaurantes em Cambridge/Boston, mas ainda eh muito cedo. Enquanto isso, vou colocar fotos de predios que eu gosto nessa cidade. Sou em particular um grande apreciador da arquitetura de Frank Gehry (embora como se critica o Niemeyer, as pessoas podem dizer que sao predios lindos mas pouco funcionais - eu na ligo e estou feliz de ter o Stata Center perto de mim. Alias, acho que muito bonito por dentro. Mas concordo, eh um predio bem labirintico.)
  •  A frase que diz que o "Brasil nao eh um pais serio" eh normalmente atribuida a Charles de Gaulle, mas eh uma falsa atribuicao. Quem disse isso de verdade foi o embaixador brasileiro em Paris Carlos Alves de Souza Filho na ocasiao da Guerra da Lagosta. Me diverti muito com esse otimo blog post. Eh tao engracado (a Guerra da Lagosta) que eh facil achar que eh mentira - e de fato eu nao sei o quao eu confio nos artigos da Wikipedia que eu citei: tem soh uma referencia para um obscuro documento da Marinha. Verdade ou nao, eh engracado demais.
  • Talks legais do TED:
  • Eu fui numa palestra sobre "naming and numbering" e ouvi coisas curiosas. Uma eu jah sabia, eh sobre o modo de se dar enderecos no Japao (o link eh sobre um videozinho legal de 2 min sobre isso). Outra coisa que achei curiosa eh que os codigos de area foram otimizados para serem discados em um telefone de disco. Isso mesmo um telefone assim, que nem mais a sua avo tem:

    O codigo de NYC eh 212 e o de Chicago era 313 para serem rapidos de serem discados nesses telefones. Fico imaginando se o mesmo eh verdade para os codigos de area de Sao Paulo, Rio e BH (11, 21 e 31). Acho que muito provavelmente eh.
  • Estou correndo no Rio Charles e tenho ouvido Elis Regina enquanto corro. Eu fico rindo sozinho enquanto corro, porque eu acho essa musica engracada: "Eu hein Rosa". Tambem acho engracado ela cantando "Devagar com a louça" mas nao achei o link.
  • Chesterton certa vez disse algo como: "Fairy tales are more than true — not because they tell us dragons exist, but because they tell us dragons can be beaten" [Chesterton Wikiquote

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mil Tsurus, Bangkok, Caixa Preta

Li livros muito bons recentemente e acho que merecem um comentario:
  • Mil Tsurus foi o primeiro livro que eu li do premio Nobel japones Yusunari Kawabata. Ele tem um texto eleganta, trabalhado como um vaso oriental. Alias, os vasos e utensilios de cha ocupam o lugar principal nesse livro. Tudo o amor, traicao, intriga, ... acontece via os utensilios, chawans e vasos. Os personagens sao quase que desculpas para exibir as belas pecas durante a cerimonia do cha. Por um lado eh uma historia que transpira tradicionalismo e respeito as tradicoes milenares do cha, por outro lado eh um romance altamente sexual - mas com uma sensualidade elegante e oriental. Resumindo a historia (ou seja contando o que voce pode ler na orelha do livro) e correndo o risco de simplificar demais e contar coisas erradas, o plot eh o seguinte: um homem se encontra numa cerimonia do cha onde ele encontra duas ex-amantes de seu pai, jah falecido. As duas buscam seduzir o rapaz e ao mesmo tempo fazer com que ele se case com suas filhas/protegidas. O que tem tudo pra se transformar num enredo de filme de terceira, nas maos de Kawabata, vira um romance elegante. Um link para o livro.
  • Bangkok 8: eu gosto muito de thrillers bons, mas nao eh facil encontra-los, entao eh bom eu falar quando eu acho um excelente. Bangkok eh um desses romances que quando vc chega na metade voce fica acordado a noite inteira lendo ateh chegar no final. Eh um romance sujo, violento e chocante em varios pontos - mas dificil de parar de ler. Um otimo misterio, costurado num lugar exotico como a Tailandia e temperado com monges budistas, policiais corruptos, arte Khmer, ... Um link pra ele.
  • A Caixa Preta: ontem eu terminei de ler A Caixa Preta e eh uma bela historia. O autor - Amos Oz - eh um dos principais escritores israelenses atuais. Nao eh um livro alegre: o livro eh uma colecao de cartas entre os personagens, mas basicamente entre os dois personagens analisando o seu casamento desfeito: ela ainda em Israel e ele nos EUA. Eu fiquei mais curioso para ler ele para entender mais sobre Israel. Os personagens principais e outros que tambem escrevem cartas exemplificam diferentes formas de pensamento politico dentro do pais. O personagem principal, em particular, eh um academico nos EUA que estuda diferentes formas de fanatismo.

Eu vi Awakenings. Eh um filme de 1990 baseado no livro homonimo do Oliver Sacks. Eh baseado no caso mais famoso do proprio Sacks e na sua experiencia pessoal de assumir um posto de neurologista em um hospital depois de anos fazendo pesquisa e nao tendo contatos com pacientes. Aplicando os metodos cientificos que ele estava acostumado no tratamento dos seus pacientes ele consegue "acordar" pacientes que estavam em estado catatonico a 20 anos. Eh uma historia muito bonita e o filme que mais me emocionou em bastante tempo (desde Temple Grandin, do qual eu falei aqui no blog a algum tempo atras). Recomendo fortemente, principalmente pra quem compartilha meu interesse por neurologia. (Wikipedia entry for Awakenings).

