sábado, 29 de maio de 2010

Paixao por dados

Nos filmes de ficcao cientifica normalmente tem aquela imagem do futuro onde todo mundo tem um chip dentro de si que dah sua identidade e todos os seus dados e que tem todos os dados sobre voce. Em geral isso eh retratado como uma realidade sombria, mas para mim eh algo fascinante. Tem tanta coisa sobre mim que eu nao sei e que gostaria de saber:
  • quanto tempo eu passo em cada lugar
  • quanto tempo eu passo fazendo cada atividade (lendo email, estudando, enrolando, limpando a casa, ...)
  • como meus hormonios (adrenalina, serotonina, endorfina...) variam nas diversas situacoe
e varias outras coisas.... Deve ser essa minha mania de querer ficar otimizando as coisas. Ou melhor, de pensar como as coisas poderiam ser otimizadas, mesmo que eu efetivamente nao as faca. Na verdade o ponto nao eh necessariamente otimizar, mas aprender mais sobre voce. Quando voce olha para essas analises, voce comeca a ver coisas que voce nao imaginava: "Mas eu gasto todo esse dinheiro em cafezinho?", "Mas eu fico tanto tempo assim checando email?", "Nao pode ser, eu nao como tanto acucar!" e coisas assim. A verdade eh que com todo mundo tendo celulares como iPhones, Droids, Smartphones e similares fica muito facil fazer controle de varias dessas coisas.

Path Tracker

Bom, estou escrevendo isso porque hoje testei o PathTracker: se trata de um aplicativo de iPhone que te dah o caminho que voce fez e estatisticas sobre ele. Voce liga o PathTracker e a cada intervalo de tempo (algo como, a cada minuto), ele registra a sua posicao usando o GPS do iPhone e no fim ele te dah um mapa dizendo por onde voce passou, a velocidade em cada ponto, a altitude do caminho e outras variaveis.

Hoje eu sai pra fazer um passeio de bike (vendi a minha em Ithaca e comprei uma nova aqui em Cambridge). Esse foi o caminho que fiz hoje (eu soh lembrei de ligar na volta). Se chama the Minuteman Bikeway, mas no mapa tem nao somente o Minuteman como a minha volta do inicio do Minuteman pra Harvard Square:


O mais legal eh que voce tem tambem um mapa da altitude ao longo do caminho:


e um mapa do pace (que eh basicamente tempo/distancia):


Google Analytics

Eu tenho usando sempre varias Analyic Tools. A que eu uso a mais tempo eh o Google Analytics pra analisar o trafego do meu site (quantos acessos eu tenho por dia, como eles variam a cada hora do dia, de que cidades meu site eh acessado, ...). Como eu jah mostrei antes, a parte do meu site que tem a copia dos meus cadernos tem o seguinte padrao de acesso:


ou seja, eu consigo perceber claramente quando sao as provas do IME. Aih em cima tem uma estatistica do numero de acessos no ano de 2009 inteiro. O meu blog jah eh meio diferente. Eh algo como em 2010 ateh agora:


Eu sinceramente gostaria de ter mais tempo de brincar com esses dados e ver que coisas interessantes eu poderia dizer sobre eles. O meu blog eh um blog pequeno, e nao tem tantos acessos pra se fazer uma analise interessante, mas seria otimo fazer analises assim na Wikipedia ou no Twitter e de fatos tem varios estudos sendo feitos.

