domingo, 27 de dezembro de 2009

Papai Noel e Piratas

Jah a algum tempo eu nao faco mais parte da geracao mais nova da familia: a jah uns 5 ou 10 anos os meus primos vem tendo filhos e meu avo estah cheio de bisnetos, e atualmente as criancas estao lah por volta dos 5 ou 6 anos. Isso significa que Papai Noel estah nos visitando no Natal novamente. Esse ano o bom velhinho apareceu logo depois da meia-noite. As criancas estavam esperando ansiosamente por ele e de fato ele fez um otimo trabalho. Contou umas historias, falou do significado do Natal e no fim, naturalmente distribuiu os presentes. Aih as criancas ficaram entretidas com os brinquedos e abandonaram o velhinho, que foi embora sozinho. Alguns mais velhos comentaram que as criancas dao cada vez menos importancia ao Papai Noel e mais aos brinquedos. Ok, dah sempre pra argumentar que comentamos isso todo ano, desde que eu era pequeno. Eu, junto com meu irmao ficamos pensando em como aumentar o fascinio das criancas por Papai Noel e pensamos em algo interessante: ao inves da entrada classica de Papai Noel chega e distribui os presentes jah na arvore, podiamos fazer algo do tipo:

Alguem bate na porta. - Ho ho ho ... Criancas vao lah abrir, esperando Papai Noel mas encontram piratas que falavam: - Yo ho ho e uma garrafa de rum! Entao os piratas entram, roubam os presentes que estao na arvore e saem correndo com eles. Entao explicamos pra criancas como os Piratas roubaram o Natal. Nisso, se ouve os piratas sendo capturados por Papai Noel e entao o bom velhinho chega como um heroi trazendo de volta os presentes, explicando o significado do Natal e discutindo a geopolitica do chifre da Africa e por que o fenomeno da pirataria estah ressurgindo no mundo.

Como sempre depois de uma discussao, eu comeco a divagar e aqui eu posso divagar em varias direcoes: piratas, Papai Noel e o verdadeiro significado do Natal. O terceiro eh profundo e importante, mas eu vou pular e ir para os mais frivolos.


Sobre Piratas e as Particularidades da Atividade Bucaneira
  • IMB Live Piracy Map 2009: se vc acha que vai se alistar num navio ingles e ficar saqueando galeoes espanhois no Caribe, pode tirar sua perna de pau e olho de vidro da chuva, que as melhores ofertas de emprego atualmente estao na Somalia
  • An-arrgh-chy: um estudo da pirataria sobre o ponto de vista da economia. Li sobre ele nesse blog post do Steven Levitt (alias, recomendo muito o blog dele). O livro parece ser bem legal tambem. Ele discute que tipo de mecanismos organizacoes criminosas implementam para garantir governanca corporativa. Como manter os lucros altos, fazer com que os objetivos do capitao do navio pirata se alinhem com o dos ingleses ricos que financiam a pirataria, evitar predacao internal, minimizar conflitos da tripulacao e garantir o lucro. Ainda nao li ele todo (ateh porque eh um trabalho bem grande), mas parece bem interesante e os piratas parecem ser exemplos realmente bons de uma boa organizacao criminosa.
  • Piracy @ Wikipedia: nao podia faltar um artigo da Wikipedia. Tem varios links interessantes sobre o Jolly Rogers, ou sobre codigos de conduta piratas ou sobre a lenda de piratas enterrarem tesouros, o que nao eh muito acurado.
Sobre Papai Noel, a Coca-Cola e foreign branding

O assunto natural eh Papai Noel, e contrariamente ao que se ouve por aih, ele nao foi inventado pela Coca-Cola, mas quase. A imagem que temos hoje dele (a roupa vermelha - as mesmas cores da Coca-Cola, as botas, e toda aquela roupa classica que eh praticamente obrigatoria hoje) surgiu nas campanhas de marketing da Coca, que alias sao otimas. O mito de Papai Noel (Santa Claus, Sinterklaas, Pai Natal, ...) tem varias origens de acordo com a Wikipedia: Sao Nicolau, um bispo grego que distribuia presentes (e portanto, sendo bispo, tambem se vestia de vermelho), o deus Odin da mitologia nordica (que se parece muito com o Gandalf), ou a figura britanica do Pai Natal.

Mas voltando a Coca-Cola: em varias historias interessantes envolvendo marcas - uma que me surpreendeu eh o fato da Haagen-Dasz nao ser nenhuma marca nordica, nem ao menos europeia, mas uma marca americana que queria dar a impressao de um nome escandinavo. Na verdade, Haagen-Dasz nao eh nem sequer uma palavra em nenhuma das linguas no norte da Europa. Em todo caso, o sorvete eh muito bom e esse tipo de fenomeno nao eh tao incomum quanto voce possa pensar: se chama foreign branding. As famosas facas Guinsu, tao famosas pelos comerciais da decada de 90 sao uma compania de Rhode Island, bem como a sopa vichyssoise foi inventada no Ritz Carlton em NY. Um exemplo local que eu ouvi a muito tempo, mas eu nao consigo achar nenhuma referencia na internet eh o do escondidinho. Por ser um prato de carne seca, tem toda a pinta de um prato nordestino, mas aparentemente foi inventado no Rio de Janeiro, especialmente para o cha da Academia Brasileira de Letras. Vou procurar a fonte e se achar posto aqui.

Abraco e bom fim de ano!

domingo, 1 de novembro de 2009

Centro de Gravidade

Eu fiz recentemente um mapa com os lugares de onde vem os meus officemates e calculamos o centro de gravidade: descobrimos que o centro estah no meio do Yemen:

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pensamento randomico sobre o doutorado

... ou sobre a vida de forma geral. Eu nunca consegui responder de forma precisa se o ideal eh ter objetivos claros e definidos ou ser aberto a possibilidades e tentar coisas novas. Nao ficar estreito demais, mas nao se perder em varias coisas rasas. Mas a pergunta principal eh: como fazer para "walk long enough" ? De toda forma, nao sei se eh isso que o Gato de Cheshire estava tentando dizer, mas eis um pequeno texto:

Alice: Would you tell me, please, which way I ought to go from here?
The Cat: That depends a good deal on where you want to get to
Alice: I don't much care where.
The Cat: Then it doesn't much matter which way you go.
Alice: …so long as I get somewhere.
The Cat: Oh, you're sure to do that, if only you walk long enough.



Recebi hoje minha copia de LOGICOMIX - An Epic Search for Truth e eh incrivelmente delicioso, pelo menos a primeira metade que eu li hoje. Jah falando do Papadimitriou, isso me lembra que eu gostei muito da introducao da tese do Costis ainda sobre esse assunto:

Christos once told me that I should think of my Ph.D. research as a walk through a field of exotic flowers. “You should not focus on the finish line, but enjoy the journey. And, in the end, you’ll have pollen from all sorts of different flowers on your clothes.”

