terça-feira, 31 de março de 2009

Coisas romanticas

Antes de comecar qualquer coisa, o ideal eh revisar a literatura. Ler o que jah foi escrito sobre aquilo e como as pessoas antes de voce jah trataram. Eu semprei achei romance legal e tem uma extensa literatura poetica sobre o tema, alias, acho que foi o que mais pessoas jah escreveram sobre, tais como os in-adjetivaveis Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Luis de Camoes, ... Mas sempre senti falta de uma referencia mais formal (i.e., matematica) sobre o tema. Isso ateh bem pouco tempo. Eu estava vendo o seguinte video no YouTube



O video todo eh bem interessante, mas se vc quiser ir ao ponto sobre o qual eu estou falando, eh soh comecar a ver a partir do instante 4:50, onde o Steven Strogatz fala sobre uma experiencia dele se apaixonando na juventude e de como ele percebeu nisso uma relacao com campos lineares no plano. Lembrei logo do meu curso de EDO no IMPA. Ele publicou essa nota bem interessante sobre como usar o tema pra os alunos de graduacao terem uma maior intuicao sobre equacoes diferenciais lineares. Pra mais detalhes tiveram esses trabalhos mais aprofundados sobre o tema mais adiante:

Esse e esse.

O segundo um pouco mais complicado, necessitando saber um pouco de dinamica... Mas os dois bem ilustrativos e, digamos "iluminating". Resta saber quais sao minhas constantes.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Fotografia

Recentemente eu comecei a fazer o curso de "Photography I" em Cornell e estou me divertindo muito fazendo um curso de artes - principalmente porque é bem diferente do que eu faço a maior parte do tempo. Minha primeira surpresa foi que o curso ia ser com fotografia preto e branca e com máquinas de filme (!) Achei exótico, mas gostei muito da idéia. Me surpreendi com muitas coisas. Primeiro fiquei feliz com a minha nova (na verdade já bem antiga e usada, mas nova pra mim) Pentax K-1000 com lentes de 50mm (the photographer's eye). Tive que comprar rolos de filme, papel fotográfico, ... uma série de coisas, em resumo. Fazer esse curso tem me feito refletir um pouco sobre o papel da tecnologia na nossa vida.

A justificativa de começar assim e usar uma camera simples é aprender como todo o processo funciona e aprender os detalhes como ajustar shutter speed, aperture, comprar um filme com ISO certo, ajustar o contraste e a exposição na hora da impressão, ... que geralmente ficam bastante ocultos quando usamos, por exemplo, nossas cameras point-and-shoot digitais. Ajustar todos esses parametros manualmente, ao invés de usar algum programa embutido na câmera que ajuste melhora muito sua percepção de pra que cada uma daquelas coisas serve.



A impressao eh feita em um darkroom (no caso esse da foto ai em cima, tirada naturalmente quando as luzes estavam acesas no comeco do dia). Primeiro imprimimos uma test-strip, que basicamente eh uma impressao onde submetemos partes diferentes do negativo a diferentes exposicoes de luz e vemos o resultado num paper fotosensivel, como a seguinte test-strip:


A ideia eh selecionar uma exposicao que capture toda a faixa de tons: temos que ter pretos ricos e detalhes nas areas mais iluminadas. Em geral, selecionamos a faixa logo anterior aquele em que comecamos a perder detalhes. Dependendo do processo, pode-se fazer outros testes com diferentes exposicoes, ou mudar o contraste, ... - mas nesse caso (essa acima foi meu primeiro print), simplesmente escolhemos a melhor e imprimimos a final, que no caso foi:



A impressao eh um processo bem demorado: depois de expor o papel, ele passa 2 minutos no developer, 30 segundos em um stop bath, 2 minutos em um tal de Fixer A e mais 2 minutos em um Fixer B. Por fim, ainda tem 10 minutos da fase de wash. Eh um processo que leva voce a valorizar cada foto, e de fato, depois desse trabalho todo, voce passa a valorizar cada foto. De fato, existe um filme soh com 36 fotos - voce as tira com bem mais cuidado, ve os negativos, pega duas ou tres fotos boas dessas 36 e essas voce imprime. E imprimir demora um tempo consideravel.

Eh interessante pensar que a tecnologia desempenha um papel engracado. Quanto mais faceis as coisas ficam, menos damos valor a elas. Hoje ninguem fica tao feliz com uma ligacao telefonica quanto na epoca em que isso era raro e dificil. O mesmo com fotos. O fato de termos uma camera que nos deixa tirar um numero praticamente infinito de fotos faz com que simplesmente tiremos um numero muito grande do mesmo lugar e esperemos que, estatisticamente, uma esteja boa. Isso eh totalmente oposto a visao de que devemos procurar o ponto de vista certo, passar algum tempo analisando, e depois disparar aquela unica foto que deve ficar otima. Nao sei qual o melhor, de fato acho que nao ha um melhor, mas jeitos diferentes. De toda forma, acho interessante pensar como isso afeta nossas vidas.