Ainda na minha sequencia de recomendacoes, a Jorge Zahar publicou a algum tempo atras uma serie de comic books de Em Busca do Tempo Perdido (link aqui para o primeiro volume: O caminho de Swann - Combray). Eu li os tres primeiros livros, que correspondem aos dois primeiros volumes do romance de Proust. Eu gostei muito dos quadrinhos - que sao uma versao (bastante) resumida do livro. Eh dificil nao se identificar com os personagens. Comprei os dois primeiros volumes do original: Swann's Way e In The Shadow of the Girls in Flower. Vejamos agora se eu consigo chegar ateh o final.

Falando em quadrinhos, recentemente eu achei alguns quadrinhos do Tintin que eu li quando crianca e de fato o Tintin modelou em algum sentido minha visao de mundo. A minha visao do homem bem sucedido era daquele belga que viajava pelo mundo, da Africa a China, das profundezas do oceano ateh a lua. Num dos meus livros preferidos ele investigava a morte de varios arqueologos e ia a America Latina em busca de uma mumia inca perdida, em outro ele achava tesouros em um navio naufragado. E no meio disso tudo ele era a pessoa que cientistas famosos recorriam quando tinham um problema, era amigo de cantoras famosas de opera, de marajas e executivos importantes ao mesmo tempo que confrontava ditadores em paises ficticios da Europa Oriental. De uma forma ou de outra eu devo ao Herge um pouco das minhas metricas de sucesso - ainda que o Tintin tenha setado elas um pouco altas demais. Continuando no mesmo assunto mais mudando de assunto, eu recentemente comprei um poster para que o meu novo quarto em Cambridge pareca um pouco menos business e mais um quarto de um academico. O poster eh a capa do Le Lotus Bleu:

sábado, 12 de junho de 2010

Gauguin, Kunisada e cia

Ontem eu fui ao Boston Museum of Fine Arts e fiquei pensando sobre o conceito de museus e sobre isso eu queria escrever. Pensando num homem do seculo 18, antes da fotografia, do cinema, da televisao, ... um museu era a unica forma de popular o seu mundo pictografico interior. E de certa forma, isso nao eh mais possivel hoje em dia.t

Para explicar, um Gedankenexperiment: imagine que voce eh um menino do seculo 18 ou 19, de digamos uns 15 ou 16 anos - voce nunca viu uma fotografia na vida, nao tem internet nem televisao ou cinema e o as imagens que voce tem na sua imaginacao sao todas do que voce ve e do que voce imagina. Pelo menos visualmente existe pouco pra instigar sua imaginacao. Voce nunca viu um chines, nunca foi ao Tahiti e embora voce tenha ouvido falar de mumias, nunca viu um desenho de uma. Voce conhece as varias historias da Biblia, quem sabe voce tenha ouvido historias de viagens a India ou do norte da Africa, mas tudo sao passagens de um livro ou partes de um relato. O objetivo eh pensar nesse personagem imaginario chegando a um museu e vendo pela primeira vez imagens dos anjos, do Exodo, de um pagode japones, uma expedicao a Africa ou um navio em alto mar.

Para esse habitante do seculo 18, ir a um museu eh popular pela primeira vez o seu mundo pictorio. E essa eh uma experiencia que nao temos: nosso mundo de imagens jah foi populado pela televisao e pelo cinema. De certa forma, ao inves de popular sua imaginacao com Bosch, Goya ou VanGogh, nos populamos ela com copias vulgares da televisao e do cinema. E isso empobrece em algum sentido o nosso mundo interior. O ideal seria entrar num museu deixando o seu mundo pictorio pre-adquirido de lado, e tentando lah aprender qual imagem associar a um capitao, um serafim ou o monte Fuji.

Isso eh um proceso complicado e acaba nao funcionando pra mim tao bem quanto eu gostaria. E isso eh triste porque de certa forma isso empobrece minha experiencia de apreciar arte - principalmente da arte europeia.Mas de certa forma, esse processo continua mais ou menos intacto na minha mente para a arte asiatica e para a parte da arte europeia que busca retratar a Asia e outros lugares exoticos - sobre os quais meu mundo interior (pelo menos o pictografico) eh ainda muito pobre. Por exemplo, eu muito aprecio Madame Monet in Japanese Costume que estava no museu de Boston:


Um dos melhores exemplos de arte europeia onde eu ainda consigo olhar e ficar espantado como que vendo um novo mundo sendo revelado dianto dos meus olhos eh Gauguin. Desencantado com a Europa (e com, como ele diz, "tudo que eh artificial e convencional"), Gauguin fugiu de tudo e foi viver no Tahiti. Existe algo "fresh" em Gauguin que eu nao consigo ver nos outros: um certo tipo de leveza e liberdade dificil de achar na maior parte das obras. A ideia de fugir para uma vida simples, com normas sociais descomplicadas onde voce possa viver de "peixe e fruta" (como dizia Gauguin) eh algo que se encontra em varios lugares - como nos poetas romanticos brasileiros - mas em nenhum lugar eu consigo me sentir tao afastado do peso da civilizacao como nos seus quadros do Tahiti:


Saindo da arte europeia, o mesmo misterio e sensacao de ter meu mundo interior sendo populado eu consigo ainda encontrar nas pinturas chinesas e japonsas. Assim como nas estatuas do Camboja, Vietnan, Indonesia, ... A Asia e o Pacifico ainda sao misterios aos quais a Chinatown de NYC nao consegue satisfazer. Fiquei impressionado com o templo budista japones reconstruido dentro do museu: com as tres estatuas do Buda Presente, Buda Passado e Buda Futuro e seus guardiaos. Fiquei impressionado com a leveza dessa peca Khmer e a elegancia dessa peca vietnamita.