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Corcovado



Outro dia fui a um restaurante (uma refeicao memoravel, diga-se de passagem, mas isso eh o assunto pra outro post), e lah estava tocando uma versao em ingles de Corcovado. Eu nao sou uma pessoa muito musical, mas algumas musicas me deixam particularmente com saudade do Brasil. Aih vai uma pequena lista, comecando com Corcovado:
  • Corcovado: eh uma musica do Tom Jobim e tem varias versoes em ingles. Eu gosto particularmente da versao (em portugues, claro) cantada pela Nara Leao
  • Samba do Aviao, tambem do Tom. O Samba de Orly do Chico e do Vinicius tem um efeito semelhante.
  • Outono no Rio, Ed Motta
  • Inverno, Adriana Calcanhotto. Por alguma razao eu acho que o "inverno no Leblon eh quase glacial" bem tocante. E esse verso em particular me lembra muito do Rio e por isso a musica entra nessa lista
Basicamente. Devem ter outras, mas essas que me ocorrem agora. Se vc lembrar mais alguma, por favor, deixe lah nos comentarios. Eu resolvi escrever isos porque o frio estah chegando e com isso a hora de renovar o que estah no meu iPod. Explico: essa semana a temperatura jah tah negativa, aih andar de bicicleta fica complicado e faz meu caminho pra faculdade demorar 20 min ao inves de 5 ou 6. O bom disso eh que eu comeco a minha manha ouvindo alguma coisa, em geral sao audiobooks. Eu tenho aprendido bastante coisa. Como coisas tecnicas sao complicadas de ouvir no caminho (e sempre vem aquela tentacao de parar no meio do caminho e comecar a rabiscar umas contas num papel) eu acabo preferindo baixar aulas de materias de humanas do Academic Earth pra ficar ouvindo. Basicamente eu baixei essa (que jah ouvi metade e eh excelente, recomendo fortemente), essa (que parece bem interessante mas eu soh vi a primeira aula) e essa (que eu tb soh ouvi a primeira aula, mas tava muito bem recomendada no blog do Mitzenmacher). De toda forma, eu deixo umas musicas pra ouvir as vezes. Bossa Nova e MPB ainda conseguem me conquistar um pouco e eu acabo me divertindo.

Em tempo: eu nao coloquei varias outras musicas como a famosa Aquarela do Brasil, Cancao do Expedicionario, ... que sao bem bonitas e me lembram o Brasil porque me tocam menos em certo sentido que as outras - embora me tragam recordacoes boas, como essa ultima (e as outras marchinhas militares, que por mais que as pessoas falem, tem um sentimento romantico bonito).

Ah, tambem estou em busca de bons audiobooks e lectures em mp3 pra ficar ouvindo. Estou numa epoca que preciso de recomendacoes.

sábado, 17 de outubro de 2009

Do Aleph ao Tav

O meu roommate me disse outro dia que eu sou a unica pessoa que ele conhece que tem um hobby por semana. Realmente, pensando nas coisas que eu tenho estado interessado nos ultimos tempos, isso ateh que faz sentido. Lendo esse blog eu pensei que fazer Origami seria divertido, mais particularmente Origami modular, que eh uma forma de Origami mais geometrica. O primeiro que eu fiz foi um do tipo Intersecting Planes, mas logo eu consegui o livro da Tomoko Fuse (a grande expoente do Origami Modular), e comecei a tentar com designs mais complicados (nem todos muito bem sucedidos). As minhas primeiras brincadeiras resultaram:

Mas logo minhas estante comecou a ficar mais cheia de Origami e eles comecaram a compartilhar o espaco com o meu hobby anterior: puzzles. Ano passado eu passei uma epoca entretido tentando aprender a resolver o Rubik Cube. Acabei aprendendo parte gracas a um amigo meu e parte gracas ao YouTube. Logo depois comecei a ler sobre um curso de Stanford sobre a algebras dos cubos de Rubik. Pouco tempo, eu migrei pra outros puzzles combinatorios e qualquer tipo de puzzle de madeira ou metal que envolve Entangle/Desentangle pecas. Como por exemplos, os varios puzzles da Hanayama e os diversos brinquedos inspirados nos designs do Nob Yoshigahara. Outra fonte sao os varios brinquedos do ThinkGeek. O ponto alto talvez foi na minha visita a Berkeley no meio desse ano, eu descobri um loja soh de puzzles do lado da principal estacao de metro de Berkeley. Ainda bem que nao estudo lah e assim eu nao gasto todo o meu dinheiro (e tempo) com esses brinquedinhos. Mas eh tentador. Soh de curiosidade, uma foto da minha estante (com direito a uma Japanese Puzzle Box no canto):


Ok, mas ainda passei por mais uma serie de hobbies. O meu proximo foi um revival das minhas tentativas anteriores de aprender a desenhar. Meu irmao sempre foi um excelente desenhista, e eu nao sabia desenhar mais do que bonecos palitinho (e ainda assim muito mal e soh quando eu ainda usava UML). Algum tempo no passado, eu pedi a Maria Clara que me ensinasse a desenhar e ela comecou a me mostrar como desenhar os meus quadrinhos preferidos - o TinTin. Eu lembro que na epoca foi muito divertido e eu lembro que gostei bastante, mas por alguma razao parei. Alguns meses atras eu tive vontade de retomar e comecei a procurar tutoriais na internet que ensinassem algo de desenho pra pessoas assim como eu e achei alguns. Aih eu brinquei de esbocar algumas coisas, como:

Uma coisa que sempre me surpreendeu eh como desenho eh uma atividade esturturada: pelo menos nos tutoriais, eles sempre ensinavam como criar toda a estrutura do corpo do personagem, desenhar por cima e ir adaptando os detalhes em varias fases. Acho que isso se aplica a todas as atividades da vida: quando vemos um bom livro, achamos que o autor eh incrivelmente criativo e que ele sentou um dia e escreveu aquelas coisas direto, quando na verdade isso eh um resultado de um trabalho duro de criacao de personagens, de escrever e re-escrever varios trechos. As obras realmente excelentes acho que sao trabalhos onde as coisas sao lapidadas como diamantes pouco a pouco. Isso me lembra uma tech talk do Randall Munroe do excelente xkcd em que ele dizia que as vezes passava horas desenhando as comics para conseguir os resultados que ele queria. Penso que pesquisa cientifica deve ser algo assim tambem: na verdade as grandes ideias nao sao resultado de grandes sacadas geniais do nada (ok, talvez as vezes sejam), mas acho que sao produto de longos periodos (aparentemente infrutiferos) pensando e construindo intuicao sobre os problemas e repensando e reburilando as ideias antigas. De toda forma, a maneira certa de fazer pesquisa ainda eh a grande questao em aberto da academia. Mas antes de passar para o meu proximo hobby, minha tentativa de desenhar o Professeur Tournesol no meu computador:


Mas isso me faz chegar a minha mais recente diversao. Daqui a um ano mais ou menos eu devo passar um semestre numa universidade em Israel - eh um dos grandes centros de Teoria Algoritmica dos Jogos e deve ser uma excelente oportunidade pra mim de conviver com uma realidade bem diferente tanto do Brasil quanto aqui dos Estados Unidos. Minha ideia foi entao comecar a aprender hebraico. Comprei alguns livros pela internet e comecei a estudar sozinho (aqui em Cornell nao oferecem o curso de Elementary Hebrew I no semestre que vem) entao a saida eh eu comecar a estudar por mim proprio. Hebraico logo de cara esbarra numa dificuldade basica - aprender um novo alfabeto. E por aih eu comecei: na verdade, ainda nao comecei a estudar a lingua propriamente dita, mas tenho um pouco a cada dia me dedicado a exercicios de caligrafia e a pronunciar as palavras cujo significado eu desconheco. O bom do hebraico eh que eh uma lingua fonetica, diferentemente do ingles, onde o som eh determinado exclusivamente pelas letras:


Acima sao as letras que eu jah aprendi ateh agora (em ordem alfabetica e desenhadas por uma pessoa que comecou a aprender essa semana). O alfabeto hebraico (ou melhor, o alephbet) contem 22 letras, todas consoantes. As vogais nao aparecem no texto, elas sao implicitas. Na verdade, acho que as vogais nao importam muito - ela sao faladas, mas o sentido mesmo da palavra vem das consoantes.

Estudar hebraico estah sendo bem divertido por varias razoes: eu sempre quis aprender uma lingua com um alfabeto diferente, como chines e russo. Mas nunca prossegui nesse projeto, acho que por falta de uma motivacao mais forte. Agora, indo pra Israel por seis meses parece uma motivacao boa o suficiente (na verdade, ok, quase todo mundo fala ingles em Israel, eu acho, mas mesmo assim acho que vai ser bem util). Escrever num alfabeto diferente me parece algo como escrever num codigo secreto ou algo assim.