Mint.com

Mas voltando ao caso de me conhecer melhor analisando dados sobre mim: eu recentemente venci a resistencia e o medo em relacao a essas coisas e criei uma conta no mint.com, e de fato eh super legal. O Mint eh um agregador de contas bancarias. Voce dah suas contas e senhas do banco (ok, it is scary, mas eh um site grande e eu conheco tanta gente usando que decidi que nao tinha problema. E procurando na internet voce soh ve gente falando bem e aparentemente o sistema se seguranca deles eh bom), mas voltando, voce dah suas contas e senhas do banco e ele pega os dados dos seus diversos bancos (caso voce tenha mais de um), credit card companies, firmas de investimento e tal... e agrega tudo num lugar soh. A feature realmente interessante eh que alem de agregar ele dah varias ferramentas de data analysis on top of that. Algo bem simples (mas que nenhum banco de fornece): voce pode plotar por mes duas barras com o Income/Outcome da sua conta. Assim voce pode ver a evolucao da sua renda e dos seus gastos e comparar. Mais ainda: ele tem um sistema de Machine Learning que categoriza seus dados (e uma interface legal pra voce ajudar ele a fazer isso). Entao se vem um gasto da AT&T ele classifica como "Utilities", se vem um "Starbucks" ele classifica como "Food&Groceries > Coffee Shops" se eh Amazon ele classifica como "Shopping" e por aih vai. E algumas categorias se subdividem, como Food&Groceries se divide em Restaurants, Coffee Shops, Bars, Groceries, ...

A classificacao eh quase perfeita. No que dah errado, voce pode ir lah e consertar e "ensinar" o certo. Eu tive um gasto de $20 no "Four Seasons" e ele classificou como "Travel > Hotel" achando que eu tinha ficado hospedado no Four Seasons e pago 20 dolares por isso (!). Ok, espero um dia ficar no Four Seasons, mas o Four Seasons aqui eh um restaurante coreano em Ithaca. Eu fui lah e classifiquei como restaurante e desse momento em diante ele passou a classificar certo.

O legal eh que dah pra plotar quando por mes voce gasta em Coffee Shops, por exemplo, e se impressionar com desenvolvimento do seu vicio. Ou olhar um mes (ou um ano) como os seus gastos de quebram entre varias coisas. O Mint faz uns Pie Charts bem legais falando da proporcao de restaurantes, de viagens, de shopping, que voce faz. Eu definitivamente recomendo. Os videos de demonstracao do site sao bem legais e melhores do que eu poderia explicar.

Rescue Time

Eu fiquei muito tentado a instalar o RescueTime no meu computador: eh um software de analytics que quebra o seu tempo no computador em relacao a que programas voce estah usando: ele diz quanto tempo voce fica no shell, quanto tempo no Kile editando LaTeX, e quanto tempo no Firefox. E ainda o tempo que ele passa no Firefox eh quebrado em quanto tempo voce passa no GMail, Facebook, Wikipedia, ... Voce pode dizer o que voce considera produtivo (tipo, Wikipedia +10, Kile +20, GMail +1, Facebook -10, Orkut -10, ...) e ele te dah um coeficiente de produtividade. A ideia eh genial. Eu quase fiz, mas depois fiquei com medo de ter alguem com todo o meu historico de navegacao na web. Achei que era uma informacao preciosa demais e sabe-se-la o que eles estao coletando. E nao era um site tao grande como o Mint entao nao instalei... De certa forma tem alguem que jah conhece todo o meu WebHistory. De fato, se voce for no Google Web History, voce pode ver o historico de todas as suas queries jah feitas. E inclusive a analytics legais sobre elas. Por exemplo, isso eh um retrato do meu comportamento online:


Exercicios interessantes sao: achar a distribuicao da minha hora de dormir baseado na WebHistory. O mesmo em relacao a minha hora de ir pro trabalho. E: quais sao meus meses de ferias?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Prazeres da memoria

Volta e meia eu sinto uma vontade de comer no McDonalds. Em geral eu estou cansado e em um saguao de aeroporto quando isso acontece. Mas acontece. Eu vou ateh lah, e na fila eu sei que eu vou me arrepender na segunda mordida - e batata, sempre me arrependo - mas mesmo assim sempre faco. Se eu deveria? Sim, acho que deveria continuar fazendo isso. 

O que acontece eh que comer - assim como todos os outros prazeres da vida - nao sao prazeres absolutos. De fato, eles o sao prazeres porque se relacionam com o que estah na nossa memoria, porque trazem recordacoes de experiencias boas (como a ida ao shopping com os amigos, na infancia). Mas isso acontece a todo momento. Eu gosto muito de biscoito O Globo, mas nao porque ele eh particularmente bom, ele eh um desses prazeres da memoria. O exemplo mais famosos da literatura eh a Madeleine de Proust, que ajudou a cunhar o conceito de memoria involuntaria. Se voce viu Ratatouille (que alias eh um filme excelente), o final mostra bem isso. Dessa forma, o bolo de cenoura como o que sua mae fazia bate de longe qualquer sobremesa do Le Robuchon, da Maison Laduree ou do El Bulli.