Jah a algum tempo eu gosto muito de gravuras japonesas e o Boston MFA tem a maior colecao delas fora do Japao. Alem de belos exemplos de Hiroshige, existe uma grande colecao de Kunisada que eu descobri recentemente. Aqui um link para os Kunisadas de Boston. Uma boa maneira de terminar um post eh com gravuras japonesas:


e terminando com "Narumi: The Fifty-Three Stations of the Tokaido" por Kurisada e Hiroshige:

sábado, 29 de maio de 2010

Paixao por dados

Nos filmes de ficcao cientifica normalmente tem aquela imagem do futuro onde todo mundo tem um chip dentro de si que dah sua identidade e todos os seus dados e que tem todos os dados sobre voce. Em geral isso eh retratado como uma realidade sombria, mas para mim eh algo fascinante. Tem tanta coisa sobre mim que eu nao sei e que gostaria de saber:
  • quanto tempo eu passo em cada lugar
  • quanto tempo eu passo fazendo cada atividade (lendo email, estudando, enrolando, limpando a casa, ...)
  • como meus hormonios (adrenalina, serotonina, endorfina...) variam nas diversas situacoe
e varias outras coisas.... Deve ser essa minha mania de querer ficar otimizando as coisas. Ou melhor, de pensar como as coisas poderiam ser otimizadas, mesmo que eu efetivamente nao as faca. Na verdade o ponto nao eh necessariamente otimizar, mas aprender mais sobre voce. Quando voce olha para essas analises, voce comeca a ver coisas que voce nao imaginava: "Mas eu gasto todo esse dinheiro em cafezinho?", "Mas eu fico tanto tempo assim checando email?", "Nao pode ser, eu nao como tanto acucar!" e coisas assim. A verdade eh que com todo mundo tendo celulares como iPhones, Droids, Smartphones e similares fica muito facil fazer controle de varias dessas coisas.

Path Tracker

Bom, estou escrevendo isso porque hoje testei o PathTracker: se trata de um aplicativo de iPhone que te dah o caminho que voce fez e estatisticas sobre ele. Voce liga o PathTracker e a cada intervalo de tempo (algo como, a cada minuto), ele registra a sua posicao usando o GPS do iPhone e no fim ele te dah um mapa dizendo por onde voce passou, a velocidade em cada ponto, a altitude do caminho e outras variaveis.

Hoje eu sai pra fazer um passeio de bike (vendi a minha em Ithaca e comprei uma nova aqui em Cambridge). Esse foi o caminho que fiz hoje (eu soh lembrei de ligar na volta). Se chama the Minuteman Bikeway, mas no mapa tem nao somente o Minuteman como a minha volta do inicio do Minuteman pra Harvard Square:


O mais legal eh que voce tem tambem um mapa da altitude ao longo do caminho:


e um mapa do pace (que eh basicamente tempo/distancia):


Google Analytics

Eu tenho usando sempre varias Analyic Tools. A que eu uso a mais tempo eh o Google Analytics pra analisar o trafego do meu site (quantos acessos eu tenho por dia, como eles variam a cada hora do dia, de que cidades meu site eh acessado, ...). Como eu jah mostrei antes, a parte do meu site que tem a copia dos meus cadernos tem o seguinte padrao de acesso:


ou seja, eu consigo perceber claramente quando sao as provas do IME. Aih em cima tem uma estatistica do numero de acessos no ano de 2009 inteiro. O meu blog jah eh meio diferente. Eh algo como em 2010 ateh agora:


Eu sinceramente gostaria de ter mais tempo de brincar com esses dados e ver que coisas interessantes eu poderia dizer sobre eles. O meu blog eh um blog pequeno, e nao tem tantos acessos pra se fazer uma analise interessante, mas seria otimo fazer analises assim na Wikipedia ou no Twitter e de fatos tem varios estudos sendo feitos.

Mint.com

Mas voltando ao caso de me conhecer melhor analisando dados sobre mim: eu recentemente venci a resistencia e o medo em relacao a essas coisas e criei uma conta no mint.com, e de fato eh super legal. O Mint eh um agregador de contas bancarias. Voce dah suas contas e senhas do banco (ok, it is scary, mas eh um site grande e eu conheco tanta gente usando que decidi que nao tinha problema. E procurando na internet voce soh ve gente falando bem e aparentemente o sistema se seguranca deles eh bom), mas voltando, voce dah suas contas e senhas do banco e ele pega os dados dos seus diversos bancos (caso voce tenha mais de um), credit card companies, firmas de investimento e tal... e agrega tudo num lugar soh. A feature realmente interessante eh que alem de agregar ele dah varias ferramentas de data analysis on top of that. Algo bem simples (mas que nenhum banco de fornece): voce pode plotar por mes duas barras com o Income/Outcome da sua conta. Assim voce pode ver a evolucao da sua renda e dos seus gastos e comparar. Mais ainda: ele tem um sistema de Machine Learning que categoriza seus dados (e uma interface legal pra voce ajudar ele a fazer isso). Entao se vem um gasto da AT&T ele classifica como "Utilities", se vem um "Starbucks" ele classifica como "Food&Groceries > Coffee Shops" se eh Amazon ele classifica como "Shopping" e por aih vai. E algumas categorias se subdividem, como Food&Groceries se divide em Restaurants, Coffee Shops, Bars, Groceries, ...