O alfabeto hebraico (o alephbet) eh mais interessante ainda, afinal, alem de ser a lingua sagrada (de alguma forma) - as letras tem historias interessantes associadas a ela. Por exemplo, o Aleph eh a primeira letra do alfabeto. Indo pro link da Wikipedia, voce pode ver varias coisas interessantes - por exemplo, o Aleph tem a virtude de ser a mais humilde das letras, pois nao demandou comecar a Biblia, o texto sagrado. A Biblia em hebraico comeca em Bet, a segunda letra. Ainda assim, o Aleph tem a gloria de comecar os 10 Mandamentos.

O Aleph estah tambem muito presenta na cultura popular e na literatura de uma forma geral. Um bom exemplo eh o famoso conto de Jorge Luis Borges chamado "O Aleph". Recomendo bastante - eu nunca tinha lido (acho que nunca cheguei a ler Ficciones ateh o final) - mas voltei nele e fui ler lembrando da referencia. Me interessei pela literatura fantastica de Borges por causa de um livro do Verissimo, chamado Borges e os Orangotangos Eternos. - um romance policial envolvendo Jorge Luis Borges (e todos os misterios presentes na sua obra). Um dos livros que eu mais gosto de Borges eh um livro bem frivolo, na verdade, que se chamado "Dez Problemas para Dom Isidro Parodi", publicado na verdade sob o pseudonimo de H Bustos Domecq. Parodi, do titulo, eh realmente uma parodia das historias do detetive classico - mas com a perspectiva invertida em alguns aspectos. A elegancia e o misterio tipico de Borges aparece aqui em historias mais simples e detetivescas, mas ainda assim carregadas de um ar bem exotico - ilustrado pelas situacoes bem inusitadas onde os crimes ocorrem, e, pela situacao inusitada do proprio detetive.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Grande Silencio, Conde de San German ou meus passeios aleatorios pela Wikipedia

A minha percepcao do tempo na internet varia dependendo do site que eu estou perdendo tempo ao inves de fazer pesquisa: invariavelmente eu me culpo por ficar no Orkut/Facebook/YouTube, mas eu considero meu tempo no Google Reader parcialmente produtivo, jah que eu acabo me atualizando das noticas, aprendendo algo pra falar numa mesa de bar (nao fica tao bem comentar da estrutura de matroides numa mesa de bar - ok, em algumas mesas de bar, talvez - entao eu tenho que ler outras coisas), mas um lugar eu realmente nao me culpo de ficar passeando (as vezes por longo tempo): a Wikipedia. Eu sempre acho que estou aprendendo algo novo - embora ok, nao seja nada que eu vah usar na minha pesquisa, mas eu sempre tenho medo da minha cultura inutil estagnar, entao eh importante continuar lendo coisas aleatorias. Ok, pensei em documentar alguns dos meus passeios na Wikipedia no ultimo ano. Claro que tem aqueles que voce simplesmente vai e le um artigo isolado sobre as mulheres em Burma, mas tem aqueles onde voce consistentemente le sobre varios artigos. Aih vao algumas tracks que me divertiram:

SETI e o Grande Silencio: Recentemente estava conversando com alguns amigos no jantar sobre extra-terrestres, o que eh um topico bem popular. Deve ser interessante o que eles estao vendo sobre a gente: do jeito que a terra emite radiacao pro espaco sob formas de onda de TV e radio, os aliens lah longe devem atualmente estar vendo televisao da decada de 70 e 80. Em alguma estrela distante, deve ter algum alien assistindo "O Bem Amado" ou "Tieta do Agreste" e sonhando com o Brasil. Interessante pensar que todos esses nossos produtos culturais estao eternamente por aih, vagando pelo universo. A pergunta interessante eh: porque eh que eu nao consigo sintonizar canais de televisao extra-terrestres? Por que esse grande silencio no universo: nosso planeta aih, emitindo varios tipos de sinais a todo momento e nenhum sinal de vida inteligente lah fora: nao falo sobre naves, homenzinhos verdes, mas radiacao eletromagnetica que possa ser reconhecida como informacao, ainda que nao saibamos do que se trata. Agora falando de artigos da Wikipedia (podem seguir os links que eh diversao garantida): Paradoxo de Fermi (fala sobre a questao do Grande Silencio), Equacao de Drake (aquela famosa equacao que tenta prever a existencia de vida extra-terrestre, que inclusive jah apareceu em LOST, eu acho), Grande Filtro (hipotese para o Grande Silencio) e o projeto SETI - esse projeto que tenta detectar vida fora da Terra (de uma maneira cientifica, diga-se de passagem e nao como uma brincadeira UFOlogica). Alias, na Wikipedia vi que eles tentam detectar inclusive de forma ativa - o active SETI, que busca mesmo contatar aliens e dar provas da nossa existencia pra eles e nao somente detectar.

Conde de San German e sociedades secretas: A algum tempo atras passei um tempo lendo na Wikipedia sobre sociedades secretas, tipo cavaleiros templarios, massonaria, rosacruzes, ... (novamente links valem a pena seguir) motivado em parte por um livro do Umberto Eco e em outra parte por uma viagem a Portugal e por um tour que eu fiz lah mostrando simbolos dessas sociedades ocultistas em Igrejas e locais historicos de Sintra. Sempre tive essa impressao que portugueses e espanhois tinham uma religiosidade mais mistica do que o resto da Europa - algo que herdamos no Brasil, de certa forma. As poesias do Pessoa, por exemplo, tinham um tom meio secreto, como a epigrafe de Eros e Psique e o poemas sobre os rosacruzes. Acabei nao lendo muito mais que isso, mas uma referencia do livro do Umberto Eco eh particularmente interessante: o Conde de San German - essa figura misteriosa associada a varias sociedades ocultas que aparece em diversos pontos da historia da Europa em narrativas bem deconexas - onde ele eh retratado como ora alquimista, ora mago ou musico, violinista, amante das mulheres da corte da Franca, espiao na Inglaterra, filho do rei de Portugal, amigo e conselheiro do Rei da Franca, governador de provincias na India, prisioneiro dos jacobinos, entre outros. Atribui-se a ele uma vida extremamente longa (Elixir da Vida?) - dizem que teria aprendido as suar artes quimicas/magicas com os antigos egipcios e que estaria pelo mundo desde aquela epoca ou bem antes. Varios impostores e charlatoes na Europa teriam usando a figura do conde ao longo do tempo e possivelmente varias lendas acabaram se juntando nesse nome comum. Mas sem duvida eh um artigo interesante da Wikipedia.

Dom Sebastiao, Ines de Castro, o Reino Encantado: Como eu falei, eu gosto de historia de Portugal. Eh dificil nao gostar, por exemplo, de historias como Dom Pedro, o Cruel e Ines de Castro. Ok, concordo, eh uma historia bem triste, mas bonita e misteriosa. Alias, nao eh a unica lenda europeia sobre rainhas mortas: uma das minhas preferidas eh aquela do anel de Charlemagne. Em todo caso, nenhuma influenciou a gente no Brasil tanto (politicamente na epoca e culturalmente, ateh hoje) como a de Dom Sebastiao, o desejado - o rei portugues sumido no meio da nevoa durante a batalha de Alcácer-Quibir, na Africa, jogando Portugal num periodo negro da sua historia - a Uniao Iberica. Por centeas de anos se esperou que Dom Sebastiao iria reaparecer na nevoa e resgatar a gloria do Imperio Portugues. Esse mito chegou no Brasil e eh tao forte que tem um nome: o Sebastianismo, que azia parte, por exemplo, do universo mitologico de Antonio Conselheiro. Recentemente li esse otimo blog post sobre Dom Sebastiao e seu Reino de Encantados no fundo do mar no Maranhao e que, quando o feitico finalmente se quebrar, o Reino de Dom Sebastiao voltara para a superficie e Sao Luis irah submergir.