Brincar com essa camera me deixou com saudades da minha infancia. Principalmente porque lembrei do cheiro do filme fotografico que usavamos nas nossas viagens quando eu e meu irmao eramos pequenos. Tudo que ha com nossas cameras comecou ali. Fiquei meio espantado como as nossas cameras de hoje ainda se parecem de certa forma com as cameras de antigamente e lembrei de uma entrevista que li a algum tempo com o cara que inventou o html. Ele se queixava que as pessoas usavam novas tecnologias para fazer as mesmas coisas. Que elas iam para a internet e esperavam encontrar coisas como nos livros, na televisao ou nos jornais - e que era muito lento o modo de usar novas midias para coisas totalmente novas. De fato, nao acho que a internet seja muito mais tao convencional assim (acho que era uma entrevista meio antiga), mas fiquei pensando nas cameras e me perguntando se realmente essas cameras de hoje sao modelos modernos das mais antigas e se realmente estao pensando em como usas a tecnologia hoje de forma inteiramente nova para a fotografia. Acho que devem estar fazendo isso sim, soh nao conheco ainda, mas digo mais se souber de algo.

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Em todo caso, coloquei algumas das minhas fotos do curso online e hoje fui ver "The Reader" que achei fantastico. Lembro que tivemos que ler esse livro na aula de alemao quando eu estava na escola. Acho na epoca nem cheguei a terminar o livro, mas vendo agora em ingles, e com bem mais maturidade (ok, talvez nem tanto), gostei muito. Fiquei feliz em descobrir tambem que o Google dah os horarios do cinema de Ithaca. Tem tambem pro Rio de Janeiro.

terça-feira, 17 de março de 2009

Dragon Day


Sexta feira passada foi o Dragon Day aqui em Cornell - acontece tradicionalmente no ultimo dia antes do Spring Break, onde os alunos do primeiro ano do curso de Arquitetura fazem um grande dragao e ao meio dia ha uma parada pelo campus. Existe uma certa rivalidade entre os alunos de arquitetura e os de engenharia civil, entao os engenheiros constroem uma phoenix para proteger o Engineering Quad da passagem do dragao nesse dia. Os dois sao essas fotos aih de cima.

Esse ano so teve um pequeno problema. Normalmente no fim da parada, os alunos do ultimo ano colocam fogo no dragao. Esse ano, por causa de alguma legislacao ambiental nova, eles nao puderam queimar. Nos outros anos tem fotos bem legais desse dragao enorme pegando fogo no meio do campus. Tomara que nos anos seguintes consigam alguma forma de queimar o dragao de uma forma legal.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Um post frívolo


Descobri um pouco sem querer que os sabores de "Orchard Peach" e "Chocolate Peanut Butter" são uma excelente combinação - enquanto um é bem doce, outro é bem azedo - ambos muito bons, no entanto, e um ajuda bastante a quebrar o sabor do outro. De fato, essa coisa de garantir diversidade no que você come ou faz é uma questão interessante. Sei, por exemplo, que as lojas de perfume mantém grãos de café para que as pessoas cheirem entre um perfume e outro. Desse modo elas não ficam influenciadas por um cheiro quando vão sentir o próximo. O café funciona bem com o perfume nesse sentido. Acho que as pessoas que degustam vinhos fazem algo semelhante, embora eu não saiba bem o quê. De fato, algo nesse sentido é necessário.

Outra coisa que isso me lembra são os meus tempos de IME+IMPA. Enquanto tinha várias coisas técnicas de engenharia para estudar pro IME, haviam várias outras coisas bem matemáticas e formais para o IMPA. E lembro que funcionavam muito bem juntas. Dessa forma eu não me cansava de nenhum dos modelos... Se eu pensava: quanta teoria, eu quero alguma aplicação... era só mudar e ir estudar pras matérias do IME e quando eu pensava: que coisas bagunçadas e pouco formais, eu quero algo mais bonito e fechadinho... eu ia estudar matemática.

Aliás, isso me lembra um pouco de uma conversa que eu estava tendo agora a pouco: quando você é da graduação, ou até do mestrado, vc lê quase que somente livros (a maioria já sobre teorias comprovadas e bem arrumadas) e todas as coisas fazem todo o sentido. No doutorado, grande parte das suas leituras são de papers que foram publicados nos últimos 5 anos. Você passa grande parte do tempo estudando sobre coisas que ainda estão por fazer e que ainda contém vários furos e coisas mal explicadas. No entanto ainda existem muitos resultados clássicos por serem aprendidos. Existem muitas teorias bonitas e fechadas por aí que não sabemos. Qual então é o balanço entre ficar lendo coisas clássicas e bons resultados e ficar lendo resultados novos e cheios de furos e coisas em aberto? Enquanto o primeiro te ensina técnicas e mostra casos bem sucedidos, os segundos te dão idéias de direções de pesquisa e coisas que podem ser feitas. As duas coisas são muito importantes. Mas quanto é necessário e suficiente de cada um? Eu ainda não tenho uma resposta pra essa pergunta, mas ando conversando com várias pessoas sobre isso e descobrindo que ninguém tem uma resposta clara para isso também.

Uma ultima observação gastronômica: às vezes duas coisas vão muito bem uma com a outra e às vezes uma coisa totalmente engole a outra e não deixa você perceber o sabor das demais (ketchup é o exemplo mais clássico disso). Como todas as coisas na vida isso não é bom ou mal - mas sim pode ser usado para o bem ou para o mal. Vivendo sozinho aqui em Ithaca, eu acabo me aventurando na cozinha de noite e tem uma técnica ótima para me virar caso as coisas não dêem muito certo: simplesmente tenho uma quantidade suficiente de queijo gorgonzola (ou outro queijo de sabor forte) na minha geladeira. No pior caso, meu jantar tem gosto de queijo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sopas Campbell

Eu já estou a algum tempo sem postar nada. De fato, têm sido bem corrido esse último mês: eu passei duas semanas fora de Ithaca e, voltando, descobri que eu era um dos "Visit Day Czars", ou seja, eu era da comissão que vai organizar a visita dos alunos admitidos pra Cornell - que vai ocorrer nesse fim de semana. Se você está se perguntando por que se chama czar, saiba que eu estou me perguntando a mesma coisa. Ok, eu sempre achei títulos de nobreza legais, inclusive sempre achei que algo como "visconde" ou "barão" ficaria muito bem antes do meu nome (depois de algum tempo eu abri mão desse sonho nobiliático e resolvi tentar ter "doutor" antes do meu nome). Mas imperador russo já é meio demais. Na verdade, se você olhar o artigo da Wikipedia sobre czar, você vai ver que um uso metafórico aqui nos EUA é para "posições de autoridade" - mas aqui no departamento de computação é meio diferente: definição de czar do Cornell CS. De fato, essa coisa de dar nomes pomposos e de autoridade me lembra muito o Reino do Preste João, onde todos os seus empregados eram condes e bispos, os seus copeiros eram todos barões, os ajudantes eram viscondes e arquimandritas, enquanto o rei conservava apenas o humilde título de preste (uma versão para padre). Eu sempre fui fascinado por essa lenda medieval em especial, e acho essa coisa dos títulos em relação a determinadas corporações modernas. Mas é claro que a coisa toda de czar é brincadeira e não cai bem nessa categoria. Mas acho que era uma ocasião legal de mencionar.

Bom, mas uma das nossas funções como czar é levar os alunos admitidos (prospective students ou prospies) para passear pelo campus. Dado que eu vou ter que fazer isso no domingo, achei legal fazer o tour oficial que acontece uma vez por dia. Fazer o "Campus Tour" para conhecer um pouco mais das histórias e do folclore da universidade já é algo que eu planejava fazer a muito tempo, mas estava sempre adiando. (Na verdade, tem uma lista enorme de coisas que eu queria fazer aqui no campus e ainda não fiz, mesmo estando aqui a mais de 6 meses. Eu ainda falo das outras mais tarde...). As histórias são bem interessantes e a maioria delas está nesse artigo. Mas uma eu achei particularmente interessante: aquela sobre as sopas Campbell.


Eu conhecia as sopas Campbell principalmente por esse quadro acima do Andy Warhol. Na verdade eu cheguei a comprar uma lata de sopa Campbell quando eu vim aqui pra os EUA, mas ela ainda está fechada no meu armário. Até hoje eu nunca cheguei em casa com vontade de abrir a lata. Como a validade desses enlatados é absurdos, acho que dá pra esperar tranquilamente pelo próximo cataclisma, quando vamos ter que ficar trancados em casa comendo comida enlatada e trabalhando na nossa tese de doutorado pra eu abrir a sopa.

Mas voltando ao assunto: aparentemente eles estavam procurando um padrão de cores para colocar na lata de sopa, e, determinaram que iam colocar as cores do vencedor de um jogo Cornell versus Princeton (acho que de futebol americano). Como vocês podem ver, Cornell ganhou o jogo.

Falando em cores, existe uma cor chamada carnelian - é a tonalidade de vermelho que Cornell usa. Ainda preciso de uma boa história pra explicar a conexão do nome da faculdade com a cor.