A classificacao eh quase perfeita. No que dah errado, voce pode ir lah e consertar e "ensinar" o certo. Eu tive um gasto de $20 no "Four Seasons" e ele classificou como "Travel > Hotel" achando que eu tinha ficado hospedado no Four Seasons e pago 20 dolares por isso (!). Ok, espero um dia ficar no Four Seasons, mas o Four Seasons aqui eh um restaurante coreano em Ithaca. Eu fui lah e classifiquei como restaurante e desse momento em diante ele passou a classificar certo.

O legal eh que dah pra plotar quando por mes voce gasta em Coffee Shops, por exemplo, e se impressionar com desenvolvimento do seu vicio. Ou olhar um mes (ou um ano) como os seus gastos de quebram entre varias coisas. O Mint faz uns Pie Charts bem legais falando da proporcao de restaurantes, de viagens, de shopping, que voce faz. Eu definitivamente recomendo. Os videos de demonstracao do site sao bem legais e melhores do que eu poderia explicar.

Rescue Time

Eu fiquei muito tentado a instalar o RescueTime no meu computador: eh um software de analytics que quebra o seu tempo no computador em relacao a que programas voce estah usando: ele diz quanto tempo voce fica no shell, quanto tempo no Kile editando LaTeX, e quanto tempo no Firefox. E ainda o tempo que ele passa no Firefox eh quebrado em quanto tempo voce passa no GMail, Facebook, Wikipedia, ... Voce pode dizer o que voce considera produtivo (tipo, Wikipedia +10, Kile +20, GMail +1, Facebook -10, Orkut -10, ...) e ele te dah um coeficiente de produtividade. A ideia eh genial. Eu quase fiz, mas depois fiquei com medo de ter alguem com todo o meu historico de navegacao na web. Achei que era uma informacao preciosa demais e sabe-se-la o que eles estao coletando. E nao era um site tao grande como o Mint entao nao instalei... De certa forma tem alguem que jah conhece todo o meu WebHistory. De fato, se voce for no Google Web History, voce pode ver o historico de todas as suas queries jah feitas. E inclusive a analytics legais sobre elas. Por exemplo, isso eh um retrato do meu comportamento online:


Exercicios interessantes sao: achar a distribuicao da minha hora de dormir baseado na WebHistory. O mesmo em relacao a minha hora de ir pro trabalho. E: quais sao meus meses de ferias?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Prazeres da memoria

Volta e meia eu sinto uma vontade de comer no McDonalds. Em geral eu estou cansado e em um saguao de aeroporto quando isso acontece. Mas acontece. Eu vou ateh lah, e na fila eu sei que eu vou me arrepender na segunda mordida - e batata, sempre me arrependo - mas mesmo assim sempre faco. Se eu deveria? Sim, acho que deveria continuar fazendo isso. 

O que acontece eh que comer - assim como todos os outros prazeres da vida - nao sao prazeres absolutos. De fato, eles o sao prazeres porque se relacionam com o que estah na nossa memoria, porque trazem recordacoes de experiencias boas (como a ida ao shopping com os amigos, na infancia). Mas isso acontece a todo momento. Eu gosto muito de biscoito O Globo, mas nao porque ele eh particularmente bom, ele eh um desses prazeres da memoria. O exemplo mais famosos da literatura eh a Madeleine de Proust, que ajudou a cunhar o conceito de memoria involuntaria. Se voce viu Ratatouille (que alias eh um filme excelente), o final mostra bem isso. Dessa forma, o bolo de cenoura como o que sua mae fazia bate de longe qualquer sobremesa do Le Robuchon, da Maison Laduree ou do El Bulli.

E de uma forma ou de outra, acho que a maioria dos prazeres sao prazeres da memoria. Freud dizia que nos homens somos tao atraidos pelos seios das mulheres porque eles nos fazem lembrar a epoca que estavamos sendo amamentados. O prazer da ciencia nao eh tambem o prazer de lembrar daquele mundo perfeito - no sentido platonico - que voce jah viu de relance e do qual ainda tem um traco na sua memoria.

Esse fato eh muito curioso - principalmente quando voce troca impressoes de viagem. Cidades que eu achei sem graca e desinteressantes - como Florenca - outras pessoas que eu conheco tiveram experiencias incriveis e estah dentre os lugares preferidos deles. E o contrario acontece muito. De fato porque a cidade em si nao eh interessante ou nao, mas o que estah na memoria sobre ele. Se voce choveu ou fez sol, se voce comeu uma sobremesa de manga particularmente boa ou se voce comeu um sanduiche estragado, se voce brigou com alguem ou se voce teve experiencias interessantes, se voce estava usando uma roupa que te espetava... eh um conjunto dessas coisas. E gostar ou nao fica sendo um atributo da memoria - uma combinacao de todas essas sensacoes mais ou menos resumidas no review que voce vai escrever no forum de viagens.