Historias misteriosas demias por hoje, mas fica a dica dos artigos da Wikipedia linkados. Alguem que esteja lendo esse blog: voce tem artigos preferidos na Wikipedia: se tiver, poste aih nos comentarios, eh sempre legal passar um tempo lendo enciclopedias. A tecnologia eh excelente e faz com que nao precisemos sair por aih com a Enciclopedia britannica debaixo do braco no onibus pra isso.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Hayao Miyazaki

Eu nao sou um grande fa de historias japonesas - nunca li muito manga, as manias de Cavaleiros do Zodiaco e Pokemon eram legais, mas nao me deixavam tao aficcionado quanto as outras criancas. Eu podia levar uma vida bem distante do oriente se nao fosse por Hayao Miyazaki. Foi mais ou menos sem querer que eu descobri um dos filmes dele: eu perdi a Viagem de Chihiro (Spirited Away) no cinema e nem ia ver depois. Um dia, no entanto, trocando de roupa pra ir a faculdade eu liguei a televisao como quem nao quer nada e estava passando. Eu comecei a ver e acabei nao saindo de casa: fiquei lah vendo o filme ateh o final, impressionado e me culpando por nao ter visto antes.

Tem aquela sensacao de voce querer comer algo bom e nao saber dizer o que eh. Quando no futuro voce de fato prova algo que te agrada bastante, voce pensa: ah, era aquilo que eu queria. Bom, eu sinto isso com historias tambem. Volta e meio eu penso: eu bem que queria ler uma historia assim, mas nao encontro. Algum tempo depois eu acho algo incrivelmente bom e fico pensando qu era aquilo. A Viagem de Chihiro foi um exemplo excepcional disso. Eu encontrei todos os elementos de fantasia que eu geralmente procuro em historias nele. Ele consegue um equilibrio entre nonsense e racionalidade como poucos.



Logo eu procurei os outros filmes do mesmo diretor e descobri que ele tinha outros no mesmo estilo. Howl's Moving Castle eh um dos melhores dele. My Neighbor Totoro e Kiki's Delivery Service sao bons, tambem, mas mais infantis. Comecei a escrever sobre isso porque essa semana eu vi um outro filme dele: Princess Mononoke. - que tem um sabor semelhante aos dois primeiros de que eu falei. Um amigo meu jah tinha me falado o quao legal esse era, mas eu por alguma razao acabei nao vendo. Vi que ele tem um filme novo no cinema: Ponyo, que ainda nao vi, mas depois eu comento.

Ver os varios filmes eh ainda mais interessante, porque eles todos dialogam de certa forma. Como nas historias fantasticas e contos de fada, os temas sao bem recorrentes, guerras, maquinas voadoras, conflitos ambientais, fronteira tenue entre o bem e o mal, equilibrio delicado da natureza, ...

Todos os filmes sao desenhos animados, mas eh dificil dizer que sao historias pra criancas. Os temas sao complicados - eh sempre necessario pensar por algum tempo pra entender o que estah acontecendo. E sinceramente, acho que eh bem facil as criancas menores se assustarem (bastante) com os personagens do filme.

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Comecei a ler um pouco mais a noite: terminei o segundo volume daquele romance sueco (bem legal) e comecei o Barao nas Arvores. Esse ultimo eh uma aposta certa: ele faz parte de uma trilogia do Italo Calvino chamada Nossos Antepassados. Os outros dois: Visconde Partido ao Meio e Cavaleiro Inexistente eu li a muito tempo atras e estao entre os meus livros preferidos. Nao sei como deixei passar esse.

sábado, 1 de agosto de 2009

Coraline

Eu tenho visto poucos filmes, mas tenho tido em geral sorte com os que eu ando assistindo. Hoje assisti Coraline, filme baseado em um livro do Neil Gaiman. Isso me faz pensar que eu provavelmente deveria tentar ler os livros dele, porque eu jah gostei muito de outro filme tambem baseado em um dos seus livros: Stardust. Mas voltando a Coraline, tudo eh impressiontemente bem orquestrado - a simetria (ou assimetria) das diversas partese o modo como os diversos elementos sao elegantemente combinados me lembra as fabulas antigas. Um livro que gosto muito eh o livro de fabulas compiladas pelo Italo Calvino, chamado Fabulas Italianas:

As fabulas tem elementos comuns que conseguem criar uma atmosfera magica e dar um ritmo interessante a historia. Por exemplo a repeticao de elementos: "entao voce deve passar por tres bruxas, se elas estiverem de olhos fechados, espere, porque elas estao vigiando. Se estiverem de olhos abertos, passe, pois elas estao dormindo. E entao voce vai encontrar tres leoes, se eles...". O mesmo tipo de repeticao de elementos acontece em Coraline, seja por elementos como botoes e esferas ou por mesmas cenas re-contadas em varios contextos: realidade, sonho e pesadelo.

Taughannock Falls de bicicleta


A uns dois meses eu comprei uma bicicleta aqui em Ithaca. O verao aqui eh otimo: o tempo eh excelente e a regiao eh cheia de parques nacionais, vinicolar, cachoeiras e lagos. Eu pedalado quase todo dia pra faculdade. A cidade aqui eh cheia de sobes-e-desces, o que torna isso um bom exercicio. Mas tenho feito poucas rides longas. Logo que eu comprei a bicicleta eu pedalei ateh o aeroporto, ateh o laboratorio de ornitologia e hoje eu fiz a primeira ride longa: ateh o Taughannock Park, que eh um state park a uns 18 km de Ithaca.

Eh interessante como a paisagem de NY state muda abruptamente em alguns lugares. O campus de Cornell e arredores eh uma area bem sofisticada - cheia de otimos restaurantes, principalmente restaurantes etnicos. Eh uma area bem internacional: eh muito facil ouvir todo tipo de linguas alem de ingles sendo falada (ok, principalmente essa outra lingua eh chines ou coreano, mas mesmo assim). Indo um pouco mais pro downtown, a imagem muda para algo que eu imagino ser mais proximo de uma cidade americana media: dinners tipicos, fast-foods, casas enfeitadas para o 4 de julho e pessoas com jeito e penteados de atores de filmes da decada de 80. Hoje, margeando o Lago Cayuga de bicileta eu vi uma outra cara da regiao - uma area com ares meio nauticos, uma serie de barcos parados no cais, restaurantes de frutos do mar, casas enfeitadas com pequenos farois e ancoras e placas como "Ben's Harbour".

O Taughannock Park e suas respectivas Falls foram bem legais e valeram bastante a pena. Fiquei agora com vontade de fazer a volta em torno do lago, mas acho que essa ainda vai me exigir mais preparacao e algumas rides intermediarias.


domingo, 26 de julho de 2009

Clusterizando meus amigos

Ontem eu fiz um experimento com alguns resultados interessantes: peguei uma lista de todos os meus amigos do Orkut e os amigos deles. Alem dos nomes, sei quem eh amigo de quem. Meus amigos do IME estao conectados nos meus amigos do IME, e meus amigos do segundo grau estao conectados nos meus amigos do segundo grau. Entao olhando, deveria ser facil perceber os clusters de amigos. Mas como fazer isso automaticamente? Nao eh uma tarefa tao trivial dado que tenho amigos da faculdade que conhecem meus amigos da escola e vice versa. Mas existem algumas arestas cruzando essas comunidades. Uma solucao que vi recentemente foi usar metodos espectrais: de forma geral voce calcula os autovalores da matriz de adjacencias e plota os amigos no plano de acordo com os coeficientes dos autovetores. Eu escrevi um blog post mais tecnico sobre isso no meu outro blog, explicando um pouco mais a intuicao por tras de metodos espectrais. O resultado foi o seguinte:

Depois que o grafico jah estava montado, eu olhei quem era cada vertice e colori da seguinte maneira: azul os meus amigos da faculdade, verde os meus amigos da escola, amarelo as pessoas da minha familia e vermelho os demais q nao se encaixavam em nenhuma das categorias anteriores (e as pessoas que usam caracteres esotericos no seu nome do Orkut que eu nao consegui parsear). O algoritmo conseguiu claramente separar os meus amigos da faculdade dos meu amigos da escola e conseguiu tambem colocar as pessoas da minha familia mais ou menos proximas (e em nenhum momento o algoritmo usou as cores, elas soh foram fornecidas depois). E tambem mostrar que elas estao mais conectadas aos meus amigos da escola do que os da faculdade.