E de uma forma ou de outra, acho que a maioria dos prazeres sao prazeres da memoria. Freud dizia que nos homens somos tao atraidos pelos seios das mulheres porque eles nos fazem lembrar a epoca que estavamos sendo amamentados. O prazer da ciencia nao eh tambem o prazer de lembrar daquele mundo perfeito - no sentido platonico - que voce jah viu de relance e do qual ainda tem um traco na sua memoria.

Esse fato eh muito curioso - principalmente quando voce troca impressoes de viagem. Cidades que eu achei sem graca e desinteressantes - como Florenca - outras pessoas que eu conheco tiveram experiencias incriveis e estah dentre os lugares preferidos deles. E o contrario acontece muito. De fato porque a cidade em si nao eh interessante ou nao, mas o que estah na memoria sobre ele. Se voce choveu ou fez sol, se voce comeu uma sobremesa de manga particularmente boa ou se voce comeu um sanduiche estragado, se voce brigou com alguem ou se voce teve experiencias interessantes, se voce estava usando uma roupa que te espetava... eh um conjunto dessas coisas. E gostar ou nao fica sendo um atributo da memoria - uma combinacao de todas essas sensacoes mais ou menos resumidas no review que voce vai escrever no forum de viagens.

Se os prazeres sao prazeres da memoria, como explicar o prazer ao ser experimentado pela primeira vez: o primeiro pastel de camarao, a primeira vez que voce ve a prova do Teorema de Bezout ou a primeira vez que se visita Roma? A melhor explicacao que eu consigo dar eh a memoria futura. Vou tentar explicar:

Nos nos orgulhamos que o portugues eh a unica lingua que tem a palavra "saudade". Isso nao eh bem verdade, ingles por exemplo tem "homesick", o que nao eh exatamente o mesmo, mas eh quase. Alemao eh uma lingua expressiva: alias, se alemao tem algo a se orgulhar eh que eles tem uma palavra para cada conceito que jah foi formulado. Nao eh a toa que alemao acabou virando a lingua da filosofia. Mas voltando ao tema original, alemao tem nao uma, mas varias palavras para saudade. Os dois termos mais proximos sao "Heimweh" e "Fernweh". Himweh eh traduzido como homesickness no Wiktionary, mas nao eh exatamente isso: mais precisamente eh aquela nostalgia que voce sente em relacao ao que estah na sua memoria, do que jah aconteceu, ..., jah Fernweh eh um especie de saudade do que ainda nao aconteceu, saudade dos lugares distantes que voce ainda nao visitou, daquele tempo que voce ainda nao viveu, ... Eh uma das minhas palavras preferidas em alemao. De acordo com a Wikipedia, ideias de Fernweh e Wanderlust vem do romantismo alemao (do qual o romantismo brasileiro foi muito influenciado). Mas voltando pra nao me perder nos assuntos:

Considerando a memoria futura da minha vida daqui a 20 anos, ou da querida Beijing nunca visitada, acho que consigo classificar tudo o que gosto como prazeres da memoria de uma forma ou de outra.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Resumo Cultural do Semestre II

O blog post anterior foi uma especie de list-mania - dos livros que eu estava empacotando para levar pra Cambridge ou para colocar em algum lugar seguro (debaixo da mesa do meu escritorio em Ithaca) ateh minha volta. Eu menti no blog post passado por deixar de fora os livros tecnicos (que iriam entediar alguns leitores desse blog), por adicionar alguns livros que eu nao li esse semestre mas a algum tempo atras mas que estavam na minha estante e que eu decidi falar sobre eles, por omitir outros tantos (porque eu de fato sempre empresto, perco, ... livros) e por nao falar de audiobooks.