Se os prazeres sao prazeres da memoria, como explicar o prazer ao ser experimentado pela primeira vez: o primeiro pastel de camarao, a primeira vez que voce ve a prova do Teorema de Bezout ou a primeira vez que se visita Roma? A melhor explicacao que eu consigo dar eh a memoria futura. Vou tentar explicar:

Nos nos orgulhamos que o portugues eh a unica lingua que tem a palavra "saudade". Isso nao eh bem verdade, ingles por exemplo tem "homesick", o que nao eh exatamente o mesmo, mas eh quase. Alemao eh uma lingua expressiva: alias, se alemao tem algo a se orgulhar eh que eles tem uma palavra para cada conceito que jah foi formulado. Nao eh a toa que alemao acabou virando a lingua da filosofia. Mas voltando ao tema original, alemao tem nao uma, mas varias palavras para saudade. Os dois termos mais proximos sao "Heimweh" e "Fernweh". Himweh eh traduzido como homesickness no Wiktionary, mas nao eh exatamente isso: mais precisamente eh aquela nostalgia que voce sente em relacao ao que estah na sua memoria, do que jah aconteceu, ..., jah Fernweh eh um especie de saudade do que ainda nao aconteceu, saudade dos lugares distantes que voce ainda nao visitou, daquele tempo que voce ainda nao viveu, ... Eh uma das minhas palavras preferidas em alemao. De acordo com a Wikipedia, ideias de Fernweh e Wanderlust vem do romantismo alemao (do qual o romantismo brasileiro foi muito influenciado). Mas voltando pra nao me perder nos assuntos:

Considerando a memoria futura da minha vida daqui a 20 anos, ou da querida Beijing nunca visitada, acho que consigo classificar tudo o que gosto como prazeres da memoria de uma forma ou de outra.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Resumo Cultural do Semestre II

O blog post anterior foi uma especie de list-mania - dos livros que eu estava empacotando para levar pra Cambridge ou para colocar em algum lugar seguro (debaixo da mesa do meu escritorio em Ithaca) ateh minha volta. Eu menti no blog post passado por deixar de fora os livros tecnicos (que iriam entediar alguns leitores desse blog), por adicionar alguns livros que eu nao li esse semestre mas a algum tempo atras mas que estavam na minha estante e que eu decidi falar sobre eles, por omitir outros tantos (porque eu de fato sempre empresto, perco, ... livros) e por nao falar de audiobooks.

Um dos livros que eu comecei a "ler" em formato audiobook foi Predictably Irrational, mas nao gostei da experiencia. Quero dizer, o livro eh excelente, mas eu em determinado momento preferi parar com o audiobook e comprar o livro (isso, a versao impressa). Isso tinha acontecido a um ano atras com "Heart of Darkness". Eu nao gostei muito do audiobook. O livro deve ser bom, de fato eh muito famoso, mas eu acabei nao lendo nem ouvindo ateh o final. O problema de audio-books eh que, diferentemente de novelas de radio ou musicas, eles nao foram feitos para serem ouvidos, mas para serem lidos. E eu acho o processo bem diferente, principalmente no que se refere a tempo. Eu pelo menos sinto que eu gosto de parar para entender alguma coisa quando quero e quero passar rapido por determinadas partes se eu estou achando chato. Em audiobooks isso ainda pode ser feito em certo sentido, mas eh menos natural. O problema eh que seu seu nao paro pra entender algumas coisas, eu me perco. Se eu quero passar rapido por uma parte, mas nao consigo, eu fico entediado, meu pensamento vai pra outra coisa, e novamente me perco. Em resumo, minha experiencia nao tem sido a melhor.

Mas tem algo excelente para ouvir: lectures. Varias universidades como Yale, MIT, Stanford, Berkeley colocaram lecures em mp3 ou em video online:
para nao falar no TED, Google Tech Talks, ... Em geral sao materiais que foram feitos para serem ouvidos e vistos e acho muito mais facil entender. E acabo aprendendo muita coisa. Eu comecei a fazer os cursos de Religious Studies de Yale. Eu sempre me senti como querendo entender melhor a minha religiao e de forma mais geral minha cultura. Acho que minha formacao religiosa eh meio falha e em algum sentido, quer voce queira quer nao, o cristianismo eh uma das principais fundacoes da cultura ocidental. Voce pode entrar em qualquer museu, ler qualquer obra da literatura classica, que voce nao consegue passar 3 quadros ou 10 paginas, sem uma referencia religiosa. Sao as historias que da Vinci, Rafael, Dante, todos os filosofos leram, e que inspiraram eles. Da mesma forma, toda a musica classica, as operas giram em torno de temas religiosas. E para nao parecer que isso eh coisa do passado, os filmes modernos de sucesso como "Lord of the Rings", "Avatar", "Star Wars", "Harry Potter" seguem o mesmo framework de um "messias" que vem para salvar seja a Terra Media (LOTR), Pandora (Avatar), Imperio (Star Wars), ... O Verissimo dizia que a Biblia eh o livro-texto da nossa civilizacao.

De forma geral, religiao eh um assunto que me interessa muito e eu sempre quis ler mais a respeito. Embora imparcialidade seja algo impossivel, esses dois cursos de Yale sao dados de um ponto de vista academico. Nao sei definir bem o que seria um ponto de vista academico para religious studies, mas eh algo no seguinte sentido: tentando analisar as historias de varios pontos de vista, dar varias explicacoes associadas a diversos momentos da historia, analisar os textos dentro do contexto historico em que eles foram escritos, fazer analises de literatura comparada com outros textos do Oriente Medio, ... Eu aprendi muito e recomendo fortemente. Eu ouvi todas as aulas da Christina Hayes sobre o Antigo Testamente (Hebrew Bible).