Uma imagem maior e com os nomes nos vertices estah aqui.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Novo Blog

Eu comecei um outro blog - mais tecnico e em ingles - junto com meu amigo Hussam, aqui de Cornell. O blog eh BigRedBits, e a gente pretende postar lah coisas interessantes de computacao, puzzles matematicos e coisas desse tipo. Eu pretendo continuar mantendo esse aqui (em portugues e sobre coisas mais frivolas). Mas fica aih o link pra aqueles q acham legais os meus posts mais geeks.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Miscelânia mais ou menos cultural

Só pra variar vou escrever sobre algo não muito técnico. Depois do fim do semestre eu fiquei um tempo de bobeira lá em Ithaca e depois vim aqui pro Rio. O tempo de bobeira em Ithaca, mais todo o tempo perdido nos aeroportos fizeram com que eu tivesse tempo de colocar em dia (ok, colocar em dia é muita bondade) a leitura, filmes e seriados. Acho que um bom post de férias seria falar sobre algumas coisas legais que andei lendo e vendo.


Pra começar terminei hoje o ótimo romance Relato de um Certo Oriente de Milton Hatoum. Gostei bastante dele o que não foi muita surpresa, pois já tinha gostado muito de Dois Irmão do mesmo autor. Sempre gostei de romances contando grande histórias familiares e de histórias que se passam em lugares exóticos. O que é exótico aqui não é Manaus ou o Líbano mas essa mistura interessante que define os personagens. O modo de contar do "Relato de um Certo Oriente" é bem interessante: cada capítulo é a narrativa pessoal de um personagem diferente (e é complicado, mas também divertido, saber quem está narrando em cada momento). E isso traz um tom meio misterioso (diáfano?) - funciona como um jogo de memória, onde partes da história são ocultas de um ou outro narrador e você só consegue reconstruir (ou não) as coisas a partir do todo. É como ouvir histórias dos seus parentes mais velhos.

Achei que foi uma ótima escolha para ler. O problema de ler pouco literatura (como eu leio hoje em dia, acho q uns 2 ou 3 livros não-técnicos por semestre no máximo) é você acabar escolhendo coisas que você acha que vai gostar e não explorar coisas bem diferentes. Mas volta e meia ainda me surpreendo: na viagem que eu fiz pro Brasil em dezembro do ano passado eu comprei um romando policial no aeroporto do qual eu lembrava vagamente de uma critica do NYT: The Girl with the Dragon Tatoo. Romances policiais são excelentes pra se ler no avião, mas confesso que eu sou meio chato pra romances policiais. Quando eu era criança/adolescente eu devorei toda a coleção Sherlock Holmes e Agatha Christie. O que me deixou por algum tempo meio enfastiado de policiais e fez com que eu achasse a maioria meio chato logo depois disso. Até reler esses antigos não me traz a mesma sensação. Mas o "The Girl..." conseguiu me deixar surpreso. Ele tornou minhas várias horas na classe econômica da Delta incrivelmente agradáveis (e tensas). Ele é bem ágil e, como os americanos gostam de dizer, unputdownable.

Quanto às série eu consegui ver até o final a 5a temporada de LOST e comecei a ver alguns dos antigos episódios de Star Trek. Gostei muito do filme e agora entendo porque as pessoas mais velhas (ok, retiro os mais velhas e substituo por, as pessoas que viveram nas décadas de 60-80) gostam tanto dele. Eu gosto muito de The Big Bang Theory e vendo Star Trek eu peguei várias referências no sentido contrário, i.e., vi referências de StarTrek pra BBT, quando na verdade eram referências de BBT pra Star Trek. Estou me divertindo muito vendo a Série Original do Cap Kirk e do Mr Spock.


Vi também o filme baseado no romance do Dan Brown - Anjos e Demonios. Eu me surpreendi porque fui esperando muito pouco. A crítica estava ruim e o pouco que eu li dele não me agradou assim tanto, mas até que o filme foi bem divertido - as locações em Roma são ótimas. De fato é tudo um rocambole, mas até que diverte. Eu não sei quanto humor o Dan Brown tinha em mente quando escreveu esses livros, mas um romance bem irônico e interessante sobre essas lendas místicas medievais, sociedades secretas, e congeneres é o Pendulo de Foucault do Umberto Eco. Em certo sentido, os romances do Dan Brown são versões mais light, vulgares e com menos ironia desse (mas ao mesmo tempo mais agéis e fáceis de ler). Eu nunca consegui chegar ao fim do "Pendulo..." mas ele instigou minha curiosidade de certa forma, o que me levou a perder certo tempo na Wikipedia lendo sobre templários, rosa-cruzes, e outros artigos do gênero. Pelo menos me foi útil quando eu visitei no início desse ano a Quinta da Regaleira em Sintra. Esses romances me lembram que é divertido pegar alguns fatos históricos e criar em cima fatos fantasiosos com um certo ar de mistério - me parece um exercício legal.

Terminando o post longo: sempre que eu volto ao Rio de Janeiro eu me surpreendo: acho a orla de Copacabana cada vez mais bonita, as manhãs na Lagoa cada vez mais agradáveis e o clima mais hospitaleiro.

sábado, 4 de abril de 2009

Façam suas apostas

Eu tenho me interessado muito por Teoria dos Jogos, principalmente pela sua relacao com Algoritmos, que eh um campo novo chamado Algorithmic Game Theory. Jogos estah cada vez um assunto mais quente: nao soh por que estah na moda no meio academico mas porque a industria estah explorando eles fortemente. Por exemplo, voce pode pensar na venda de keywords da Google (AdWords) como um jogo, mais especificamente um leilao - as famosas Sponsored Search Auctions.

Mas nao eh bem sobre isso que eu queria falar (como sempre). Eu fico lembrando de um dos contos das Cosmicomicas chamado "How much should we bet?" onde dois personagens ficavam apostando sobre o que ia acontecer desde a criacao do universo. "Eu aposto que vai ser formar uma atmosfera naquele planeta", "Eu aposto que vai haver um dinossauro!", "Eu aposto que os turcos vao tomar Constantinopla!" e assim por diante... E cada vez as coisas iam ficando mais complicadas e as apostas mais dificeis e arriscadas. Eh um ponto delicado afirmar que o mundo tem ficando mais incerto desde o Big Bang. Eu nao vou me arriscar a falar isso, mas eh sempre mais complicado saber se a Dilma Rousseff vai concorrer as proximas eleicoes do que imaginar que os a vida sairia do mar e iria se expandir pela terra ou que cairia um meteoro e acabaria com todos aqueles repteis gigantes.

