quarta-feira, 18 de março de 2009

Fotografia

Recentemente eu comecei a fazer o curso de "Photography I" em Cornell e estou me divertindo muito fazendo um curso de artes - principalmente porque é bem diferente do que eu faço a maior parte do tempo. Minha primeira surpresa foi que o curso ia ser com fotografia preto e branca e com máquinas de filme (!) Achei exótico, mas gostei muito da idéia. Me surpreendi com muitas coisas. Primeiro fiquei feliz com a minha nova (na verdade já bem antiga e usada, mas nova pra mim) Pentax K-1000 com lentes de 50mm (the photographer's eye). Tive que comprar rolos de filme, papel fotográfico, ... uma série de coisas, em resumo. Fazer esse curso tem me feito refletir um pouco sobre o papel da tecnologia na nossa vida.

A justificativa de começar assim e usar uma camera simples é aprender como todo o processo funciona e aprender os detalhes como ajustar shutter speed, aperture, comprar um filme com ISO certo, ajustar o contraste e a exposição na hora da impressão, ... que geralmente ficam bastante ocultos quando usamos, por exemplo, nossas cameras point-and-shoot digitais. Ajustar todos esses parametros manualmente, ao invés de usar algum programa embutido na câmera que ajuste melhora muito sua percepção de pra que cada uma daquelas coisas serve.



A impressao eh feita em um darkroom (no caso esse da foto ai em cima, tirada naturalmente quando as luzes estavam acesas no comeco do dia). Primeiro imprimimos uma test-strip, que basicamente eh uma impressao onde submetemos partes diferentes do negativo a diferentes exposicoes de luz e vemos o resultado num paper fotosensivel, como a seguinte test-strip:


A ideia eh selecionar uma exposicao que capture toda a faixa de tons: temos que ter pretos ricos e detalhes nas areas mais iluminadas. Em geral, selecionamos a faixa logo anterior aquele em que comecamos a perder detalhes. Dependendo do processo, pode-se fazer outros testes com diferentes exposicoes, ou mudar o contraste, ... - mas nesse caso (essa acima foi meu primeiro print), simplesmente escolhemos a melhor e imprimimos a final, que no caso foi:



A impressao eh um processo bem demorado: depois de expor o papel, ele passa 2 minutos no developer, 30 segundos em um stop bath, 2 minutos em um tal de Fixer A e mais 2 minutos em um Fixer B. Por fim, ainda tem 10 minutos da fase de wash. Eh um processo que leva voce a valorizar cada foto, e de fato, depois desse trabalho todo, voce passa a valorizar cada foto. De fato, existe um filme soh com 36 fotos - voce as tira com bem mais cuidado, ve os negativos, pega duas ou tres fotos boas dessas 36 e essas voce imprime. E imprimir demora um tempo consideravel.

Eh interessante pensar que a tecnologia desempenha um papel engracado. Quanto mais faceis as coisas ficam, menos damos valor a elas. Hoje ninguem fica tao feliz com uma ligacao telefonica quanto na epoca em que isso era raro e dificil. O mesmo com fotos. O fato de termos uma camera que nos deixa tirar um numero praticamente infinito de fotos faz com que simplesmente tiremos um numero muito grande do mesmo lugar e esperemos que, estatisticamente, uma esteja boa. Isso eh totalmente oposto a visao de que devemos procurar o ponto de vista certo, passar algum tempo analisando, e depois disparar aquela unica foto que deve ficar otima. Nao sei qual o melhor, de fato acho que nao ha um melhor, mas jeitos diferentes. De toda forma, acho interessante pensar como isso afeta nossas vidas.

Brincar com essa camera me deixou com saudades da minha infancia. Principalmente porque lembrei do cheiro do filme fotografico que usavamos nas nossas viagens quando eu e meu irmao eramos pequenos. Tudo que ha com nossas cameras comecou ali. Fiquei meio espantado como as nossas cameras de hoje ainda se parecem de certa forma com as cameras de antigamente e lembrei de uma entrevista que li a algum tempo com o cara que inventou o html. Ele se queixava que as pessoas usavam novas tecnologias para fazer as mesmas coisas. Que elas iam para a internet e esperavam encontrar coisas como nos livros, na televisao ou nos jornais - e que era muito lento o modo de usar novas midias para coisas totalmente novas. De fato, nao acho que a internet seja muito mais tao convencional assim (acho que era uma entrevista meio antiga), mas fiquei pensando nas cameras e me perguntando se realmente essas cameras de hoje sao modelos modernos das mais antigas e se realmente estao pensando em como usas a tecnologia hoje de forma inteiramente nova para a fotografia. Acho que devem estar fazendo isso sim, soh nao conheco ainda, mas digo mais se souber de algo.

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Em todo caso, coloquei algumas das minhas fotos do curso online e hoje fui ver "The Reader" que achei fantastico. Lembro que tivemos que ler esse livro na aula de alemao quando eu estava na escola. Acho na epoca nem cheguei a terminar o livro, mas vendo agora em ingles, e com bem mais maturidade (ok, talvez nem tanto), gostei muito. Fiquei feliz em descobrir tambem que o Google dah os horarios do cinema de Ithaca. Tem tambem pro Rio de Janeiro.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu não lembro de ter lido esse livro na aula de alemão! será q foi no 3o ano, quando eu não tava mais no cruzeiro??

Essas aulas de fotografia parecem bem interessantes!! Não sei se eu teria paciência pra revelar as fotos no darkroom, mas é legal saber como é o processo. Por sinal, as suas fotos B&W ficaram bem criativas!

Abraço!