Eu consegui explicacoes boas para varias coisas que sempre me intrigaram como a historia de Abraao e Isaac ou sobre o livro de Jo. Mas acho que ao inves de eu tentar explicar e acabar me enrolando, eh melhor ir direto ao curso. O curso tem em mp3, em video e o texto transcrito. Vou colocar uma parte que gostei muito e que achei muito illuminating abaixo:

[...] So Deuteronomy is itself an implicit authorization of the process of interpretation. And the notion of canon, or sacred canon, that's exemplified then by biblical texts is one that allows for continued unfolding and development of the sacred tradition. And that's an idea that I think differs very much from modern intuitions about the nature of sacred canons. I think a lot of people have the intuition that a sacred canon means that the text is fixed, static and authoritative because it is fixed and static, or unchanging. That's not the biblical view or ancient view of sacred canon. Texts representing sacred revelation were modified, they were revised, they were rephrased, they were updated and they were interpreted in the process of transmission and preservation. It was precisely because a text or a tradition was sacred and authoritative that it was important that it adapt and speak to new circumstances; otherwise it would appear to be irrelevant. So it's a very different notion of what it means for something to be canonical and sacred, from what I think some moderns have come to understand those terms to mean. [...]  (Lecture 11)
De fato, ouvir esse curso em mp3 me deixou com muita vontade de ler a Biblia do comeco ao fim - o que eu nunca fiz, embora eu conheca varias partes. Por um lado tem o fato de eu querer conhecer minha propria religiao melhor, e por outro me parece uma perspectiva literaria fascinante, afinal as boas historias da literatura estao sempre voltando as historias originais.

Eu estou atualmente ouvindo 3 cursos desses de Yale. O segundo curso de Religious Studies, um de Psicologia e um de Microeconomia. Acho uma maneira boa de aprender coisas (bem) diferentes da minha area enquanto caminho de casa para a faculdade. Ainda: se voce tem um iPod/iPhone/iAlgumaCoisa, dah pra pegar eles direto do iTunes.

domingo, 9 de maio de 2010

Resumo cultural do Semestre I

Estou empacotando minhas coisas pra mandar pra Cambridge. Muitos dos meus livros eu vou deixar aqui em Cornell no meu escritorio esperando por mim e estou ainda decidindo quais levar e quais deixar. Alguns eu posso simplesmente levar pro Brasil. De certa forma eu gosto de olhar meus livros e por isso resisti e nao comprei um Kindle. Eu gosto de olhar pra eles na estante e gosto de sentir o paper (se vc leu o post anterior, isso eh de certa forma uma referencia a coisa do monge copista). Esse semestre meio que eu voltei a ler com mais frequencia de manha. Pensei em fazer uma lista com alguns comentarios. Eu nao ordenei muito cronologicamente pelo que eu li - de fato eu vario os estilos, mas mais pelo que eh parecido:

  • SuperFreakonomics: eu tinha gostando muito do Freakonomics e fiquei feliz de saber que um novo livro do Levitt tinha saido. Gosto do estilo dele e acompanho o blog dele. Eh tao bom quanto o primeiro.
  • Predictably Irrational: ainda na onda de ler livros de economistas pop, nao dah pra deixar de ler o Dan Ariely. O livro eh muito legal. Dan Ariely eh um economista behaviorista, e ele argumenta que as pessoas nao agem sempre racionalmente. Eu nao aceito completamente esse ponto - prefiro pensar que as pessoas agem racionalmente mas podem ter "funcoes utilidade" nao esperadas. Outra coisa que eu prefiro os livros de economistas mais classicos como o Levitt eh que muitos dos pontos do livro do Predictably Irrational sao provados com experimentos de laboratorio - o que parece menos convincente - ainda mais quando as pessoas que sao testadas nos experimentos sao os alunos dele do MIT. Nao me parece um otimo sample para investigar o comportamento humano medio. De toda forma, o livro eh muito bom de ler e eh cheio de insights geniais. Recomendo.
  • Blink: Malcolm Galdwell, o autor de Blink, nao eh exatamente um economista, mas acho que ele ainda entraria na categoria economia pop em algum sentido. Gostei dele tambem
  • Antropologo de Marte: seis contos paradoxais. A proxima leva eh de livros de neurologia. O Oliver Sacks eh um dos autores mais geniais que conheco. Ele usa os casos que ele encontrou como neurologista para analisar a mente humana - tentando entender nossa mente olhando nos casos limite. Em seguida dois outros livros do Oliver que eu li recentemente:
  • Musicophilia: sobre musica e o cerebro.
  • The man that mistook his wife for a hat: outro livro de casos clinicos, relacionando filosofia, medicina, espiritualidade, psicologia, literatura... Eh um livro onde Hume e Kant sao citados junto com o neurologista russo Luria e o eclesiastes. Alias, fiquei com vontade de ler os livros desse neurologista russo: que eh de onde o Oliver Sacks clama que vem a tradicao da literatura clinica. Isto eh, escrever medicina com os cuidados de quem escreve literatura. Alias, talvez nos matematicos e computer scientists, deveriamos comecar a fazer o mesmo. De fato, alguns jah estao fazendo.
  • Logicomix: quadrinhos sobre a historia da Logica. Acompanha a (muito intrigante e real) historia de Bertrant Russell (se vc eh matematico, vc jah deve ter cruzado com Paradoxo de Russell, por exemplo). Foi uma epoca muito interessante, com gente como Cantor, Hilbert, Frege, Poincare, Godel, Wittgestein, ... como personagens. Uma misteriosa e tragica conexao sobre os fundadores da logica eh que a maioria deles acabou sua vida louco, internado num manicomio ou algo assim. E eles em geral tiveram historias familiares muito conturbadas. Somando-se a isso tudo, era a epoca da guerra e a Europa caia aos pedacos. Eh um livro dificil de parar.
  • The Ladies of Grade Adieu and Other Stories: O meu romance de fantasia preferido de todos os tempos se chama Jonathan Stange & Mr Norrell, e se voce gostou de Harry Potter, Lord of the Rings ou gosta de historias com magos (de fato eu gosto deles todos), leia Jonathan Strange. Se voce conhece os meandros do mundo academico, voce vai se divertir muito mais com as ironias e as sutilezas deles. Jonathan Strange transborda cultura e imaginacao de uma maneira que eu nunca vi. Cada detalhe, ironia e piada eh incrivelmente trabalhado como uma igreja barroca. A autora, Susanna Clarke, trabalhou durante 10 anos nesse livro, ateh bem pouco tempo, seu unico livro - e nesse meio tempo ela trabalhava para uma editora em um cargo administrativo. E eh uma obra prima. Digo ateh bem pouco tempo porque recentemente ela publicou uma serie de contos, esse que eu coloquei aih. Os contos sao otimos e os melhores sao realmente fantasticos. Mas nada que se compare a Jonathan Strange...
  • Coisas frageis: eu sempre gostei dos filmes baseados nos livros do Neil Gaiman mas nunca tinha lido nada dele. Gostei dos contos nesse livro. Na verdade, gostei muito de um ou dois, gostei da metade eles e a outra metade achei meio sem graca. Mas recomendo pelos que sao realmente bons, como "Keepsakers and Treasures". Mas talvez de pra ler esses na livraria mesmo. Sao contos pequenos.
  • A rainha do castelo de ar (The Girl Who Kicked the Hornet's Nest): excelente ultimo volume da Trilogia Milenium.
  • Man from Beijing: algumas pessoas que eu conheco gostam do Henning Mankell e o comeco (ateh 1/3 ou a metade) do livro eh realmente muito atraente. Mas depois ele perde o ritmo e fica chato. Achei que os personagens tambem nao eram muito profundos e que o misterio era facilmente resolvido logo sem nenhuma surpresa grande no fim. De toda forma, talvez eu tenha escolhido o romance errado dele pra ler. Mas de uma forma boa, acentuou minha vontade de visitar a China.
  • Life of Pi: Nao cheguei a terminar. Todos que eu falei sobre o livro deram a mesma descricao - o comeco eh empolgante e interessante, mas ele fica chato pelo meio. Talvez ele ofereca algo muito bom no fim, porque as reviews dele na Amazon sao otimas. Mas nao funcionou muito pra mim. Ou pelo menos eu nao cheguei ateh o ponto que ele fica realmente bom.
  • The Castle of Crossed Destinies: nao eh bem desse ano. eu li ano passado, mas estah aqui na estante, entao falemos dele. O Italo Calvino eh meu autor favorito, entao acabo gostando de quase tudo que leio dele (se voce nao leu nada, o meu preferido eh "Se um Viajante numa Noite de Inverno" - mas se voce eh um cientista, talvez voce se divirta mais com as "Cosmicomicas"). Mas voltando ao "Castle of Crossed...". Eh um livro fascinante. Um viajante chega a um castelo (que eh uma especie de hospedagem) depois de muito tempo na estrada. Chegando lah, ele percebe que ele e os outros viajantes perderam a voz. Tudo que ha na mesa eh um baralho de taro. Entao cada um comeca a contar sua historia usando as cartas de taro. Daih pra frente eu prefiro nao contar, mas eu gostei. E acabei indo ler sobre taro na Wikipedia. Acho que tem o mesmo papel que signos do Zodiaco no meu imaginario. Eu nao realmente acredito neles como forma de prever coisas, mas sao um exercicio cultural fascinante. Eh uma forma de colocar ordem no mundo de uma forma discreta e altamente estruturada. Nessa categoria estah tambem o I-Ching (the Chinese Book of Change)
  • Baron in the Trees: tambem do Calvino, eh o unico livro que eu nao tinha lido da trilogia "Nossos Antepassados". Os outros eu li a muito tempo atras. Otimo tal como os outros.
    Num proximo post eu falo dos audiobooks.

    sexta-feira, 7 de maio de 2010

    Macarons no cafe da manha e minha tentativa frustrada de comer pato laqueado

    Esse eh mais um post sobre comida. Comecou assim: eu fui visitar a IBM Watson por uns dias e dado que eu fui ateh lah eu resolvi chegar um dia antes e sair um dia depois e passar um tempo em NYC. A razao foi explorar o mapa que eu coloquei no post anterior. Se vc lembra do antigo, alguns pontos azuis viraram vermelhos.

    No primeiro dia eu segui a recomendacao do Daniel e fui no Momofuku. Eh um lugar pequeno e escondido, dificil de achar se uma boa recomendacao. Ele tem dois: eu fui no noodle bar. Sao poucas mesas, e cadeiras em torno do noodle bar - onde voce senta e ve eles preparando os noodles. O restaurante eh tao pequeno e lotado que as mesas sao compartilhadas: se houver um lugar vazio na sua mesa, pode crer que eles vao sentar uma pessoa lah. Os noodles sao simples, mas incrivelmente bem feitos. Eu sentei no noodle bar e tudo que eu via parecia excelente. Metade do que eu via saindo era o momofuku ramen (pork belly, pork shoulder, poached egg), que foi o que eu pedi tambem e era delicioso. De sobremesa comi um sorvete de azeite (isso, olive oil soft ice-cream). Era uma especie de frozen-yogurt com gosto de azeitona - mas um gosto bem suave. Chegava a ser levemente salgado. Ele ficava sobre crumbles e damascos. E a combinacao foi excelente (isso, muito gostosa alem de curiosa).

    Uma side note foi uma conversa que tive antes de ir pra lah: esses restaurantes bons tem menus muito pequenos. Em geral se preparam 5 ou 6 pratos diferentes por dia. De fato, voce nao consugue manter qualidade com tanta variedade. Nao tem como ter ingredientes frescos pra 50 pratos diferentes ou fazer tudo na hora se vc tem que fazer um monte de coisas. De certa forma, acho que o tamanho do menu (1/M onde M eh o tamanho do menu) eh uma metrica interessante de qualidade. Como eu jah falei no post anterior, eu gostaria de um restaurante com somente um item no menu. Ou uns dois ou tres. E isso acaba com um dos grandes problemas: regret. De vc ficar com ciume do que vem pra mesa do lado.

    No segundo dia eu fui jantar no Limon, que eh um restaurante turco pequeno. A comida era boa, mas o que eu gostei mesmo foi da sopa. Alias, eu sempre fico arrepiado quando eu como Red Lentil Soup. O que me faz pensar que eu se acreditasse em vidas passadas eu devo ter vindo da Turquia ou de algum lugar no Oriente Medio. De fato, falando em vidas passadas, eu sempre pensei que eu devo ter sido um desses monges copistas que ficavam em um monasterio da Idade Media copiando Os Elementos de Euclides. Isso explicaria o quao eu gosto de matematica, de copiar de coisas e de como eu me sinto bem perto de tinta e papel. Juntando as coisas eu soh posso ter sido um monge ortodoxo copiando os Elementos em algum lugar proximo da Antioquia, parando para comer Red Lentil Soup no almoco. Mas divagacoes a parte, eu realmente gostaria de aprender a fazer essa sopa. De acordo com a Wikipedia, ela aparece ateh na Biblia em Esau e Jaco. Mas isso eh historia pra outro post.

    Meu proximo dia comecou muito bem: eu fui ateh o Madeleine Patisserie (peguei a recomendacao aqui), o melhor lugar que eu jah encontrei para sentar e ler um livro ou trabalhar... Mas nao se engane, nao eh um lugar que voce vah pelo ambiente - eh um lugar para quem gosta de doces. Eh um lugar escondido no Chelsea com otimos paes. O croissant que eu comi acho que foi o melhor que eu jah comi nos EUA. Mas o carro chefe sao os macarons. Sim, macarons e eu to falando disso:



    E nao, ateh entao eu nao conhecia, ou sim, jah tinha visto alguns na Fauchon ou em outro lugares, mas nunca me encheram os olhos e eu nunca provei. Talvez vendo a foto no blog do Muthu eu tenha decidido tentar. E eh daquelas coisas que voce se arrepende de nao ter descoberto mais cedo. Hoje em dia eu fico um certo tempo pensando em macarons. Ainda tenho uma caixa de macarons no Madeleines na minha geladeira, mas ela estah quase no fim.

    Por fim eu deixei o que eu mais estava com vontade. Nos comentarios do blog anterior o Italo me deixou curioso sobre o Pato Laqueado. De fato, eu jah tinha ouvido falar muito dele. Teve muito discussao em torno do tal pato quando o Eike Batista abriu o Mr Lam no Rio e soh se falava no bendito do pato - os precos nao eram os que eu podia pagar com meu salario de aluno de mestrado e acho que ainda nao o sao com o meu salario de aluno de doutorado. mas em NYC eh bem mais razoavel, Entao resolvi ir na indicacao de todas as pessoas e ir no Peking Duck House, na Mott St, no fim da Chinatown de NYC.

    Eu passei alguns dias sonhando com o pato laqueado e deixei ele para o fim com aquela ideia de que adiar um prazer eh uma forma de amplifica-lo. Nao soh isso: eu discuti o pato laqueado com meus amigos chineses e sempre eu via um sorriso no rosto deles quando mencionava ele. Eles inclusive me contaram que na China os animais vinham para mesa com a cabeca e tudo (o que eh o caso do pato, que voce pode ver pendurado em varios lugares em Chinatown com a cabeca e tudo) mas que os ocidentais preferem nao olhar pra cabeca e se lembrarem que aquilo eh um animal de verdade.

    Em todo caso, eu dei uma volta pela Chinatown pra entrar no clima e fui caminhando para Mott Street. Chinatown eh cheio de restaurantes - muitos - mas nem todos onde eu teria coragem de entrar. O Peking Duck House eh um lugar bem chic comparado a maioria e eh onde td mundo fala quando mencionam Peking Duck em Manhattan. Se eh o melhor Peking Duck de Manhattan? Nao sei, duvido. Essas coisas acho que o melhor deve ser em algum lugar bem sujo e underground, preparado por alguma vovo chinesa. O melhor Peking Duck de Manhattan seria um que eu provavelmente nao teria coragem de comer. Mas bom, fui ateh o Peking Duck House.

    O problema foi que chegando lah, nao havia nenhuma porcao pequena de pato. Era um pato inteiro ou nada. Era um prato pra 4 pessoas - e estava sozinho. Se eu estivesse com mais alguem, eu encarava - feliz. Mas estando soh eu, eu olhei com resignacao e com uma certa inveja pro casal do meu lado e pras outras mesas ao redor, todas comendo pato e pedi um General Tso's Chicken, que alias estava muito boa. E de certa forma, eh bom ter desejos nao concretizados nessa vida. Eu definitivamente preciso de alguem pra me acompanhar em Manhattan para uma caminhada por Chinatonw, chegar a Mott St e comer pato.