Apostar sempre foi um negocio divertido, por isso a grande quantidade de negocios envolvendo apostas. Cassinos, jogo do bicho, loteria esportiva, ... a lista nao para por aih. Um dos jogos que mais tem-se falado ultimamente eh a Bolsa de Valores. Na pratica, voce vai lah e aposta seu dinheiro no sucesso ou no fracasso dessa ou daquela empresa. Eh um jogo engracado, porque o sucesso ou nao depende do jogo em si (diferente por exemplo da loteira, onde o numero 23 eh sorteado independente de um monte de pessoas apostarem nele ou nao - ou pelo menos deveria ser assim).

O interessante nesse jogo eh que o valor das acoes serve pra predizer de certa forma o quao bem uma empresa estah indo: se as pessoas estao dispostas a apostar nela, eh provavelmente porque elas tem alguma informacao (ou palpite) de que ela estah indo bem. Se voce nao entende nada de negocios (computadores nao entendem, por exemplo), voce ainda ainda fazer boas compras e vendas no mercado de acoes observando como as outras pessoas estao se comportando. A sacada eh usar esses mercados pra agregar informacao. Eu nao sei nada sobre a Enron, mas se as pessoas estao vendendo suas acoes, coisa boa nao pode ser.

Outro exemplo de mercados que agregam informacao sao as apostas em esportes, como o jah defundo Tradesports. Eu por exemplo nao sei nada sobre futebol, mas posso fazer boas previsoes sabendo o que as pessoas estao apostando. Naturalmente, uma opniao nao eh muita coisa (todo brasileiro eh tecnico de futebol, eu sei), mas se as pessoas estao dispostas a colocar seu dinheiro lah, a coisa muda um pouco de figura.

Porque nao generalizar essa ideia e tentar agregar informacao sobre coisas mais gerais: Eu assisti duas palestras recentmenete sobre Prediction Markets e me interessei bastante, nao sei quanto tempo eu vou ter no futuro pra me dedicar a olhar isso com mais calma, mas eh algo q a longo prazo eu quero olhar com mais calma. Prediction markets funcionam como o mercado de acoes mas vc aposta em eventos. Eh ao mesmo tempo algo em que vc pretende:

(1) fazer dinheiro (claro!)
(2) agregar conhecimento e beliefs (se vc estah colocando seu dinheiro lah, vc vai estar muito mais interessado em acertar as probabilidades dos eventos). O objetivo eh capturar algo como Wisdom of the Crowds e tb em analisar a Wisdom of the Fools.

Em resumo, eh como um mercado de apostas em esportes (na verdade, essa eh a origem), mas vc pode comprar "shares" de todo tipo de eventos, como "Democrats win 2012 elections", or "Outbreak of flu in Asia", ... Mesmo nao havendo um individuo que saiba a verdade, se espera que o conhecimento nesses ambientes venha da iteracao entre os participantes. Estah tendo um buzz bem grande em torno disso na academia e estao surgindo tecnicas interessantes que talvez possam ser aplicadas no mercado de acoes (que nao deixa de ser uma forma de prediction market). Uma referencia inicial (que eu imprimi mas ainda nao comecei a ler) eh o "Computation in a Distributed Information Market" de Feigenbaum, Fortnow, Pennock, and Sami. Alguns exemplos de Prediction Markets na pratica sao o Intrade e Newsfuture.

Falando desses jogos online com um amigo, descobri a existencia de um tal de Swoopo. Eh um jogo do tipo leilao tambem. Esse menos interessante do ponto de vista teorico mas incrivelmente interessante do ponto de vista de marketing por duas razoes: (1) dah a impressao ao usuario de ser um grande negocio e eh na verdade uma grande furada (e eh nao trivial perceber isso no inicio) e (2) nao eh nada diferente de um jogo de VideoPoker, Roleta online, ... mas parece totalmente diferente disso. Parece que voce tah comprando coisas (de um modo meio arriscado) e nao apostando. Sacada muito boa mas uma completa furada. Achei interessante de toda forma.


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Em tempo: ontem eu descobri que o Bob Metcalfe, o criador do protocolo Ethernet e portanto, um dos pais da internet, ia dae uma palestra em Cornell. A palestra foi algo do tipo: "blue is the new green" onde ele discutia solucoes energeticas para o planeta e comparava os avancos no setor de energia aos avancos na internet. De acordo com ele, ainda nem ao menos chegamos no equivalente aos PCs no setor energetico. Ainda estamos no mainframes da decada de 80 (producao centralizada escoando energia para os consumidores). A palestra abordou varias coisas - mais filosoficas do que praticas - mas sintetizou algumas coisas que eu jah percebia a tempo - como um certo desagrado por coisas como o Greenpeace e outras formas de ambientalismo barato. Li a algum tempo um post otimo sobre isso, mas vou deixar esse assunto pra outro dia.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mais coisas romanticas

Sempre achei que faltava tambem um protocolo pra os namorados se comunicarem antes de serem propriamente namorados. Algo como fazer a pergunta "nos devemos namorar?" eh complicado. Em geral o namoro ocorre quando os dois respondem sim a essa pergunta. Entao eh como se duas pessoas, cada uma tivesse um bit (0=nao, 1=sim) e isso fosse uma maneira de computar o operador AND desses bits. Digamos que Alice tem um bit x que diz se ela quer namorar Bob e Bob tem um bit y dizendo se ele quer namorar Alice. Eles querem saber (x AND y), mas suponha: se y = 1, Bob nao quer revelar isso a menos que Alice diga x = 1. Se Alice tem x = 0, Bob preferia manter o bit dele em segredo. O ideal eh que eles os estados (0,0), (0,1) e (1,0) fiquem indistinguiveis caso a resposta seja 0.

Se nos tivermos uma autoridade confiavel (digamos, um amigo que os dois confiam) podemos simplesmente dizer nossos bits pra ele e ele nos responder Sim ou Nao. Ok, assim eh facil. Mas e se nao tiver essa pessoa central, como criar um protocolo pra que nos dois calculemos (x AND y) sem revelar nossos bits um para o outro?

A resposta estah no exemplo da secao 1.2 desse pdf.

terça-feira, 31 de março de 2009

Coisas romanticas

Antes de comecar qualquer coisa, o ideal eh revisar a literatura. Ler o que jah foi escrito sobre aquilo e como as pessoas antes de voce jah trataram. Eu semprei achei romance legal e tem uma extensa literatura poetica sobre o tema, alias, acho que foi o que mais pessoas jah escreveram sobre, tais como os in-adjetivaveis Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Luis de Camoes, ... Mas sempre senti falta de uma referencia mais formal (i.e., matematica) sobre o tema. Isso ateh bem pouco tempo. Eu estava vendo o seguinte video no YouTube



O video todo eh bem interessante, mas se vc quiser ir ao ponto sobre o qual eu estou falando, eh soh comecar a ver a partir do instante 4:50, onde o Steven Strogatz fala sobre uma experiencia dele se apaixonando na juventude e de como ele percebeu nisso uma relacao com campos lineares no plano. Lembrei logo do meu curso de EDO no IMPA. Ele publicou essa nota bem interessante sobre como usar o tema pra os alunos de graduacao terem uma maior intuicao sobre equacoes diferenciais lineares. Pra mais detalhes tiveram esses trabalhos mais aprofundados sobre o tema mais adiante:

Esse e esse.

O segundo um pouco mais complicado, necessitando saber um pouco de dinamica... Mas os dois bem ilustrativos e, digamos "iluminating". Resta saber quais sao minhas constantes.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Fotografia

Recentemente eu comecei a fazer o curso de "Photography I" em Cornell e estou me divertindo muito fazendo um curso de artes - principalmente porque é bem diferente do que eu faço a maior parte do tempo. Minha primeira surpresa foi que o curso ia ser com fotografia preto e branca e com máquinas de filme (!) Achei exótico, mas gostei muito da idéia. Me surpreendi com muitas coisas. Primeiro fiquei feliz com a minha nova (na verdade já bem antiga e usada, mas nova pra mim) Pentax K-1000 com lentes de 50mm (the photographer's eye). Tive que comprar rolos de filme, papel fotográfico, ... uma série de coisas, em resumo. Fazer esse curso tem me feito refletir um pouco sobre o papel da tecnologia na nossa vida.