Um dos livros que eu comecei a "ler" em formato audiobook foi Predictably Irrational, mas nao gostei da experiencia. Quero dizer, o livro eh excelente, mas eu em determinado momento preferi parar com o audiobook e comprar o livro (isso, a versao impressa). Isso tinha acontecido a um ano atras com "Heart of Darkness". Eu nao gostei muito do audiobook. O livro deve ser bom, de fato eh muito famoso, mas eu acabei nao lendo nem ouvindo ateh o final. O problema de audio-books eh que, diferentemente de novelas de radio ou musicas, eles nao foram feitos para serem ouvidos, mas para serem lidos. E eu acho o processo bem diferente, principalmente no que se refere a tempo. Eu pelo menos sinto que eu gosto de parar para entender alguma coisa quando quero e quero passar rapido por determinadas partes se eu estou achando chato. Em audiobooks isso ainda pode ser feito em certo sentido, mas eh menos natural. O problema eh que seu seu nao paro pra entender algumas coisas, eu me perco. Se eu quero passar rapido por uma parte, mas nao consigo, eu fico entediado, meu pensamento vai pra outra coisa, e novamente me perco. Em resumo, minha experiencia nao tem sido a melhor.

Mas tem algo excelente para ouvir: lectures. Varias universidades como Yale, MIT, Stanford, Berkeley colocaram lecures em mp3 ou em video online:
para nao falar no TED, Google Tech Talks, ... Em geral sao materiais que foram feitos para serem ouvidos e vistos e acho muito mais facil entender. E acabo aprendendo muita coisa. Eu comecei a fazer os cursos de Religious Studies de Yale. Eu sempre me senti como querendo entender melhor a minha religiao e de forma mais geral minha cultura. Acho que minha formacao religiosa eh meio falha e em algum sentido, quer voce queira quer nao, o cristianismo eh uma das principais fundacoes da cultura ocidental. Voce pode entrar em qualquer museu, ler qualquer obra da literatura classica, que voce nao consegue passar 3 quadros ou 10 paginas, sem uma referencia religiosa. Sao as historias que da Vinci, Rafael, Dante, todos os filosofos leram, e que inspiraram eles. Da mesma forma, toda a musica classica, as operas giram em torno de temas religiosas. E para nao parecer que isso eh coisa do passado, os filmes modernos de sucesso como "Lord of the Rings", "Avatar", "Star Wars", "Harry Potter" seguem o mesmo framework de um "messias" que vem para salvar seja a Terra Media (LOTR), Pandora (Avatar), Imperio (Star Wars), ... O Verissimo dizia que a Biblia eh o livro-texto da nossa civilizacao.

De forma geral, religiao eh um assunto que me interessa muito e eu sempre quis ler mais a respeito. Embora imparcialidade seja algo impossivel, esses dois cursos de Yale sao dados de um ponto de vista academico. Nao sei definir bem o que seria um ponto de vista academico para religious studies, mas eh algo no seguinte sentido: tentando analisar as historias de varios pontos de vista, dar varias explicacoes associadas a diversos momentos da historia, analisar os textos dentro do contexto historico em que eles foram escritos, fazer analises de literatura comparada com outros textos do Oriente Medio, ... Eu aprendi muito e recomendo fortemente. Eu ouvi todas as aulas da Christina Hayes sobre o Antigo Testamente (Hebrew Bible).

Eu consegui explicacoes boas para varias coisas que sempre me intrigaram como a historia de Abraao e Isaac ou sobre o livro de Jo. Mas acho que ao inves de eu tentar explicar e acabar me enrolando, eh melhor ir direto ao curso. O curso tem em mp3, em video e o texto transcrito. Vou colocar uma parte que gostei muito e que achei muito illuminating abaixo:

[...] So Deuteronomy is itself an implicit authorization of the process of interpretation. And the notion of canon, or sacred canon, that's exemplified then by biblical texts is one that allows for continued unfolding and development of the sacred tradition. And that's an idea that I think differs very much from modern intuitions about the nature of sacred canons. I think a lot of people have the intuition that a sacred canon means that the text is fixed, static and authoritative because it is fixed and static, or unchanging. That's not the biblical view or ancient view of sacred canon. Texts representing sacred revelation were modified, they were revised, they were rephrased, they were updated and they were interpreted in the process of transmission and preservation. It was precisely because a text or a tradition was sacred and authoritative that it was important that it adapt and speak to new circumstances; otherwise it would appear to be irrelevant. So it's a very different notion of what it means for something to be canonical and sacred, from what I think some moderns have come to understand those terms to mean. [...]  (Lecture 11)
De fato, ouvir esse curso em mp3 me deixou com muita vontade de ler a Biblia do comeco ao fim - o que eu nunca fiz, embora eu conheca varias partes. Por um lado tem o fato de eu querer conhecer minha propria religiao melhor, e por outro me parece uma perspectiva literaria fascinante, afinal as boas historias da literatura estao sempre voltando as historias originais.

Eu estou atualmente ouvindo 3 cursos desses de Yale. O segundo curso de Religious Studies, um de Psicologia e um de Microeconomia. Acho uma maneira boa de aprender coisas (bem) diferentes da minha area enquanto caminho de casa para a faculdade. Ainda: se voce tem um iPod/iPhone/iAlgumaCoisa, dah pra pegar eles direto do iTunes.

domingo, 9 de maio de 2010

Resumo cultural do Semestre I

Estou empacotando minhas coisas pra mandar pra Cambridge. Muitos dos meus livros eu vou deixar aqui em Cornell no meu escritorio esperando por mim e estou ainda decidindo quais levar e quais deixar. Alguns eu posso simplesmente levar pro Brasil. De certa forma eu gosto de olhar meus livros e por isso resisti e nao comprei um Kindle. Eu gosto de olhar pra eles na estante e gosto de sentir o paper (se vc leu o post anterior, isso eh de certa forma uma referencia a coisa do monge copista). Esse semestre meio que eu voltei a ler com mais frequencia de manha. Pensei em fazer uma lista com alguns comentarios. Eu nao ordenei muito cronologicamente pelo que eu li - de fato eu vario os estilos, mas mais pelo que eh parecido:

  • SuperFreakonomics: eu tinha gostando muito do Freakonomics e fiquei feliz de saber que um novo livro do Levitt tinha saido. Gosto do estilo dele e acompanho o blog dele. Eh tao bom quanto o primeiro.
  • Predictably Irrational: ainda na onda de ler livros de economistas pop, nao dah pra deixar de ler o Dan Ariely. O livro eh muito legal. Dan Ariely eh um economista behaviorista, e ele argumenta que as pessoas nao agem sempre racionalmente. Eu nao aceito completamente esse ponto - prefiro pensar que as pessoas agem racionalmente mas podem ter "funcoes utilidade" nao esperadas. Outra coisa que eu prefiro os livros de economistas mais classicos como o Levitt eh que muitos dos pontos do livro do Predictably Irrational sao provados com experimentos de laboratorio - o que parece menos convincente - ainda mais quando as pessoas que sao testadas nos experimentos sao os alunos dele do MIT. Nao me parece um otimo sample para investigar o comportamento humano medio. De toda forma, o livro eh muito bom de ler e eh cheio de insights geniais. Recomendo.
  • Blink: Malcolm Galdwell, o autor de Blink, nao eh exatamente um economista, mas acho que ele ainda entraria na categoria economia pop em algum sentido. Gostei dele tambem
  • Antropologo de Marte: seis contos paradoxais. A proxima leva eh de livros de neurologia. O Oliver Sacks eh um dos autores mais geniais que conheco. Ele usa os casos que ele encontrou como neurologista para analisar a mente humana - tentando entender nossa mente olhando nos casos limite. Em seguida dois outros livros do Oliver que eu li recentemente:
  • Musicophilia: sobre musica e o cerebro.
  • The man that mistook his wife for a hat: outro livro de casos clinicos, relacionando filosofia, medicina, espiritualidade, psicologia, literatura... Eh um livro onde Hume e Kant sao citados junto com o neurologista russo Luria e o eclesiastes. Alias, fiquei com vontade de ler os livros desse neurologista russo: que eh de onde o Oliver Sacks clama que vem a tradicao da literatura clinica. Isto eh, escrever medicina com os cuidados de quem escreve literatura. Alias, talvez nos matematicos e computer scientists, deveriamos comecar a fazer o mesmo. De fato, alguns jah estao fazendo.
  • Logicomix: quadrinhos sobre a historia da Logica. Acompanha a (muito intrigante e real) historia de Bertrant Russell (se vc eh matematico, vc jah deve ter cruzado com Paradoxo de Russell, por exemplo). Foi uma epoca muito interessante, com gente como Cantor, Hilbert, Frege, Poincare, Godel, Wittgestein, ... como personagens. Uma misteriosa e tragica conexao sobre os fundadores da logica eh que a maioria deles acabou sua vida louco, internado num manicomio ou algo assim. E eles em geral tiveram historias familiares muito conturbadas. Somando-se a isso tudo, era a epoca da guerra e a Europa caia aos pedacos. Eh um livro dificil de parar.
  • The Ladies of Grade Adieu and Other Stories: O meu romance de fantasia preferido de todos os tempos se chama Jonathan Stange & Mr Norrell, e se voce gostou de Harry Potter, Lord of the Rings ou gosta de historias com magos (de fato eu gosto deles todos), leia Jonathan Strange. Se voce conhece os meandros do mundo academico, voce vai se divertir muito mais com as ironias e as sutilezas deles. Jonathan Strange transborda cultura e imaginacao de uma maneira que eu nunca vi. Cada detalhe, ironia e piada eh incrivelmente trabalhado como uma igreja barroca. A autora, Susanna Clarke, trabalhou durante 10 anos nesse livro, ateh bem pouco tempo, seu unico livro - e nesse meio tempo ela trabalhava para uma editora em um cargo administrativo. E eh uma obra prima. Digo ateh bem pouco tempo porque recentemente ela publicou uma serie de contos, esse que eu coloquei aih. Os contos sao otimos e os melhores sao realmente fantasticos. Mas nada que se compare a Jonathan Strange...
  • Coisas frageis: eu sempre gostei dos filmes baseados nos livros do Neil Gaiman mas nunca tinha lido nada dele. Gostei dos contos nesse livro. Na verdade, gostei muito de um ou dois, gostei da metade eles e a outra metade achei meio sem graca. Mas recomendo pelos que sao realmente bons, como "Keepsakers and Treasures". Mas talvez de pra ler esses na livraria mesmo. Sao contos pequenos.
  • A rainha do castelo de ar (The Girl Who Kicked the Hornet's Nest): excelente ultimo volume da Trilogia Milenium.
  • Man from Beijing: algumas pessoas que eu conheco gostam do Henning Mankell e o comeco (ateh 1/3 ou a metade) do livro eh realmente muito atraente. Mas depois ele perde o ritmo e fica chato. Achei que os personagens tambem nao eram muito profundos e que o misterio era facilmente resolvido logo sem nenhuma surpresa grande no fim. De toda forma, talvez eu tenha escolhido o romance errado dele pra ler. Mas de uma forma boa, acentuou minha vontade de visitar a China.
  • Life of Pi: Nao cheguei a terminar. Todos que eu falei sobre o livro deram a mesma descricao - o comeco eh empolgante e interessante, mas ele fica chato pelo meio. Talvez ele ofereca algo muito bom no fim, porque as reviews dele na Amazon sao otimas. Mas nao funcionou muito pra mim. Ou pelo menos eu nao cheguei ateh o ponto que ele fica realmente bom.
  • The Castle of Crossed Destinies: nao eh bem desse ano. eu li ano passado, mas estah aqui na estante, entao falemos dele. O Italo Calvino eh meu autor favorito, entao acabo gostando de quase tudo que leio dele (se voce nao leu nada, o meu preferido eh "Se um Viajante numa Noite de Inverno" - mas se voce eh um cientista, talvez voce se divirta mais com as "Cosmicomicas"). Mas voltando ao "Castle of Crossed...". Eh um livro fascinante. Um viajante chega a um castelo (que eh uma especie de hospedagem) depois de muito tempo na estrada. Chegando lah, ele percebe que ele e os outros viajantes perderam a voz. Tudo que ha na mesa eh um baralho de taro. Entao cada um comeca a contar sua historia usando as cartas de taro. Daih pra frente eu prefiro nao contar, mas eu gostei. E acabei indo ler sobre taro na Wikipedia. Acho que tem o mesmo papel que signos do Zodiaco no meu imaginario. Eu nao realmente acredito neles como forma de prever coisas, mas sao um exercicio cultural fascinante. Eh uma forma de colocar ordem no mundo de uma forma discreta e altamente estruturada. Nessa categoria estah tambem o I-Ching (the Chinese Book of Change)
  • Baron in the Trees: tambem do Calvino, eh o unico livro que eu nao tinha lido da trilogia "Nossos Antepassados". Os outros eu li a muito tempo atras. Otimo tal como os outros.
    Num proximo post eu falo dos audiobooks.

    sexta-feira, 7 de maio de 2010

    Macarons no cafe da manha e minha tentativa frustrada de comer pato laqueado

    Esse eh mais um post sobre comida. Comecou assim: eu fui visitar a IBM Watson por uns dias e dado que eu fui ateh lah eu resolvi chegar um dia antes e sair um dia depois e passar um tempo em NYC. A razao foi explorar o mapa que eu coloquei no post anterior. Se vc lembra do antigo, alguns pontos azuis viraram vermelhos.

    No primeiro dia eu segui a recomendacao do Daniel e fui no Momofuku. Eh um lugar pequeno e escondido, dificil de achar se uma boa recomendacao. Ele tem dois: eu fui no noodle bar. Sao poucas mesas, e cadeiras em torno do noodle bar - onde voce senta e ve eles preparando os noodles. O restaurante eh tao pequeno e lotado que as mesas sao compartilhadas: se houver um lugar vazio na sua mesa, pode crer que eles vao sentar uma pessoa lah. Os noodles sao simples, mas incrivelmente bem feitos. Eu sentei no noodle bar e tudo que eu via parecia excelente. Metade do que eu via saindo era o momofuku ramen (pork belly, pork shoulder, poached egg), que foi o que eu pedi tambem e era delicioso. De sobremesa comi um sorvete de azeite (isso, olive oil soft ice-cream). Era uma especie de frozen-yogurt com gosto de azeitona - mas um gosto bem suave. Chegava a ser levemente salgado. Ele ficava sobre crumbles e damascos. E a combinacao foi excelente (isso, muito gostosa alem de curiosa).

    Uma side note foi uma conversa que tive antes de ir pra lah: esses restaurantes bons tem menus muito pequenos. Em geral se preparam 5 ou 6 pratos diferentes por dia. De fato, voce nao consugue manter qualidade com tanta variedade. Nao tem como ter ingredientes frescos pra 50 pratos diferentes ou fazer tudo na hora se vc tem que fazer um monte de coisas. De certa forma, acho que o tamanho do menu (1/M onde M eh o tamanho do menu) eh uma metrica interessante de qualidade. Como eu jah falei no post anterior, eu gostaria de um restaurante com somente um item no menu. Ou uns dois ou tres. E isso acaba com um dos grandes problemas: regret. De vc ficar com ciume do que vem pra mesa do lado.

    No segundo dia eu fui jantar no Limon, que eh um restaurante turco pequeno. A comida era boa, mas o que eu gostei mesmo foi da sopa. Alias, eu sempre fico arrepiado quando eu como Red Lentil Soup. O que me faz pensar que eu se acreditasse em vidas passadas eu devo ter vindo da Turquia ou de algum lugar no Oriente Medio. De fato, falando em vidas passadas, eu sempre pensei que eu devo ter sido um desses monges copistas que ficavam em um monasterio da Idade Media copiando Os Elementos de Euclides. Isso explicaria o quao eu gosto de matematica, de copiar de coisas e de como eu me sinto bem perto de tinta e papel. Juntando as coisas eu soh posso ter sido um monge ortodoxo copiando os Elementos em algum lugar proximo da Antioquia, parando para comer Red Lentil Soup no almoco. Mas divagacoes a parte, eu realmente gostaria de aprender a fazer essa sopa. De acordo com a Wikipedia, ela aparece ateh na Biblia em Esau e Jaco. Mas isso eh historia pra outro post.