A justificativa de começar assim e usar uma camera simples é aprender como todo o processo funciona e aprender os detalhes como ajustar shutter speed, aperture, comprar um filme com ISO certo, ajustar o contraste e a exposição na hora da impressão, ... que geralmente ficam bastante ocultos quando usamos, por exemplo, nossas cameras point-and-shoot digitais. Ajustar todos esses parametros manualmente, ao invés de usar algum programa embutido na câmera que ajuste melhora muito sua percepção de pra que cada uma daquelas coisas serve.



A impressao eh feita em um darkroom (no caso esse da foto ai em cima, tirada naturalmente quando as luzes estavam acesas no comeco do dia). Primeiro imprimimos uma test-strip, que basicamente eh uma impressao onde submetemos partes diferentes do negativo a diferentes exposicoes de luz e vemos o resultado num paper fotosensivel, como a seguinte test-strip:


A ideia eh selecionar uma exposicao que capture toda a faixa de tons: temos que ter pretos ricos e detalhes nas areas mais iluminadas. Em geral, selecionamos a faixa logo anterior aquele em que comecamos a perder detalhes. Dependendo do processo, pode-se fazer outros testes com diferentes exposicoes, ou mudar o contraste, ... - mas nesse caso (essa acima foi meu primeiro print), simplesmente escolhemos a melhor e imprimimos a final, que no caso foi:



A impressao eh um processo bem demorado: depois de expor o papel, ele passa 2 minutos no developer, 30 segundos em um stop bath, 2 minutos em um tal de Fixer A e mais 2 minutos em um Fixer B. Por fim, ainda tem 10 minutos da fase de wash. Eh um processo que leva voce a valorizar cada foto, e de fato, depois desse trabalho todo, voce passa a valorizar cada foto. De fato, existe um filme soh com 36 fotos - voce as tira com bem mais cuidado, ve os negativos, pega duas ou tres fotos boas dessas 36 e essas voce imprime. E imprimir demora um tempo consideravel.

Eh interessante pensar que a tecnologia desempenha um papel engracado. Quanto mais faceis as coisas ficam, menos damos valor a elas. Hoje ninguem fica tao feliz com uma ligacao telefonica quanto na epoca em que isso era raro e dificil. O mesmo com fotos. O fato de termos uma camera que nos deixa tirar um numero praticamente infinito de fotos faz com que simplesmente tiremos um numero muito grande do mesmo lugar e esperemos que, estatisticamente, uma esteja boa. Isso eh totalmente oposto a visao de que devemos procurar o ponto de vista certo, passar algum tempo analisando, e depois disparar aquela unica foto que deve ficar otima. Nao sei qual o melhor, de fato acho que nao ha um melhor, mas jeitos diferentes. De toda forma, acho interessante pensar como isso afeta nossas vidas.

Brincar com essa camera me deixou com saudades da minha infancia. Principalmente porque lembrei do cheiro do filme fotografico que usavamos nas nossas viagens quando eu e meu irmao eramos pequenos. Tudo que ha com nossas cameras comecou ali. Fiquei meio espantado como as nossas cameras de hoje ainda se parecem de certa forma com as cameras de antigamente e lembrei de uma entrevista que li a algum tempo com o cara que inventou o html. Ele se queixava que as pessoas usavam novas tecnologias para fazer as mesmas coisas. Que elas iam para a internet e esperavam encontrar coisas como nos livros, na televisao ou nos jornais - e que era muito lento o modo de usar novas midias para coisas totalmente novas. De fato, nao acho que a internet seja muito mais tao convencional assim (acho que era uma entrevista meio antiga), mas fiquei pensando nas cameras e me perguntando se realmente essas cameras de hoje sao modelos modernos das mais antigas e se realmente estao pensando em como usas a tecnologia hoje de forma inteiramente nova para a fotografia. Acho que devem estar fazendo isso sim, soh nao conheco ainda, mas digo mais se souber de algo.

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Em todo caso, coloquei algumas das minhas fotos do curso online e hoje fui ver "The Reader" que achei fantastico. Lembro que tivemos que ler esse livro na aula de alemao quando eu estava na escola. Acho na epoca nem cheguei a terminar o livro, mas vendo agora em ingles, e com bem mais maturidade (ok, talvez nem tanto), gostei muito. Fiquei feliz em descobrir tambem que o Google dah os horarios do cinema de Ithaca. Tem tambem pro Rio de Janeiro.

terça-feira, 17 de março de 2009

Dragon Day


Sexta feira passada foi o Dragon Day aqui em Cornell - acontece tradicionalmente no ultimo dia antes do Spring Break, onde os alunos do primeiro ano do curso de Arquitetura fazem um grande dragao e ao meio dia ha uma parada pelo campus. Existe uma certa rivalidade entre os alunos de arquitetura e os de engenharia civil, entao os engenheiros constroem uma phoenix para proteger o Engineering Quad da passagem do dragao nesse dia. Os dois sao essas fotos aih de cima.

Esse ano so teve um pequeno problema. Normalmente no fim da parada, os alunos do ultimo ano colocam fogo no dragao. Esse ano, por causa de alguma legislacao ambiental nova, eles nao puderam queimar. Nos outros anos tem fotos bem legais desse dragao enorme pegando fogo no meio do campus. Tomara que nos anos seguintes consigam alguma forma de queimar o dragao de uma forma legal.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Um post frívolo


Descobri um pouco sem querer que os sabores de "Orchard Peach" e "Chocolate Peanut Butter" são uma excelente combinação - enquanto um é bem doce, outro é bem azedo - ambos muito bons, no entanto, e um ajuda bastante a quebrar o sabor do outro. De fato, essa coisa de garantir diversidade no que você come ou faz é uma questão interessante. Sei, por exemplo, que as lojas de perfume mantém grãos de café para que as pessoas cheirem entre um perfume e outro. Desse modo elas não ficam influenciadas por um cheiro quando vão sentir o próximo. O café funciona bem com o perfume nesse sentido. Acho que as pessoas que degustam vinhos fazem algo semelhante, embora eu não saiba bem o quê. De fato, algo nesse sentido é necessário.

Outra coisa que isso me lembra são os meus tempos de IME+IMPA. Enquanto tinha várias coisas técnicas de engenharia para estudar pro IME, haviam várias outras coisas bem matemáticas e formais para o IMPA. E lembro que funcionavam muito bem juntas. Dessa forma eu não me cansava de nenhum dos modelos... Se eu pensava: quanta teoria, eu quero alguma aplicação... era só mudar e ir estudar pras matérias do IME e quando eu pensava: que coisas bagunçadas e pouco formais, eu quero algo mais bonito e fechadinho... eu ia estudar matemática.

Aliás, isso me lembra um pouco de uma conversa que eu estava tendo agora a pouco: quando você é da graduação, ou até do mestrado, vc lê quase que somente livros (a maioria já sobre teorias comprovadas e bem arrumadas) e todas as coisas fazem todo o sentido. No doutorado, grande parte das suas leituras são de papers que foram publicados nos últimos 5 anos. Você passa grande parte do tempo estudando sobre coisas que ainda estão por fazer e que ainda contém vários furos e coisas mal explicadas. No entanto ainda existem muitos resultados clássicos por serem aprendidos. Existem muitas teorias bonitas e fechadas por aí que não sabemos. Qual então é o balanço entre ficar lendo coisas clássicas e bons resultados e ficar lendo resultados novos e cheios de furos e coisas em aberto? Enquanto o primeiro te ensina técnicas e mostra casos bem sucedidos, os segundos te dão idéias de direções de pesquisa e coisas que podem ser feitas. As duas coisas são muito importantes. Mas quanto é necessário e suficiente de cada um? Eu ainda não tenho uma resposta pra essa pergunta, mas ando conversando com várias pessoas sobre isso e descobrindo que ninguém tem uma resposta clara para isso também.