    Meu proximo dia comecou muito bem: eu fui ateh o Madeleine Patisserie (peguei a recomendacao aqui), o melhor lugar que eu jah encontrei para sentar e ler um livro ou trabalhar... Mas nao se engane, nao eh um lugar que voce vah pelo ambiente - eh um lugar para quem gosta de doces. Eh um lugar escondido no Chelsea com otimos paes. O croissant que eu comi acho que foi o melhor que eu jah comi nos EUA. Mas o carro chefe sao os macarons. Sim, macarons e eu to falando disso:



    E nao, ateh entao eu nao conhecia, ou sim, jah tinha visto alguns na Fauchon ou em outro lugares, mas nunca me encheram os olhos e eu nunca provei. Talvez vendo a foto no blog do Muthu eu tenha decidido tentar. E eh daquelas coisas que voce se arrepende de nao ter descoberto mais cedo. Hoje em dia eu fico um certo tempo pensando em macarons. Ainda tenho uma caixa de macarons no Madeleines na minha geladeira, mas ela estah quase no fim.

    Por fim eu deixei o que eu mais estava com vontade. Nos comentarios do blog anterior o Italo me deixou curioso sobre o Pato Laqueado. De fato, eu jah tinha ouvido falar muito dele. Teve muito discussao em torno do tal pato quando o Eike Batista abriu o Mr Lam no Rio e soh se falava no bendito do pato - os precos nao eram os que eu podia pagar com meu salario de aluno de mestrado e acho que ainda nao o sao com o meu salario de aluno de doutorado. mas em NYC eh bem mais razoavel, Entao resolvi ir na indicacao de todas as pessoas e ir no Peking Duck House, na Mott St, no fim da Chinatown de NYC.

    Eu passei alguns dias sonhando com o pato laqueado e deixei ele para o fim com aquela ideia de que adiar um prazer eh uma forma de amplifica-lo. Nao soh isso: eu discuti o pato laqueado com meus amigos chineses e sempre eu via um sorriso no rosto deles quando mencionava ele. Eles inclusive me contaram que na China os animais vinham para mesa com a cabeca e tudo (o que eh o caso do pato, que voce pode ver pendurado em varios lugares em Chinatown com a cabeca e tudo) mas que os ocidentais preferem nao olhar pra cabeca e se lembrarem que aquilo eh um animal de verdade.

    Em todo caso, eu dei uma volta pela Chinatown pra entrar no clima e fui caminhando para Mott Street. Chinatown eh cheio de restaurantes - muitos - mas nem todos onde eu teria coragem de entrar. O Peking Duck House eh um lugar bem chic comparado a maioria e eh onde td mundo fala quando mencionam Peking Duck em Manhattan. Se eh o melhor Peking Duck de Manhattan? Nao sei, duvido. Essas coisas acho que o melhor deve ser em algum lugar bem sujo e underground, preparado por alguma vovo chinesa. O melhor Peking Duck de Manhattan seria um que eu provavelmente nao teria coragem de comer. Mas bom, fui ateh o Peking Duck House.

    O problema foi que chegando lah, nao havia nenhuma porcao pequena de pato. Era um pato inteiro ou nada. Era um prato pra 4 pessoas - e estava sozinho. Se eu estivesse com mais alguem, eu encarava - feliz. Mas estando soh eu, eu olhei com resignacao e com uma certa inveja pro casal do meu lado e pras outras mesas ao redor, todas comendo pato e pedi um General Tso's Chicken, que alias estava muito boa. E de certa forma, eh bom ter desejos nao concretizados nessa vida. Eu definitivamente preciso de alguem pra me acompanhar em Manhattan para uma caminhada por Chinatonw, chegar a Mott St e comer pato.