Uma ultima observação gastronômica: às vezes duas coisas vão muito bem uma com a outra e às vezes uma coisa totalmente engole a outra e não deixa você perceber o sabor das demais (ketchup é o exemplo mais clássico disso). Como todas as coisas na vida isso não é bom ou mal - mas sim pode ser usado para o bem ou para o mal. Vivendo sozinho aqui em Ithaca, eu acabo me aventurando na cozinha de noite e tem uma técnica ótima para me virar caso as coisas não dêem muito certo: simplesmente tenho uma quantidade suficiente de queijo gorgonzola (ou outro queijo de sabor forte) na minha geladeira. No pior caso, meu jantar tem gosto de queijo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sopas Campbell

Eu já estou a algum tempo sem postar nada. De fato, têm sido bem corrido esse último mês: eu passei duas semanas fora de Ithaca e, voltando, descobri que eu era um dos "Visit Day Czars", ou seja, eu era da comissão que vai organizar a visita dos alunos admitidos pra Cornell - que vai ocorrer nesse fim de semana. Se você está se perguntando por que se chama czar, saiba que eu estou me perguntando a mesma coisa. Ok, eu sempre achei títulos de nobreza legais, inclusive sempre achei que algo como "visconde" ou "barão" ficaria muito bem antes do meu nome (depois de algum tempo eu abri mão desse sonho nobiliático e resolvi tentar ter "doutor" antes do meu nome). Mas imperador russo já é meio demais. Na verdade, se você olhar o artigo da Wikipedia sobre czar, você vai ver que um uso metafórico aqui nos EUA é para "posições de autoridade" - mas aqui no departamento de computação é meio diferente: definição de czar do Cornell CS. De fato, essa coisa de dar nomes pomposos e de autoridade me lembra muito o Reino do Preste João, onde todos os seus empregados eram condes e bispos, os seus copeiros eram todos barões, os ajudantes eram viscondes e arquimandritas, enquanto o rei conservava apenas o humilde título de preste (uma versão para padre). Eu sempre fui fascinado por essa lenda medieval em especial, e acho essa coisa dos títulos em relação a determinadas corporações modernas. Mas é claro que a coisa toda de czar é brincadeira e não cai bem nessa categoria. Mas acho que era uma ocasião legal de mencionar.

Bom, mas uma das nossas funções como czar é levar os alunos admitidos (prospective students ou prospies) para passear pelo campus. Dado que eu vou ter que fazer isso no domingo, achei legal fazer o tour oficial que acontece uma vez por dia. Fazer o "Campus Tour" para conhecer um pouco mais das histórias e do folclore da universidade já é algo que eu planejava fazer a muito tempo, mas estava sempre adiando. (Na verdade, tem uma lista enorme de coisas que eu queria fazer aqui no campus e ainda não fiz, mesmo estando aqui a mais de 6 meses. Eu ainda falo das outras mais tarde...). As histórias são bem interessantes e a maioria delas está nesse artigo. Mas uma eu achei particularmente interessante: aquela sobre as sopas Campbell.


Eu conhecia as sopas Campbell principalmente por esse quadro acima do Andy Warhol. Na verdade eu cheguei a comprar uma lata de sopa Campbell quando eu vim aqui pra os EUA, mas ela ainda está fechada no meu armário. Até hoje eu nunca cheguei em casa com vontade de abrir a lata. Como a validade desses enlatados é absurdos, acho que dá pra esperar tranquilamente pelo próximo cataclisma, quando vamos ter que ficar trancados em casa comendo comida enlatada e trabalhando na nossa tese de doutorado pra eu abrir a sopa.

Mas voltando ao assunto: aparentemente eles estavam procurando um padrão de cores para colocar na lata de sopa, e, determinaram que iam colocar as cores do vencedor de um jogo Cornell versus Princeton (acho que de futebol americano). Como vocês podem ver, Cornell ganhou o jogo.

Falando em cores, existe uma cor chamada carnelian - é a tonalidade de vermelho que Cornell usa. Ainda preciso de uma boa história pra explicar a conexão do nome da faculdade com a cor.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Pesos e medidas

Após um longo inverno sem posts (que na verdade foi por causa do meu quinhão de verão no Rio de Janeiro), conversemos sobre medidas. Uma das dificuldades de morar nos Estados Unidos é se acostumar com o sistema de medidas: Fahrenheit ao invés de Celsius, inches, ounces, miles, ... No início eu tive que usar busca binária pra determinar a temperatura certa do aquecimento do meu quarto (ok, talvez fosse mais fácil procurar no Google a conversão de Celsius pra Fahrenheit, e sim, talvez eu devesse saber isso da escola, mas busca binária converge rápido). Discutindo isso com meu colega de escritório, ele me apresentou uma razão bem interessante pra isso.

Inicialmente, usar o sistema métrico é bem mais natural: o zero Celsius é a temperatura em que a água congela e você precisa tirar os casacos mais pesados do armário, e o que diz o 0oF ? Um quilômetro são 1000 metros, mas por que uma milha são 5,280 pés e um pé são 12 polegadas? O sistema métrico é bem mais razoável e intuitivo.

Os padrões estranhos não param por aí: as maçanetas nas portas rodam pro lado contrário do resto do mundo, os interruptores acendem pro outro lado e os tamanhos de papel são diferentes (A4 não é uma proporção tão mais agradável que letter?). Acho que isso é um misto de adotar medidas britânicas, mas pervertê-las como uma forma de gerar um sentimento patriótico e de liberdade em relação aos antigos laços coloniais. Meus amigos indianos, que adotam também sistemas herdados dos britânicos sentem a diferença em relação ao que eles estavam acostumados.

Eu poderia terminar esse post de uma forma ranzinza me queixado sobre as unidades americanas, mas vou falar sobre Cuba Libre. Li uma reportagem na época que o Fidel deixou o poder pra seu irmão que os cubanos exilados em Miami estariam brindando com Cuba Libre aquele dia histórico e só naquele momento me toquei do significado do nome. Mas peraí? "Libre" de quem? Poderia ser várias coisas: livre dos americanos depois da revolução, livre dos comunistas depois da queda da URSS, livre da própria resolução depois do fim do Fidel ? Na verdade isso é ainda mais antigo: essa bebida, como diz o artigo da Wikipedia é da época da "Spanish-American War", na guerra dos americanos com os espanhóis pelo reconhecimento da independência de Cuba. Isso faz bastante sentido, dado que envolve Coca Cola.

Falando em Coca Cola e terminando com uma frase do Andy Warhol sobre a Coca-Cola / United States:

What's great about this country is that America started the tradition where the richest consumers buy essentially the same things as the poorest. You can be watching TV and see Coca Cola, and you know that the President drinks Coca Cola, Liz Taylor drinks Coca Cola, and just think, you can drink Coca Cola, too. A coke is a coke and no amount of money can get you a better coke than the one the bum on the corner is drinking. All the cokes are the same and all the cokes are good. Liz Taylor knows it, the President knows it, the bum knows it, and you know it

Não que eu seja um fã dos Estados Unidos, na verdade é fácil fazer várias críticas (assim como é fácil fazer vários elogios, principalmente às universidades e à pesquisa em ciência e tecnologia), mas sou um fã da globalização e dos seus efeitos. E de como o McDonalds pode ser uma instituição tão democrática, que serve da mesma forma na Champs-Élysée e num subúrbio do Rio. Um exemplo de por que eu gosto tanto da globalização é uma foto que tirei no meu banheiro no semestre passado: